Por Ismênia Ribeiro Schneider
Pesquisa realizada em outubro de 2003 e atualizada em maio de 2011.
A P R E S E N T A Ç Ã O
Meu trabalho concentra-se na genealogia e história de famílias (e fazendas) da Região Serrana de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Pretendia, inicialmente, restringi-lo às famílias diretamente formadoras de minha estirpe, mas isso não foi possível, porque, à medida que as pesquisas avançavam, ia constatando o entrelaçamento contínuo (através de casamentos) existente entre todas as relativamente poucas famílias primitivas, o que exigia o estudo da maioria delas, para que se pudesse compreender a extensão e a complexidade (para o entendimento) dessas repetidas uniões matrimoniais.
Objetiva, pois, a minha pesquisa, registrar, o mais exaustivamente possível, a genealogia de alguns dos troncos mais primitivos que aportaram na Região Serrana, vindas de dois pólos principais: do Rio Grande do Sul, mormente da sua região do mesmo nome, separada da nossa apenas pelo rio do “Inferno”, depois chamado Pelotas, desde o início do séc. XVIII (mais ou menos a partir de 1720), e de São Paulo e Estados adjacentes através de famílias que aqui aportaram na mesma época de Correa Pinto (fundador de Lages), que, em 1766, com ele compartilharam a fundação da primeira povoação na região serrana, o que só acabou acontecendo em 20 de maio de 1771.
Citemos algumas dessas famílias pioneiras, principalmente as que se radicaram na a chamada Costa da Serra, hoje abrangendo os municípios de São Joaquim, Bom Jardim, Urubici, Bom Retiro, Painel, Urupema e outros: Souza, Ribeiro, da Silva Mattos, Velho, Amaral, Pinto de Arruda, Pereira de Medeiros, Caetano Machado, Vieira, Córdova, Saldanha, etc.
Na continuidade do processo de tais casamentos, mais tarde, já para o final do séc. XVIII, todo o XIX e começo do XX, a união com novas famílias que foram se domiciliando na Região, inclusive algumas européias, além das portuguesas, acabou por dar início a uma nova geração serrana, com perfil transformado, mas conservando as principais características da geração anterior, como a calma, a hospitalidade, o trato fidalgo,a personalidade forte, o destemor, etc. Algumas dessas novas famílias: Palma, Vieira do Amaral, Macedo, Machado, Paula Velho, Borges, Souza e Oliveira, Rodrigues Nunes, “Fermino” Nunes, Hugen, Bathke, Martorano, Fontanella, Ramos da Costa, Arruda Ramos, Pereira Machado, etc.
Este levantamento sobre algumas das “Primeiras-Damas de São Joaquim” me foi solicitado pela funcionária do Museu Histórico da cidade, Sra. Estela Dalva Hugen, com o fim de subsidiar as pesquisas que estavam sendo realizadas sobre todas as esposas dos seus até aquele momento vinte e seis prefeitos, a fim de que a comunidade joaquinense pudesse conhecer e prestar justa homenagem a essas mulheres desconhecidas que, à sombra de seus maridos, ajudaram a construir a história do Município .
Infelizmente não pude atender ao pedido de fotos das Primeiras-Damas em estudo, porque o meu “arquivo de fotografias” é ainda bastante restrito.
As mulheres enfocadas neste estudo são todas descendentes ou das famílias Souza e Ribeiro, ou da Palma, às vezes com os vários nomes das famílias formadoras dessas três.
Agradeço à D. Estela e à Comissão Organizadora do Evento, a oportunidade de contribuir, modestamente, para o resgate histórico de algumas das mulheres joaquinenses que foram homenageadas e relembradas junto com seus maridos em festividade no Clube Astréa de São Joaquim.
Florianópolis, outubro de 2003. Atualização em maio de 2011.
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ISMENIA BAPTISTA DE SOUZA
PRIMEIRA-DAMA NO PERÍODO 1891 – 1895:
Prefeito João da Silva Ribeiro Júnio
Pai: João Baptista de Souza (1800-1850) – INHOLO
Mãe: Maria Gonçalves do Espírito Santo ( ? -1882) – de Rio Pardo, RS
Esposo: João da Silva Ribeiro Júnior (1819-1894) – “Coronel João Ribeiro”
Nasc. de Ismênia: Fazenda “São João de Pelotas”, São Joaquim, dia 03.11.1831
Casamento: Lages, 17.05.1845
Falecimento: Lages,01.09.1912.
ISMENIA era prima-irmã do marido: seu pai, Inholo, era irmão de Maria Benta de Souza, mãe do Coronel João Ribeiro. Nasceu e viveu sempre, até alguns anos antes de morrer, na Fazenda “São João de Pelotas”, mas tanto o pai, como o marido, possuíam casa em Lages, para onde a família se deslocava nas datas festivas.
Casou-se aos 14 anos, teve o pai assassinado aos 19, aos 62 ficou doente das faculdades mentais, faleceu aos 81. Teve 10 filhos e foi, sem dúvida, uma das mais ricas proprietária de terras do município de Lages que, na época, abrangiam também os atuais municípios que formam a Associação Serrana dos Municípios (AMURES): nada menos que quatrocentos e cinqüenta milhões de metros quadrados, desde terras de cultivo em São José do Cerrito e em Três Barras , em Imaruí, até as de criação de gado, como as do “ Pinheirinho” e “Santana”em Lages, e as de São Joaquim: “Varginha” (entre Cruzeiro e Bom Jardim), “Posto” e a maior de todas, domicílio da família, “São João de Pelotas”, que ia da região do Arvoredo, iniciando, segundo a tradição, no “Morro do Vento”, até a barra dos rios Lavatudo e Pelotas. Isso significa que essa fazenda abrangia a maior parte das terras do atual “Distrito de São João de Pelotas”.
Ismênia teve sua herança nessa propriedade, que na sua época de menina e adolescente pertencia a seu pai, Inholo e se chamava Fazenda “São João. Com o tempo, João Ribeiro foi comprando dos demais herdeiros todas as terras, de modo que já em 1858 pôde construir uma nova sede, toda em basalto, menos a casa, construída de tijolos, às taipas ciclópicas que ainda hoje, 153 anos depois, em belíssimas ruínas, atestam a opulência do que foi essa propriedade. As taipas mediam cerca de 1,75m de altura por 1m de espessura.
Ismênia e seus três irmãos, Maria Benta, Marcos e Maria Magdalena eram filhos de pais amasiados, o que, em época de muito preconceito, deve ter causado grandes problemas para a família na educação dos jovens. Mais ou menos em 1838 separou-se o casal, tendo Inholo reconhecido oficialmente os filhos e os conservado em sua companhia, na Fazenda “São João” . Em 1840, casa-se com a viúva Cândida dos Prazeres Córdova, com quem teve uma filha, Júlia. A madrasta morre prematuramente em 1845, ficando Inholo com os cinco filhos. É o ano do casamento de Ismênia. Em 1850, quando tinha apenas 19 anos, mas já com quatro anos de casada, o pai é assassinado por escravos da própria fazenda, tendo a cabeça esmigalhada com o olho de um machado. Seu marido é nomeado, pelo juiz de órfãos, curador dos irmãos menores, Marcos de 15 anos e Maria Magdalena de 17. A irmã mais velha, Maria , 21 anos, também já estava casada com José Lins de Córdova.
Ismênia era neta paterna de Matheus José de Souza e de Clara Maria de Athayde, ele um contemporâneo de Correa Pinto na fundação de Lages em 1771, onde haviam chegado, porém, em 1766. Açoriano da Ilha Terceira, aportou no Brasil no Rio de Janeiro, onde casou e teve quatro filhos, vindo para o sul após a morte da mulher com os dois filhos homens. Comprou a “Fazenda do Socorro” e outras propriedades na região de Bom Jardim. Foi vereador, juiz ordinário e pecuarista na comarca de Lages, sempre labutando na Política, com vistas ao desenvolvimento de sua terra de adoção. Teve de seu casamento com Clara Maria de Athayde, lageana, sete filhos, que deram origem a importantes famílias serranas:
1 – Balduína Maria de Souza(1787 ou 1788-1850), c.c.Antônio Lins de Córdova;
2- Maria Benta de Souza(1790- 1857), c.c. João da Silva Ribeiro “Sênior”;
3- Matheus José de Souza Júnior (1792- 1873), c.c.Ana Maria do Amaral;
4- Manoel Rodrigues de Souza ( 1796 -1868), c.c. Anna Maria de Lima;
5 – João Baptista de Souza, INHOLO, (1800- 1850) casado maritalmente com Maria Gonçalves do Espírito Santos, e em 1840 com Cândida dos Prazeres Córdova;
6 –Maria Magdalena de Souza (1803 - ?), c.c.Joaquim Antunes de Oliveira;
7 – Francisco José de Souza (1807 – 1884) c.c. Anna Maria de Saldanha.
João Ribeiro (Junior), bem jovem, inicia uma prestigiosa carreira política. Em 1º de abril de 1873, é o presidente do Conselho Fiscal do grupo de fazendeiros que, liderados por Manoel Joaquim Pinto, funda a Freguesia de São Joaquim da Costa da Serra, emancipada de Lages em 5 de maio de 1886. Sob sua orientação e apoio, o cunhado e tutelado, Marcos Baptista de Souza, torna-se também um dos chefes do Partido Republicano na região, sendo escolhido Secretário dos trabalhos de fundação e instalação da nova freguesia. João Ribeiro tem 54 anos, Marcos, 40. Este, casado com Maria Rodrigues de Andrade, gaúcha, com ela tem sete filhos, entre os quais uma filha, Cândida dos Prazeres Batista de Souza, que vem a se casar com um dos dez filhos de João/Ismênia, primo-irmão, João Baptista Ribeiro de Souza, pais de Enedino Batista Ribeiro,um dos primeiros genealogistas e historiadores da Região Serrana, c.c. Lydia Palma Ribeiro, pais desta pesquisadora. Marcos viria a se tornar, igualmente, um grande pecuarista, dono da “Fazenda São Pedro”, no Arvoredo, São Joaquim, e “Santa Maria”, em Bom Jesus ,RS, residência da família.
Na campanha senatorial de 1886, João Ribeiro, um dos três candidatos por Santa Catarina, perde, por cento e vinte e três votos, para o Visconde de Tauney, escritor conhecido nacionalmente.
Uma verdadeira senhora de fazenda, Ismênia dirige com determinação e eficiência a educação dos filhos e o bom andamento de todas as propriedades da família, coordenando os escravos e peões com mão firme, participando da vida política do marido, recebendo nas fazendas e em suas casas de Lages e São Joaquim os amigos, parentes e correligionários. Aos 62 anos, em 1883, adoece das faculdades mentais, ocasionando grande sofrimento e transtorno à vida familiar e à direção da vida econômica e política do marido.
Em 1891, João Ribeiro é eleito segundo prefeito de São Joaquim. Porém, enfermo e acabrunhado com a doença da companheira de toda a vida, não termina o seu mandato. Morre na “Fazenda do Limoeiro”, na Coxilha Rica, de propriedade de seu genro, Moysés da Silva Furtado, no dia 10 de maio de 1894, aos 78 anos.
Depois de muitos sacrifícios para cuidar da mãe, transportada a cada dois meses da casa de um filho para a de outro, decidem estes estabelecê-la em sua residência de Lages, onde continuam a se revezar para atendê-la. Esse périplo dura vinte e oito anos, terminando em 1º de setembro de 1912, com a sua morte.
A tradição política da estirpe, porém, não morre com ela; permanece nas gerações seguintes, formando homens líderes em suas comunidades e mulheres fortes, talhadas para companheiras de homens desse jaez. Alguns exemplos:
- a filha, BELISÁRIA RIBEIRO DO ESPIRITO SANTO, casada com Cezário Joaquim do Amarante, torna-se a quarta Primeira-Dama de São Joaquim, pelo espaço de vinte e oito anos, de 1898 a 1926;
- o neto, BOANERGES PEREIRA DE MEDEIROS, filho de sua filha Ignês Batista Ribeiro, torna-se o quinto Prefeito de São Joaquim, no período 1926 a 1930;
- o trineto, DÉCIO RIBEIRO, torna-se Prefeito de Lages na gestão de 1997 a 2000;
Mesmo quando não exercem cargos eletivos, os descendentes de JOÃO e ISMENIA continuam a tradição de liderança, honra e espírito comunitário de seus maiores.
FILHOS DE JOÃO RIBEIRO E ISMÊNIA:
- EMÍLIA BATISTA RIBEIRO
c.c. Moysés da Silva Furtado
- IGNÊS BATISTA RIBEIRO
c.c. 1º : Francisco Pereira de Medeiros
2º : Inácio Sutil de Oliveira
- JÚLIA BATISTA RIBEIRO
c.c. Luiz José de Oliveira Ramos Júnior
- AFFONSO DA SILVA RIBEIRO
c.c Maria Umbelina Ribeiro Branco
- MARIA BENTA RIBEIRO
c.c. Fermino José Trindade Branco( irmão de Maria Umbelina)
- ANA MARIA BATISTA RIBEIRO
c.c. 1º : ?
2º :Manoel Inácio Velho
- JOÃO BAPTISTA RIBEIRO DE SOUZA
c.c. Cândida dos Prazeres Batista de Souza
- MARIA DOS PRAZERES RIBEIRO
c.c. João Batista de Souza Neto
- BELIZÁRIA RIBEIRO DO ESPIRITO SANTO
c.c. Cesário Joaquim do Amarante
- CECÍLIA BATISTA RIBEIRO
c.c. Vicente Antônio de Moraes
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