Ismênia Ribeiro Schneider
Cristiane Budde
Quando se examina um inventário do século XIX, observa-se que a moeda utilizada naquele tempo era bastante diferente da que as pessoas estão acostumadas a ver hoje. A maneira de escrever o montante de bens também é distinta, e não é fácil compreender qual seria o valor aproximado dele na atualidade. Muitas vezes, nem se sabe identificar qual é a moeda utilizada na época e nem como deve ser lida a sua notação numérica.
Esta
matéria versará sobre a moeda “réis”, que é a que consta no inventário de
diversas figuras importantes da Comarca de Lages, como Cel. João Ribeiro,
Antonio da Silva Mattos (Tonico das Palmas), João Baptista de Souza (Inholo),
entre tantos outros.
O
nome “Réis” (Rs ou $) é derivado do “Real”, “moeda portuguesa dos séculos XI e
XVI, época do descobrimento do Brasil” (BCB, 2007). Sua utilização no Brasil
ocorreu desde o período da Colonização (início do séc. XVI) até 30 de outubro
de 1942, quando foi substituída pelo Cruzeiro (Cr$) (BCB, 2007).
Exemplo de sua notação numérica e leitura
(BCB, 2007):
Rs0$500
= $500 = Quinhentos réis
Rs12$100
= 12$100 = Doze mil e cem réis
Rs1:000$000
= 1:000$000 = um conto de réis = um milhão de réis
Rs1.020.100.800:120$230
= um bilhão, vinte milhões, cem mil e oitocentos contos, cento e vinte mil e
duzentos e trinta réis
|
É difícil quantificar o quanto valeria a moeda
“Réis” se comparada com o “Real” atualmente. Não foram encontradas muitas
referências e explicações de como poderia ser calculada a conversão (réis para
reais). Tal fato pode estar relacionado às diversas mudanças na moeda que
ocorreram ao longo dos anos no país, e também à dificuldade de cálculo
referente à inflação, por exemplo.
Para
se ter uma ideia, buscou-se comparar a moeda com o preço do ouro. Assim, de
acordo com a Lei n. 59, de 8 de outubro de 1833:
“A
Regencia Permanente, em Nome do Imperador o Senhor D. Pedro II, Faz saber a
todos os subditos do imperio que a Assembléa Geral decretou, e Ella sanccionou
a lei seguinte:
Art. 1º
Na receita e despeza das estações publicas entrarão o ouro e a prata em barras,
ou em moedas nacionaes ou estrangeiras, a dous mil e quinhentos réis por
oitava de ouro de vinte e dous quilates.”[i]
Uma oitava de ouro corresponde a 3,5859
gramas[ii].
De acordo com a Lei n. 9, de 1833, essa quantia de ouro custava 2$500.
Apenas para ter uma ideia, em 04/07/2017,
essa quantia de ouro vale R$ 462,58, segundo a cotação do site da
BOVESPA (considerando o preço médio de R$129,00/gr).
Assim, um quilo (1 kg) de ouro valeria aproximadamente
697$175 (réis).
Atualmente, um quilo de ouro vale por
volta de RS 128.999,69 (reais).
Um conto de réis (1:000$000),
corresponderia a cerca de 1,44 kg de ouro. E, hoje, essa
quantidade de ouro vale cerca de R$ 185.759,55.
Para ficar mais claro:
Em 1833:
3,5859 gramas de ouro = 2$500 (réis)
Atualmente (04/07/2017):
3,5859 gramas de ouro = R$ 462,58 (reais)
|
Em 1833:
1 Kg de ouro
= 697$175 (réis)
Atualmente (04/07/2017):
1 Kg de ouro
= R$ 128.999,69 (reais)
|
Em 1833:
Um
conto de réis = 1,44 Kg de ouro
(1:000$000)
Atualmente (04/07/2017):
R$ 185.759,55 =
1,44 Kg de ouro
(reais)
|
Segundo o historiador do
Museu Judiciário Catarinense, Gilberto Machado, quem possuísse “dez contos de
réis” já era abastado. Milionário era aquele que detivesse bens no valor de
“cem contos de réis”.
Vejamos o que valiam alguns
bens no inventário de João Baptista de Souza (Inholo), de 1850:
Bens
|
Valor em réis
|
Estimativa do valor em reais
utilizando a comparação do valor do ouro
|
Partes da Fazenda “Pelotinhas”
|
650$000 – seiscentos e cinquenta mil réis
|
R$ 120.270,81
|
Toda a Fazenda da “Cria”
|
2:108$000 – dois contos, cento e oito mil réis
|
R$ 390.047,47
|
A casa na vila de Lages
|
200$000 – duzentos mil réis
|
R$ 37.006,40
|
Escrava Benedita, 30 anos
|
500$000 – quinhentos mil réis
|
R$ 92.516,00
|
Vale a pena notar a valorização dos escravos. Só a
escrava Benedita, de João Baptista de Souza, valia quinhentos mil-réis, ou
seja, mais que a casa na Vila de Lages.
Com base nos valores apresentados (em comparação com
o ouro), pode-se observar algumas das maiores fortunas da Comarca de Lages no
Século XIX:
Inventariado
|
Ano da morte
|
Cônjuge
|
Montante de bens
|
1 – João da Silva Ribeiro Júnior (Cel João
Ribeiro)
|
1894
|
Ismênia Baptista de Souza
|
406:016$370 + 400$000 do processo de
sobrepartilha
(em torno de R$75.200.033,77, considerando o
cálculo do valor do ouro)
|
2 – Ismênia Pereira Machado (Ismênia Palma)
|
1934
(séc. XX)
|
Inácio da Silva Mattos (Inácio Palma)
|
333:921$000
|
3 – Júlia Baptista de Souza e Oliveira
|
1883
|
Vidal José de Oliveira Ramos
|
286:111$500
|
4 – Manoel Ribeiro da Silva Filho (Ribeirinho)
|
1886
|
Leucádia Damasceno de Córdova
|
278:885$280
|
5 – Anna Maria de Lima
|
1865
|
Manoel Rodrigues de Souza
|
230:357$323
|
6 – Antonio José Pereira Branco Sobrinho
|
1861
|
Umbelina de Oliveira Trindade
|
165:414$232
|
7 – Joaquim José Ribeiro do Amaral
|
1861
|
130:881$625
|
|
8 – Anna Maria de Andrade
|
1880
|
Manoel José Pereira de Andrade
|
130:217$505
|
9 – Antonio da Silva Mattos (Tonico das Palmas)
|
1912
(séc. XX)
|
1ª esposa: Maria Palhano de Jesus (Mariazinha)
|
123:930$000
|
10 – Elizeo José Ribeiro do Amaral (assassinado)
|
1885
|
Clara Maria de Jesus
|
117:391$800
|
11 – Amelia Fermina de Jesus Borges
|
1883
|
Francisco Borges do Amaral e Castro
|
104:682$028
|
12 – Maria de Souza Teixeira
|
1876
|
José Domingues Arruda
|
99:586$020
|
13 – José Manoel de Oliveira Branco
|
1887
|
Maria José de Oliveira Trindade
|
98:095$818
|
14 – Antonio Pereira da Cunha e Cruz
|
Joaquina Maria da Maia
|
93:819$208
(cerca de R$17.359.556,42)
|
Moeda de 960 réis, 1833. (Fonte: http://www.coinfactswiki.com/wiki/Brazil_1833-R_960_reis) |
Referências
BCB, Banco Central do Brasil. Síntese dos padrões monetários brasileiros. Museu dos Valores do
Branco Central Brasileiro. Brasília (DF), Maio de 2007. Disponível em: http://www.bcb.gov.br/htms/museu-espacos/SintesePadroesMonetariosBrasileiros.pdf.
Acesso em 30/06/2017.
BOVESPA. Cotação do ouro em 04/07/2017, às 12h. Site: http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/produtos/listados-a-vista-e-derivativos/commodities/cotacoes-de-ouro.htm.
Inventários do Museu do Judiciário Catarinense, em
Florianópolis.
[i]
Senado Federal. Lei n. 59 - de 8 de outubro de
1833. Secretaria de Informação Legislativa. Disponível em: http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=67307. Aceso em: 04/07/2017.
[ii] Systema Monetário do Brazil. In: O Império do Brazil na Exposição Universal de 1876 na Philadélphia. Rio
de Janeiro: Typographia Nacional, 1875. Disponível em: http://acervo.redememoria.bn.br/redeMemoria/handle/123456789/220265. Acesso em 04/07/2017.
Nenhum comentário:
Postar um comentário