Dedicamos
esta matéria a um personagem importante do planalto serrano, que teve relevante
papel para a região, em especial no que diz respeito à Educação.
Adolfo José Martins
foi professor, fundador e editor, em 1906, da Gazeta Joaquinense, pecuarista e
também teve sua participação na política como deputado
estadual (1935-1936) e vereador por São Joaquim. Era um grande amigo de Tito Carvalho,
notável jornalista e escritor.
Para descrever um pouco
sobre a sua vida e suas realizações, apresentamos aqui a sua autobiografia
(enviada pelo descendente Henrique Brognoli Martins, a quem agradecemos).
Autobiografia
de Adolfo José Martins
Filho do modesto casal
– Sr. Gustavo José Martins, operário construtor, e D. Saturnina Maria Martins –
nasceu Adolfo José Martins a 13 de agosto de 1885, na bela e florescente cidade
de Lages, onde fez, com grande aplicação e aproveitamento, o curso secundário,
no extinto “Colégio S. José”, dirigido pelos reverendos Padres Franciscanos, e
que gozou da equiparação ao Ginásio Nacional.
Sem as necessárias
possibilidades para ingressar em escola superior, ideal que acariciava, abraçou
Adolfo Martins o magistério, transportando-se, aos 18 anos, para a então vila
de São Joaquim, onde fundou, em 1904, o pequeno “Colégio 2 de Maio”, que,
movido com muito esforço e rara dedicação, manteve-se durante cinco anos,
admitindo a colaboração de mais professores. Dos valiosos benefícios prestados
à juventude joaquinense pelo modelar educandário, que o diga a pública opinião
daquele rico e futuroso município.
Em 1906 fundou Adolfo
Martins, em São Joaquim, hebdomadário “Gazeta Joaquinense”, que se fez acérrimo
defensor dos interesses do altivo torrão serrano. Diante das insuperáveis
dificuldades para a manutenção de um jornal, naquela época, o bem feito
semanário teve a curta duração de 3 anos.
Atendendo a um convite
que lhe dirigira o Prefeito Municipal de Tubarão, Cel. João Cabral de Melo, o
prof. Adolfo Martins, visando mais vasto campo para as suas atividades,
transferiu-se para aquela cidade, onde abriu, com imediata e numerosa
matrícula, o pequeno estabelecimento de ensino denominado “Guia do Futuro”,
mantendo ainda um curso noturno para moços, tudo, porém, com a rápida duração
de um ano. Com a saúde um tanto abalada e sentindo falta do magnífico e
invejável clima serrano, resolve Adolfo Martins deixar a Cidade Azul (Tubarão),
voltando ao seu querido planalto joaquinense, ficando no povoado Bom Jardim,
então em formação. Geral e grandemente amparado pela respectiva população,
fundou aí pequeno internato colegial, que mereceu numerosa frequência,
inclusive de jovens gaúchos, do vizinho município de Vacaria. Teve a proveitosa
duração de seis anos.
Em 1909, o prof. Adolfo
Martins contraiu casamento com a Srta. Dolores Ribeiro, filha do estimado
fazendeiro, Sr. Manoel Cecilio Ribeiro e D. Rosalina de Oliveira Ribeiro.
Da feliz união, houve
os seguintes filhos:
Tulio Ribeiro Martins,
falecido aos 3 anos de idade.
Dr. José Moacir Ribeiro
Martins, médico, falecido a 25 de janeiro de 1955;
Ceniro Ribeiro Martins,
industrialista, casado com D. Anita Rodrigues Martins;
Maria de Lourdes
Martins, casada com o dr. Nilo Sbruzzi, cirurgião dentista;
Odacira Ribeiro
Martins, casada com o dr. Dimas Antunes de Oliveira, agrônomo;
Dr. Hélio Ribeiro
Martins, químico industrial, casado com d. Maria Lília Martins;
Dr. Manoel Cecilio
Ribeiro Martins, engenheiro civil, casado com Maria do Carmo Martins;
Doraci Ribeiro Martins,
casada com o sr. Armando Gualberto Guédes, comerciário; e
Celso Ribeiro Martins,
comerciante, casado com d. Odete Martorano Martins.
Em 1917 passou o prof.
Adolfo Martins a empregar suas atividades na indústria pastoril, fixando
residência na histórica fazenda “N. S. do Socorro”, ampliando-a e
desenvolvendo-a com muita felicidade.
Em 1928 foi triste e
profundamente golpeado com o prematuro e inesperado falecimento, em
Florianópolis, de sua estremecida esposa, D. Dolores Ribeiro Martins, ficando o
enlutado lar com oito menores no desamparo materno.
Quatro anos mais tarde,
contraiu segundas núpcias com a Srta. Isabel Nunes, professora normalista e
filha do conceituado casal, sr. Luiz Teixeira Nunes e Snra. D. Minervina
Mendonça Nunes, havendo mais os seguintes filhos:
Dolores Nunes Martins,
casada com o dr. Wolny Della Rocca, químico industrial;
Isabel Nunes Martins,
casada com o sr. José Wilson Muniz, industrialista;
Adolfo Luiz Nunes
Martins, técnico em contabilidade, casado com d. Maria Selma Varela Martins;
Neide Nunes Martins,
técnica em contabilidade e casada com o dr. Claudio Ramos Floriani, diplomado
em ciências contábeis;
Salvio Nunes Martins,
Odete Nunes Martins e Rogério Nunes Martins, estudantes ginasianos [na época em
que Adolfo escreveu sua autobiografia, ver notas abaixo].
Além de seus exaustivos
e nobres trabalhos profissionais, o prof. Adolfo Martins prestou relevantes
serviços públicos, exercendo os seguintes cargos:
Em 1918, com apreciável
votação, eleito o conselheiro municipal.
Em 1934 foi nomeado
intendente de Bom Jardim, 2º Distrito do município, encargo que deixou para
candidatar-se a deputado estadual, o que alcançou. Mas, sua permanência no
Legislativo do Estado foi de curta duração, devido ao golpe ditatorial de 10 de
novembro de 1937, dissolvendo o Legislativo Nacional.
Em 1947 foi eleito
vereador pelo Partido Social Democrático, obtendo o primeiro lugar em votação.
Novamente candidato a
deputado estadual, em 1950, alcançou honrosa votação em seu município, então de
pequeno eleitorado. Prevista como certa e vitoriosa a sua eleição, não o
conseguiu, entretanto, faltando-lhe cento e poucos votos, consequência dos
seguintes motivos: a nulidade de uma urna de 240 eleitores – Santa Isabel (S.
Joaquim) – e a comprovada deslealdade de correligionários seus, por ocasião da
apuração, em Lages, desviando para outro candidato a maioria da expressiva
votação que ali merecera de seus conterrâneos e parentes lageanos. Testemunhas
de tão desleal ato, afirmam que o mesmo fora praticado – diante da antevista
certeza votação suficiente, em S. Joaquim, ao candidato Adolfo Martins.
Prejudicada, entretanto, foi a comuna joaquinenese, cujo escolhido
representante foi injustamente afastado para a suplência, onde classificou-se
em segundo lugar.
Sempre movido da melhor
boa vontade e incansável operosidade, o prof. Adolfo Martins muito fez em prol
da ereção da hoje florescente vila de Bom jardim, pitorescamente situada nas
proximidades da soberba Serra Geral. Com elevado alcance e dedicação, dirigiu a
construção, de material sólido, da confortável igreja matriz, sob a invocação
de N. S. do Socorro, promovendo com carinhoso cuidado o revestimento do mesmo
templo.
Valiosamente amparado
pela esforçada comissão fundadora, constituída pelos fazendeiros Sres. Prudente
Luiz Vieira, Antão de Paula Velho, José Caetano do Amaral, Manoel Cecilio
Ribeiro, Ranier Cassetari, Emilio Benevenuto Ribeiro, Manoel Ignacio Esteves,
João Francisco Rodrigues, Joaquim Ezirio, Vitorino Rodrigues Machado, Taurino Gonçalves
Padilha e outros – o Sr. Adolfo Martins dedicou-se com acendrado patriotismo,
na formação e organiza do “Clube Recreativo Bonjardinense”, sociedade já
instalada em confortável edifício próprio e quem em 30 de abril de 1960,
comemorará o cinquentenário de próspera e proveitosa existência.
Dentre os muitos e
valorosos serviços que o prof. Adolfo Martins prestou ao seu querido torrão
adotivo, cumpre salientar o seguinte de relevante importância: quando se
procedia a medição e divisão judicial da grande fazenda “Pelotas”, que abrangia
a novel povoação, pleiteou com desdobrado empenho, conseguindo, dos respectivos
condôminos, a doação de um milhão de metros quadrados de excelente e apropriado
terreno, para patrimônio da vila de Bom Jardim, o que, como é natural, muito
tem contribuído para o seu desenvolvimento.
Politicamente falando,
Adolfo Martins, sem outro interesse a não o bem estar do seu município, ocupou
sempre destacada posição em seu partido, o Social Democrático, cuja presidência
deixou ao transferir-se para Lages.
Católico praticante,
desde sua juventude, o prof. Adolfo Martins, sempre com dedicação e amor,
colaborou seguidamente em associações beneficentes-religiosas, como sejam:
Congrega Mariana, Apostolado da Oração, Fraternidade Vicentina, Ordem IIIª de
S. Francisco, Irmandade do SS. Sacramento.
É membro da benemérita
associação “Beneficência dos Professores de Santa Catarina”.
Já com idade avançada e
com a saúde um tanto abalada, resolveu, em 1953, arrendar a fazenda N. S. do
Socorro, de propriedade da família, passando a residir em sua querida cidade de
São Joaquim, onde sempre desfrutou vasto circo de sólidas amizades.
Por motivos familiares,
transferiu-se, em 1955, para sua cidade natal – a Princesa da Serra – onde, em
doce convívio com seus conterrâneos, promove a instrução dos últimos de sua
numerosa prole.
Dezembro de
1959.
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Notas:
*Salvio
Nunes Martins casou-se com Nara Ramos (Martins)[i].
**Odete
Nunes Martins (Zanatto) casou-se com Rani Zanatto.
Em
07/10/1963 foi inaugurada em Bom Jardim da Serra, a Escola Básica Adolfo José
Martins, com a presença do homenageado.
Adolfo
José Martins faleceu em 23/10/1968.
Adolfo José Martins. |
Adolfo
José Martins.
|
Filhos de Adolfo José Martins e Dolores Ribeiro. |
Filhos de Adolfo José Martins e Isabel Nunes (Dona Belinha). |
Referências
Autobiografia
de Adolfo José Martins, fornecida pela
descendente Henrique Brognoli Martins.
Fotos da Família, fornecidas por Henrique Brognoli Martins.
[i]
Notícia sobre o falecimento de Adolfo José Martins. 1968 (fornecida por
Henrique Brognoli Martins, descendente de Adolfo).
Muito valioso conhecer a história do meu tataravô.
ResponderExcluirCom certeza, fico emocionada de ver tamanho exemplo de quem realmente quer o melhor aos seus e ao redor.
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