quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Adolfo José Martins

Dedicamos esta matéria a um personagem importante do planalto serrano, que teve relevante papel para a região, em especial no que diz respeito à Educação.
Adolfo José Martins foi professor, fundador e editor, em 1906, da Gazeta Joaquinense, pecuarista e também teve sua participação na política como deputado estadual (1935-1936) e vereador por São Joaquim. Era um grande amigo de Tito Carvalho, notável jornalista e escritor.
Para descrever um pouco sobre a sua vida e suas realizações, apresentamos aqui a sua autobiografia (enviada pelo descendente Henrique Brognoli Martins, a quem agradecemos).

Autobiografia de Adolfo José Martins

Filho do modesto casal – Sr. Gustavo José Martins, operário construtor, e D. Saturnina Maria Martins – nasceu Adolfo José Martins a 13 de agosto de 1885, na bela e florescente cidade de Lages, onde fez, com grande aplicação e aproveitamento, o curso secundário, no extinto “Colégio S. José”, dirigido pelos reverendos Padres Franciscanos, e que gozou da equiparação ao Ginásio Nacional.
Sem as necessárias possibilidades para ingressar em escola superior, ideal que acariciava, abraçou Adolfo Martins o magistério, transportando-se, aos 18 anos, para a então vila de São Joaquim, onde fundou, em 1904, o pequeno “Colégio 2 de Maio”, que, movido com muito esforço e rara dedicação, manteve-se durante cinco anos, admitindo a colaboração de mais professores. Dos valiosos benefícios prestados à juventude joaquinense pelo modelar educandário, que o diga a pública opinião daquele rico e futuroso município.
Em 1906 fundou Adolfo Martins, em São Joaquim, hebdomadário “Gazeta Joaquinense”, que se fez acérrimo defensor dos interesses do altivo torrão serrano. Diante das insuperáveis dificuldades para a manutenção de um jornal, naquela época, o bem feito semanário teve a curta duração de 3 anos.
Atendendo a um convite que lhe dirigira o Prefeito Municipal de Tubarão, Cel. João Cabral de Melo, o prof. Adolfo Martins, visando mais vasto campo para as suas atividades, transferiu-se para aquela cidade, onde abriu, com imediata e numerosa matrícula, o pequeno estabelecimento de ensino denominado “Guia do Futuro”, mantendo ainda um curso noturno para moços, tudo, porém, com a rápida duração de um ano. Com a saúde um tanto abalada e sentindo falta do magnífico e invejável clima serrano, resolve Adolfo Martins deixar a Cidade Azul (Tubarão), voltando ao seu querido planalto joaquinense, ficando no povoado Bom Jardim, então em formação. Geral e grandemente amparado pela respectiva população, fundou aí pequeno internato colegial, que mereceu numerosa frequência, inclusive de jovens gaúchos, do vizinho município de Vacaria. Teve a proveitosa duração de seis anos.
Em 1909, o prof. Adolfo Martins contraiu casamento com a Srta. Dolores Ribeiro, filha do estimado fazendeiro, Sr. Manoel Cecilio Ribeiro e D. Rosalina de Oliveira Ribeiro.
Da feliz união, houve os seguintes filhos:
Tulio Ribeiro Martins, falecido aos 3 anos de idade.
Dr. José Moacir Ribeiro Martins, médico, falecido a 25 de janeiro de 1955;
Ceniro Ribeiro Martins, industrialista, casado com D. Anita Rodrigues Martins;
Maria de Lourdes Martins, casada com o dr. Nilo Sbruzzi, cirurgião dentista;
Odacira Ribeiro Martins, casada com o dr. Dimas Antunes de Oliveira, agrônomo;
Dr. Hélio Ribeiro Martins, químico industrial, casado com d. Maria Lília Martins;
Dr. Manoel Cecilio Ribeiro Martins, engenheiro civil, casado com Maria do Carmo Martins;
Doraci Ribeiro Martins, casada com o sr. Armando Gualberto Guédes, comerciário; e
Celso Ribeiro Martins, comerciante, casado com d. Odete Martorano Martins.

Em 1917 passou o prof. Adolfo Martins a empregar suas atividades na indústria pastoril, fixando residência na histórica fazenda “N. S. do Socorro”, ampliando-a e desenvolvendo-a com muita felicidade.
Em 1928 foi triste e profundamente golpeado com o prematuro e inesperado falecimento, em Florianópolis, de sua estremecida esposa, D. Dolores Ribeiro Martins, ficando o enlutado lar com oito menores no desamparo materno.
Quatro anos mais tarde, contraiu segundas núpcias com a Srta. Isabel Nunes, professora normalista e filha do conceituado casal, sr. Luiz Teixeira Nunes e Snra. D. Minervina Mendonça Nunes, havendo mais os seguintes filhos:
Dolores Nunes Martins, casada com o dr. Wolny Della Rocca, químico industrial;
Isabel Nunes Martins, casada com o sr. José Wilson Muniz, industrialista;
Adolfo Luiz Nunes Martins, técnico em contabilidade, casado com d. Maria Selma Varela Martins;
Neide Nunes Martins, técnica em contabilidade e casada com o dr. Claudio Ramos Floriani, diplomado em ciências contábeis;
Salvio Nunes Martins, Odete Nunes Martins e Rogério Nunes Martins, estudantes ginasianos [na época em que Adolfo escreveu sua autobiografia, ver notas abaixo].
Além de seus exaustivos e nobres trabalhos profissionais, o prof. Adolfo Martins prestou relevantes serviços públicos, exercendo os seguintes cargos:
Em 1918, com apreciável votação, eleito o conselheiro municipal.
Em 1934 foi nomeado intendente de Bom Jardim, 2º Distrito do município, encargo que deixou para candidatar-se a deputado estadual, o que alcançou. Mas, sua permanência no Legislativo do Estado foi de curta duração, devido ao golpe ditatorial de 10 de novembro de 1937, dissolvendo o Legislativo Nacional.
Em 1947 foi eleito vereador pelo Partido Social Democrático, obtendo o primeiro lugar em votação.
Novamente candidato a deputado estadual, em 1950, alcançou honrosa votação em seu município, então de pequeno eleitorado. Prevista como certa e vitoriosa a sua eleição, não o conseguiu, entretanto, faltando-lhe cento e poucos votos, consequência dos seguintes motivos: a nulidade de uma urna de 240 eleitores – Santa Isabel (S. Joaquim) – e a comprovada deslealdade de correligionários seus, por ocasião da apuração, em Lages, desviando para outro candidato a maioria da expressiva votação que ali merecera de seus conterrâneos e parentes lageanos. Testemunhas de tão desleal ato, afirmam que o mesmo fora praticado – diante da antevista certeza votação suficiente, em S. Joaquim, ao candidato Adolfo Martins. Prejudicada, entretanto, foi a comuna joaquinenese, cujo escolhido representante foi injustamente afastado para a suplência, onde classificou-se em segundo lugar.
Sempre movido da melhor boa vontade e incansável operosidade, o prof. Adolfo Martins muito fez em prol da ereção da hoje florescente vila de Bom jardim, pitorescamente situada nas proximidades da soberba Serra Geral. Com elevado alcance e dedicação, dirigiu a construção, de material sólido, da confortável igreja matriz, sob a invocação de N. S. do Socorro, promovendo com carinhoso cuidado o revestimento do mesmo templo.
Valiosamente amparado pela esforçada comissão fundadora, constituída pelos fazendeiros Sres. Prudente Luiz Vieira, Antão de Paula Velho, José Caetano do Amaral, Manoel Cecilio Ribeiro, Ranier Cassetari, Emilio Benevenuto Ribeiro, Manoel Ignacio Esteves, João Francisco Rodrigues, Joaquim Ezirio, Vitorino Rodrigues Machado, Taurino Gonçalves Padilha e outros – o Sr. Adolfo Martins dedicou-se com acendrado patriotismo, na formação e organiza do “Clube Recreativo Bonjardinense”, sociedade já instalada em confortável edifício próprio e quem em 30 de abril de 1960, comemorará o cinquentenário de próspera e proveitosa existência.
Dentre os muitos e valorosos serviços que o prof. Adolfo Martins prestou ao seu querido torrão adotivo, cumpre salientar o seguinte de relevante importância: quando se procedia a medição e divisão judicial da grande fazenda “Pelotas”, que abrangia a novel povoação, pleiteou com desdobrado empenho, conseguindo, dos respectivos condôminos, a doação de um milhão de metros quadrados de excelente e apropriado terreno, para patrimônio da vila de Bom Jardim, o que, como é natural, muito tem contribuído para o seu desenvolvimento.
Politicamente falando, Adolfo Martins, sem outro interesse a não o bem estar do seu município, ocupou sempre destacada posição em seu partido, o Social Democrático, cuja presidência deixou ao transferir-se para Lages.
Católico praticante, desde sua juventude, o prof. Adolfo Martins, sempre com dedicação e amor, colaborou seguidamente em associações beneficentes-religiosas, como sejam: Congrega Mariana, Apostolado da Oração, Fraternidade Vicentina, Ordem IIIª de S. Francisco, Irmandade do SS. Sacramento.
É membro da benemérita associação “Beneficência dos Professores de Santa Catarina”.
Já com idade avançada e com a saúde um tanto abalada, resolveu, em 1953, arrendar a fazenda N. S. do Socorro, de propriedade da família, passando a residir em sua querida cidade de São Joaquim, onde sempre desfrutou vasto circo de sólidas amizades.
Por motivos familiares, transferiu-se, em 1955, para sua cidade natal – a Princesa da Serra – onde, em doce convívio com seus conterrâneos, promove a instrução dos últimos de sua numerosa prole.

Dezembro de 1959.

------
Notas:
*Salvio Nunes Martins casou-se com Nara Ramos (Martins)[i].
**Odete Nunes Martins (Zanatto) casou-se com Rani Zanatto.

Em 07/10/1963 foi inaugurada em Bom Jardim da Serra, a Escola Básica Adolfo José Martins, com a presença do homenageado.
Adolfo José Martins faleceu em 23/10/1968.

Adolfo José Martins. (Foto fornecida por Henrique Brognoli Martins)




















Adolfo José Martins.




Filhos de Adolfo José Martins e Dolores Ribeiro. (Foto fornecida por Henrique Brognoli Martins)


Filhos de Adolfo José Martins e Isabel Nunes (Dona Belinha). (Foto fornecida por Henrique Brognoli Martins)


No Grupo escolar Adolfo José Martins de Bom Jardim da Serra, na ocasião do centenário de nascimento de Adolfo, quando foi descerrada placa comemorativa.
Da esquerda para direita os filhos: Ceniro Ribeiro Martins e a esposa Anita, Odacyra Martins Antunes, Manoel Cecilio Ribeiro Martins e a esposa Carminha, e o então Prefeito Antonio Carlos do Amaral Velho. (Foto fornecida por Henrique Brognoli Martins)


Referências

Autobiografia de Adolfo José Martins, fornecida pela descendente Henrique Brognoli Martins.

Fotos da Família, fornecidas por Henrique Brognoli Martins.



[i] Notícia sobre o falecimento de Adolfo José Martins. 1968 (fornecida por Henrique Brognoli Martins, descendente de Adolfo).

2 comentários:

  1. Muito valioso conhecer a história do meu tataravô.

    ResponderExcluir
  2. Com certeza, fico emocionada de ver tamanho exemplo de quem realmente quer o melhor aos seus e ao redor.

    ResponderExcluir