terça-feira, 20 de junho de 2017

Rua Tito Carvalho

Ismênia Ribeiro Schneider
Cristiane Budde

            Ainda no centro da cidade de São Joaquim (SC), localiza-se a Rua Tito Carvalho, que homenageia um personagem bastante importante, mas sobre o qual muitas pessoas não têm conhecimento.
            Tito Carvalho nasceu em Orleans (SC), em 04 de janeiro de 1896. Era filho de Antônio Luiz Gomes de Carvalho, próspero comerciante e influente político, e de Maria Cascaes de Carvalho[i].
Foi um grande jornalista e escritor. Em suas obras literárias, buscava retratar o regionalismo, principalmente, da Região Serrana. De acordo com Pereira (2002, p. 78), poucos autores catarinenses
“buscaram temas e inspiração nas raízes mais profundas da cultura e das tradições fundadoras da terra, apropriando-se dos falares regionais [...] para um trabalho de recriação artística da linguagem. Quem melhor o fez foi Tito Carvalho (1896 – 1965), que centrou sua ficção no Planalto Serrano, submetendo o vigoroso dialeto campeiro, com sua sonoridade marcante e seus espanholismos, a um paciente trabalho de recriação artesanal”.
Tito Carvalho se casou com Lorena Pereira Cascaes, com quem teve três filhos: Ney Bonjoanni, Léa-Maria (nasc. 1920) e Tito (nasc. 1939), que faleceu pouco tempo depois, em 1942. Após o matrimônio, Tito Carvalho se mudou para São Joaquim (por volta de 1917ii), onde foi Secretário Municipal e atuou, também, como advogado. Fundou ali naquele município, o jornal Correio Serranoii.
            Durante sua vida e profissão, mudou-se diversas vezes de cidade. Segundo Flores (2005, p. 29), “a morada em cidades como São Joaquim permitiu-lhe, ainda, ampliar o contato com a cultura e o linguajar serrano. Como ele mesmo afirmou, teve, ‘no convívio das estâncias, entre a peonada, de linguajar pitoresco, o vício do enxerto, no falar, de palavras que têm o sabor e o colorido do regionalismo.’ E esse hábito de enxertar palavras de sabor regionalista também se observa em muitas de suas crônicas, principalmente em seus bilhetes, de tom mais informal”.
           
            Vejamos mais alguns detalhes sobre a vida profissional de Tito Carvalho:
Em 1911, com apenas quinze anos, Tito publicou suas primeiras histórias nos jornais O Fiscal, de Tubarão, e O Albor, de Lagunai,ii. Mais tarde, em 1915, tornou-se redator de A Folha do Sul e contribuiu com a Gazeta Orleanense.
Em 1920 publicou o conto Bulha d’arroio pela revista Terra, da Academia Catarinense de Letras, nome que seria atribuído, mais tarde, ao seu primeiro livro, publicado em 1939i.
Em 1922 foi convidado por Hercílio Luz, então Governador do Estado, para ser redator do jornal República, onde teve a oportunidade de exercer sua vocação literária, e onde também abriu mais espaço para as Letras e para os artistas locais divulgarem seus trabalhosi.
Em 15 de fevereiro de 1925 foi recebido como membro da Academia Catarinense de Letras, ocupando uma de suas cadeiras.
Durante o período em que o jornal República permaneceu fechado, todo o ano de 1925 até setembro de 1926, Tito Carvalho colaborou com a redação dos jornais A Cidade, de Laguna (SC), e A Pátria, do Rio de Janeiro.
Em 1926, quando retornou a suas atividades no jornal República, suas crônicas passaram a focar mais nos acontecimentos relacionados ao fim da República Velhaii. Ele possuía uma coluna, inicialmente denominada O meu bilhete, depois, passando-se a chamar O nosso bilhete (a partir de dezembro de 1926). Nessa coluna, escrevia bilhetes endereçados a pessoas reais, às vezes pessoas públicas, outras, pessoas desconhecidas, de seu círculo de amizade.
Tito Carvalho utilizava um pseudônimo, que se alterou com o passar do tempo. Inicialmente, encerrava suas crônicas assinando: “João, apenas”. De acordo com Flores (2005, p. 59),
esse nome passou por um processo criativo. Na palavra “apenas”, o escritor leu “penas”, o que se associa à escrita e às palavras. Alcançou-se, assim, o instrumento e o meio de trabalho do escritor em um único nome – “João A. Penas”. Mais adiante, a ênfase na produção escrita aumentou, quando o nome “João” foi resumido, e o pseudônimo passou a “J. A. Penas”. Assim, o cronista parece se autodenominar aquele que tem a pena, que domina a escrita e a tem em evidência em sua vida. Até que ponto essa denominação serviu para evitar que sua identidade real fosse preservada é impossível saber, tendo em vista que ocupava posição de destaque no jornal em que trabalhava, era conhecido no meio jornalístico e, principalmente, as pessoas que maior influência poderiam ter sobre ele sabiam a quem remetia tal nome, sem esquecer, também, que nenhuma crítica extremada foi feita sob tal identidade.
Tito Carvalho ainda colaborou com diversos outros jornais comoi:
- O País (RJ);
- A Noite (RJ);
- A Cidade (Laguna, SC), foi redator;
- O Libertador (Itajaí, SC), foi redator;
- A Cidade de Blumenau, foi diretor;
- O Estado, foi redator;
- Diário da Tarde, foi redator;
- República, assumiu a direção em 1938.
Também atuou na Agência de notícias Asapress, em 1945, passando a residir no Rio de Janeiro. De 1946 a 1953, foi cronista parlamentar na Câmara e no Senado (RJ). Em 1948 foi enviado à Colômbia, Bogotá, como jornalista, com o intuito de fazer a cobertura da IX Conferência Interamericana. Nesse mesmo período, “ocorreu a Revolução que acabou depondo o Presidente da Colômbia” (FLORES, 2005, p. 28).
Em 1956, retornou para Florianópolis e assumiu a direção do Diário da Tardei.
Em 1961, foi nomeado diretor da Biblioteca Pública do Estadoi.
Segundo Flores (2005, p. 29),
Além de seu trabalho na imprensa, publicou a coletânea de contos regionais Bulha d'arroio (1939) e o romance regionalista Vida Salobra (1963). Antes de morrer, preparava a edição das crônicas escritas para a coluna Gente do meu caminho, publicadas na Tribuna da Imprensa de 1955 a 1956; e de um livro com os artigos que produzira sobre a Conferência de Bogotá e a Revolução Colombiana, trabalho que ficou inacabado devido a seu falecimento em 15 de julho de 1965”.
Essas duas obras, Bulha d'arroio e Vida Salobra (1963), ficaram muito tempo sem serem reeditadas e publicadas. Somente em 1992 foi lançada uma reedição pela Fundação Catarinense de Cultura. Também por essa instituição, vida e obra do autor foram publicadas. Contudo, não é fácil encontrar qualquer uma dessas obras à venda (normalmente são encontradas apenas em sebos), de modo que o trabalho de Tito Carvalho ainda permanece “pouco conhecido, apesar de constituir obra única no universo ficcional catarinense por sua relevância temática e linguística” (PEREIRA, 2002).



Rua Tito Carvalho, São Joaquim (SC).


Referências



[i] FLORES, Simone Constante. Do texto à história: cotidiano catarinense nas crônicas de Tito Carvalho – Fixação de crônicas. Dissertação de mestrado, Curso de Pós-Graduação em Literatura, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, 2005.
[ii] Prefeitura de Orleans, SC. Cultura, 2013. Disponível em: http://orleans.sc.gov.br/2013/index.php?option=com_content&view=article&id=78&Itemid=519. Acesso em: 12/06/2017.
PEREIRA, Mário. Ao pé da letra: Escritores catarinenses contemporâneos e outros textos. Editora Garapuvu: 2002.  Agradecimento a Henrique Brognoli Martins, que nos enviou esse livro.

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