Texto de Henrique Brognoli Martins,
com edições e complementações de Ismênia Ribeiro
Schneider
e Cristiane Budde
Ainda no município de Bom Jardim da Serra (SC),
destacamos a Rua Manoel Cecílio Ribeiro,
localizada no centro, onde fica a Prefeitura
Muni cipal. Esta rua homenageia um
importante personagem que fez parte do grupo dos oito valorosos cidadãos que
com abnegação, despreendimento, sabedoria e boa vontade, ajudaram a fundar a
cidade.
Figura 1 - Placa da Rua Manoel Cecílio Ribeiro (Fornecida por Henrique Brognoli Martins). |
Figura 2 - Rua Manoel Cecílio Ribeiro, em Bom Jardim da Serra (SC). |
Figura 3 - Prefeitura de Bom Jardim da Serra (SC), localizada na Rua Manoel Cecílio Ribeiro. |
Manoel Cecilio Ribeiro era filho de Matheus Ribeiro de Souza (1829-1900) e Maria
Magdalena Baptista de Sousa (1833-1867) (personagens já bastante
conhecidos em nosso blog, vejam as matérias: https://genealogiaserranasc.blogspot.com/2017/03/casa-de-pedra-150-anos_30.html e https://genealogiaserranasc.blogspot.com/2011/10/fazenda-do-socorro.html). Nasceu na Fazenda do Socorro em
1856, na época em que Bom Jardim da Serra era chamada de Distrito de Nossa
Senhora do Socorro.
Manoel deu continuidade à trajetória política de seu pai
Matheus, que foi 1º vereador pela região quando da instalação do município de
São Joaquim, em 07 de maio de 1877, e de seu tio, o Coronel João Ribeiro
(1819-1895), prestigiado chefe político da Região Serrana, chefe do Partido
Conservador durante o Império e mais tarde Republicano, um dos fundadores do
município de São Joaquim da Costa da Serra, da qual se tornou o 2º prefeito,
exemplos que contribuíram na sua formação política e cívica, razão pela qual
Manoel Cecilio é lembrado, conforme destacou a escritora Eliane Zandonadi de Carvalho,
como: “Homem de fibra, participou de gestões políticas-sociais que visassem o
desenvolvimento de sua terra”.
Figura 4 – Manoel Cecílio Ribeiro
retratado em crayon pelo célebre
pintor Eduardo Dias (1872-1945).
Em 1867 ficou órfão de mãe, aos 11 anos, e recebeu,
juntamente com suas sete irmãs menores, o carinho e o apoio de Maria do
Nascimento Amaral (1846-1930), a “Dona Senharinha”, a 2ª esposa de seu pai, a
qual sempre o considerou como um filho, tornando-o mais tarde seu representante. Foi profundo
conhecedor de sua terra e de sua gente, relacionava todos os rincões
existentes, seu acervo de informações e documentos pode auxiliar no
esclarecimento de diversas demarcações de áreas na região. Participou
ativamente na administração e no desenvolvimento da pecuária nas fazendas da
família, constituídas de áreas no Socorro, na Santa Bárbara, Pelotas (Rabungo e
Varginha) e Três Barras, ao pé da Serra do Imaruhy, que totalizam uma extensão
superior a 150 milhões de metros quadrados.
As famílias de suas irmãs multiplicaram-se na região:
Maria da Conceição casada com Antônio Pereira de Medeiros, Virginia casada com
Pedro Florêncio Pereira, ambas radicadas onde hoje é Urupema, Maria Magdalena
casada com Manoel Pinto de Souza e Carlota Baptista Ribeiro casada com Joaquim
Furtado de Souza e, posteriormente, com Augustinho Pereira da Silva, estas duas
últimas em São Joaquim. Já as irmãs do 2º casamento de seu pai ficaram, na
maioria, radicadas em Bom Jardim da Serra, Adelaide casada com Antão de Paula
Velho, Zulmira casada inicialmente com Cyrillo Caetano de Souza e
posteriormente Bruno Francisco Macedo, Adelia com José Caetano do Amaral e
Maria Trindade casada com Ambrozio Baptista de Souza, esta última em São
Joaquim.
Manoel Cecílio Ribeiro casou-se com Rosalina de Sousa e Oliveira (1877-1932), filha de Aureliano de
Sousa, e neta de Antonio Saturnino de Sousa e Oliveira (1809-1877).
Nota: Antonio Saturnino de Sousa e Oliveira (1809-1877) radicado
em Lages e 1º Deputado Provincial por Lages e irmão de dois grandes estadistas
do império Aureliano (Visconde Sepetiba -
Ministro do Império e Governador de São Paulo) e Saturnino de Sousa
Oliveira Coutinho (Ministro do Império e Governador do Rio Grande do Sul
durante a Guerra dos Farrapos).
Desta união, nasce Dolores
de Sousa Ribeiro (1891-1928) sua única
filha e herdeira, que foi a matriarca da família Martins em Bom Jardim da
Serra, por ter casado com Adolfo José Martins (13/08/1885 - 23/10/1968).
Nota:
Mais
informações sobre Adolfo José Martins em: http://genealogiaserranasc.blogspot.com/2017/08/adolfo-jose-martins.html.
Filhos de Dolores
Ribeiro Martins com Adolfo José Martins:
N1 – TÚLIO RIBEIRO MARTINS, faleceu ainda criança.
N2 – JOSÉ MOACIR RIBEIRO MARTINS (nasc. 28./02.1912 – falecido
25.01.1955) – 1º Médico de Bom Jardim da Serra.
N3 – MARIA DE LOURDES RIBEIRO MARTINS (nasc. 14.06.1915 – falecida
16.02.1978), c.c. Nilo Sbruzzi.
Fazenda: “Rincão da Palha”.
N4 – ODACYRA RIBEIRO MARTINS (nasc. 28.05.1917 – falecida
04.03.2006), “Oda”, c. c. Dimas Antunes de Oliveira.
N5 – CENIRO RIBEIRO MARTINS (nasc. 23.07.1914 – falecido
19.03.2001), c.c. Anita Ribeiro Rodrigues.
N6 – HÉLIO RIBEIRO MARTINS, (nasc. 22.05.1921 – falecido 04.07.1985),
c. c. Maria Lilia Maranhão.
N7 – MANOEL CECÍLIO RIBEIRO MARTINS (nasc. 08.08.1922, Lages), c.
c. Maria do Carmo Brognoli, “Carminha”, último dos Ribeiros da descendência de
Manoel Cecilio Ribeiro, na Fazenda do Socorro.
F8 – DORACY RIBEIRO MARTINS (nasc. 19.11.1923 – falecida 23.09.1984),
“Dora”, c. c. Armando Guedes.
F9 – CELSO RIBEIRO MARTINS (nasc. 21.01.1926 – falecido
04.03.1975), c. c. Odete Martorano Martins (“Detinha”).
Manoel Cecílio Ribeiro viveu ainda na época, em que as
grandes fazendas “as Tijucas”, “Nossa de Senhora do Socorro”, “Pelotas” e
“Santa Bárbara”, dominavam as coxilhas relvadas e as matas de araucárias,
delimitando-se entre si e praticamente ocupavam o que é hoje o município de Bom
Jardim da Serra.
Como sua trajetória é sempre destacada pela liderança e
apoio às causas da comunidade, coube a Manoel Cecílio Ribeiro, juntamente com
outros herdeiros e sucessores (Joaquim Rodrigues, Vitorino Machado, Emilio
Ribeiro, José Candido Ribeiro, e outros), liderar o grupo que propôs em 1915, a
medição judicial da Fazenda do Socorro, adquirida em 1776 de Manuel Marquez
Arzão, pelo seu bisavô Matheus José de Sousa (1737-1820), que veio na bandeira
de Correia Pinto para fundação de Lages. Com sua visão de futuro contratou para
representá-los na referida ação o jovem advogado Nereu Ramos, que já atuava em
Lages e também por ser filho do seu primo, o então Governador Vidal Ramos
(1866-1954), cujas mães eram irmãs (filhas
de João Batista de Sousa, também conhecido como “Inholo”, Magdalena mãe de
Manoel Cecilio e Julia mãe de Vidal).
A ação tinha como fundamento que, tendo passados 140
anos, existia não só a necessidade de demarcar os limites da referida fazenda,
como também que estabelecer as diversas divisões por sucessões e alienações
resultantes. A atuação de Manoel Cecilio Ribeiro foi fundamental, dado seu
conhecimento em esclarecer as divisas, com seu acervo documental inclusive, por
ter o título de compra primitiva datado de 1776, ao colaborar com a intermediação do
Coronel Cezario Joaquim do Amarante, pode elucidar questionamentos e
discussões. Conforme ressaltava o Dr. Nereu Ramos, o objetivo dos autores na
demanda era estabelecer, primeiramente, os limites entre a Fazenda do Socorro e
a Fazenda Pelotas, Santa Bárbara, Bom Sucesso e com o denominado Campo de Fora,
para após, então realizar as respectivas divisões internas, razão pela qual a
topografia ficou a cargo do renomado engº Emilio Gallois, que atuava nas
grandes demarações em Santa Catarina.
Figura 5 – Escritura de venda de Manuel Marques Arzão
à
Matheus José de Souza em 10 de junho de 1776.
Com seu espírito empreendedor, além de pecuarista, buscou
o desenvolvimento de Bom Jardim quando, em 1908, já tinha uma casa de comércio
denominada de “Casa Serrana”, que além de tecidos, louças e ferragens, foi a
primeira pousada da cidade.
Figura 6 – Anuncio da Casa Serrana
na
Gazeta Joaquinense.
Por proposição de seu grande amigo
Coronel Cezario do Amarante, prefeito de São Joaquim à época, foi nomeado pelo
Governador Gustavo Richard, em 10 de setembro de 1909, Chefe de Polícia do
Distrito de Bom Jardim. Participou
também na fundação do Clube Bonjardinense, em 19 de abril de 1910, tem sido
presidente. A fotografia abaixo retrata o evento de lançamento do Clube.
Figura 7 - Ao centro Manoel Cecilio Ribeiro com menino (sobrinho
Américo
do Amaral) a sua esquerda e lideranças
bomjardinenses da época.
Não se sabe por qual razão, mas de forma inovadora na
região à época, Manoel Cecilio Ribeiro, juntamente com sua esposa Rosalina de
Souza e Oliveira, em março de 1916 fizeram no Cartório de São Joaquim, uma
doação para sua única filha e herdeira universal, Dolores Ribeiro Martins, de
diversas partes de campos e matos, uma casa e suas benfeitorias, sitas nas
fazendas do Socorro e Santa Bárbara do Socorro. Reservaram para si, os doadores,
como meios de recursos e para subsistência do casal, todos bens móveis e
semoventes, mas ressaltaram na escritura que fizeram a doação no intuito “de garantir o futuro de sua única filha e
herdeira universal, a fim de prevenir os revezes da sorte que por acaso possa
sobrecair”.
Um ano depois, em março de 1917, Manoel Cecilio Ribeiro
embarca no Paquete Itapacy, em Imbituba-SC, para deslocar-se à São Paulo-SP a
fim de realizar uma cirurgia, onde morre aos 62 anos, em 02 de abril daquele
ano, e está sepultado no cemitério dos Araças em São Paulo, deixando um exemplo
de espírito cívico, trabalho, companherismo e dignidade.
Figura 8 – “Vistoso” Navio Itapacy da
Companhia
Nacional de Navegação Costeira.
Em 26 de junho 1928, por ironia do destino, a sua única
filha Dolores Ribeiro Martins que tanto quiseram proteger, também morre, aos 37
anos, em decorrência, também, de uma cirurgia, no Hospital de Caridade, em
Florianópolis, cabendo a sua mãe, Rosalina de Souza e Oliveira, auxiliar a
criação de seus filhos.
Figura 9 – Rosalina de Souza e Oliveira com o neto
Tulio
Ribeiro Martins.
Hoje ainda o neto, Manoel Cecilio Ribeiro Martins, com 96
anos, sendo último dos Ribeiro da descendência, relembra que “a proteção que meu avô Cecilio deixou para
minha mãe (Dolores Ribeiro Martins), que morreu muito cedo, quando eu tinha
apenas 6 anos de idade, ajudou muito
em minha trajetória, pude me formar em engenharia em 1948 e no desenvolvimento
de minhas atividades na amparadora Fazenda do Socorro”.
Referências
CARVALHO, Eliane Zandonadi de; GAMBA FILHO,
Raulino. Bom Jardim da Serra: um pouco
de sua história. Florianópolis: Paralelo 27, 1992.
Relatos de Ismênia Ribeiro Schneider.
Relatos de Manoel Cecilio Ribeiro Martins, filho de Dolores Ribeiro Martins com
Adolfo José Martins e, portanto, neto de Manoel Cecilio Ribeiro.
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