Na postagem de hoje apresentamos
uma matéria de 1987, escrita por Maria Batista Nercolini, e publicada na Revista
Blumenau em Cadernos, TOMO XXVIII/6 –
Junho de 1987, edição 366[i].
O
texto é muito interessante, pois cita diversos personagens importantes para a
história de São Joaquim (SC), sendo que alguns já foram, inclusive, foco de matérias
anteriores no Blog, como Bento Cavalheiro do Amaral[ii],
Agripa de Castro Faria[iii],
Egídio Martorano[iv], Enedino Batista Ribeiro [v] e Jorge Bleyer[vi].
Confiram
a matéria na íntegra:
Histórico
da cidade de São Joaquim
e os costumes de seu povo
Maria Batista Nercolini
5º Capítulo
No 3º
capítulo, falamos de Correio, prometendo voltar após recebermos documentos.
Apresentamos:
Departamento Correios e Telégrafos.
O Correio era
uma Repartição que funcionava à parte do Telégrafo e que só mais tarde houve
fusão.
Seu competente
funcionário era João Araujo Lima. Essa Repartição funcionava na casa de sua
propriedade, mais ou menos onde está hoje o Hotel Nevada.
Vamos lembrara
que a correspondência, que vinha e ia para Lages, Urubici, bom Jardim, daí par
baixo da Serra, era em lombo de animais. Lembremos nossos estafetas[1],
Francisco Santos, Guedes, Farias e Juventino, para B. Jardim esse último, até
mais ou menos 1945. Estes estafetas usavam roupas de cáqui amarelo, e as
pessoas da época sabem da pontualidade e presteza do Correio. Viagens
fatigantes, num itinerário semanal.
Como já
noticiamos, o telégrafo, no final do século, funcionava. Dos funcionários,
conseguimos a documentação da Divisão de Administração do pessoal do
Ex-DCT-Brasília, DF, em 20-05-1967, por nossa solicitação.
Janjão (pai de
Renato Góss), conforme noticia também a “Gazeta Joaquinense” em 1909, ainda
trabalhava em nossa Comuna, cuja biografia daremos oportunamente, sem contudo
afirmarmos que seria o 1º telegrafista.
Aristides
Félix Cassão, sendo deste a Portaria conseguida:
“Matrícula nº
365.434. nasceu em 15-1-1891 e foi admitido em 06-1-1909 como Trabalhador
Diarista. Em 24-08-1911, foi elevado ao cargo de Telegrafista Regional.
Passando por várias promoções, atingiu a carreira de telegrafista “M”, conforme
Decreto de 23-04-54, do Diário Oficial da União, em 30 do mesmo mês.
Foi também
funcionário do Correio, conforme portaria, e em virtude da fusão descrita
acima. Faleceu em Florianópolis, em 26-09-1954, aos 63 anos de idade, dos quais
45 anos dedicados aos serviços públicos.
A linha
telefônica foi criada mais ou menos em 1928 no então Distrito de Bom Jardim da
Serra. O encarregado foi Gil Mattos, filho de um dos homens mais inteligentes e
probos, Sebastião Mattos.
Aristides
transferiu-se para Tijucas, ficando sua irmã Juliete Martins Cassão, também
telegrafista, e o nosso amigo Benigno Dutra, neto pelo lado paterno de Horácio
Dutra, um dos homens que muito serviu nossa Comuna. Foi Secretário da
Prefeitura, ocupou outros cargos de confiança e possuía uma invejável
caligrafia. Horácio, pai de Gasparino, foi outro são-joaquinense amigo e amante
de sua terra. Destacou-se como funcionário, Coletor estadual, Diretor do
Tesouro do Estado e Prefeito na cidade de Urubici. muito sabia de nossa gente.
lamentamos que não haja nada registrado de sua autoria, como o lado materno, os
Cavalheiros e outros pioneiros.
Era casado com
Alice Costa, também de família de destaque na Comunidade. E hoje aí está a
Repartição “Empresa Brasileira Correios e Telégrafos”, desde 1964, com boa
instalação, ótimos funcionários, alguns nosso conterrâneos, trabalhando,
servindo e impulsionando o nosso progresso.
Saúde
Hospital
Sagrado Coração de Jesus
(Respeitando grafia original)
Conforme cópia
do testamento em nosso poder, transcrevemos fielmente a parte que interessa ao
Hospital (Expedido pelo Cartório da 2ª Vara Civil, Comarca de São Joaquim). No
livro de Registro dos Testamentos, à fls. 14v a 16, consta da averbação do
seguinte testamento: “Averbação e Registro do Testamento do teor seguinte J. M.
J. Em nome da Santíssima Trindade, Padre Filho Espírito Santo, Três pessoas
distintas e um só Deus verdadeiro, em quem piamente creio e em cuja fé pretendo
viver e morrer, é este o meu testamento contendo as minhas disposições de
última vontade:
“Declaro
chamar-me Bento Cavalheiro do Amaral, natural deste Estado, domiciliado nesta
Comarca, filho de Manoel Cavalheiro Leitão e Marianna Cândida d’Almeida, já
falecidos, (Obs.: continua o testamento com doação à família). Em um dos itens,
encontramos: “Dentro das forças de minha terça, faço doação de uma área de
terras que possuo próxima desta Villa, e que confronta com Enéas da Silva
Mattos, e Tenete Egídio Martorano, e o arroio (Obs.: Este é o arroio da Chapado
do Cruzeiro), que passa próximo desta Villa, a um estabelecimento de caridade,
cujo terreno destino à edificação de um asylo para indigentes. Era o dia
28-06-1903”. A Obs. é nossa.
Diante desta
doação, fui fundada a Associação Beneficente “Bento Cavalheiro” em 1925.
Em 1932 foi
dado início a construção do Hospital de Caridade Coração de Jesus. Para esta
obra, manifestou-se a Diretoria: Domingos Martorano, Thiago Fioravante de
Mattos, Aristides Batcke, Manoel Teixeira e o professor José Jaime Vieira
Rodrigues, o batalhador incansável, que percorreu o Município a cavalo,
visitando nossos fazendeiros para trazer recursos para essa obra prioritária e
desejada para a nossa coletividade.
Só foi
inaugurado no dia 30 de abril de 1944 com a Banda Musical Mozart Joaquinense, a
população presente, discursos e a porta aberta pelo neto de Bento Cavalheiro do
Amaral, Gervásio Pereira do Amaral. Estas reminiscências devem estar registadas
na memória de muitos que assistiram.
As outras
edificações, em 1963 e 1970, abrangendo, emergência, novo centro cirúrgico,
pediatria, cozinha, lavanderia, etc., foram tarefas árduas dos médicos e
comunidade.
Estão em
andamento [em 1987] os 4 blocos que fazem parte do Hospital, no comando de seu
idealizador Dr. Jani Rogério Vieira Wolff, que será assim apoteose desta
batalha nascida em 1903.
São Joaquim
esteve sempre amparado por bons médicos. Daremos a nominata (Se a memória nos
trais, corrigiremos em nossa futura monografia, observação válida também no
setor odontológico e farmácia).
O. Dr. José
Nabuco D’Avila, de Pernambuco, mais ou menos 1917-1919, teve a infelicidade de
perder sua esposa e filhinho, vítimas da epidemia espanhola, após a 1ª Guerra
Mundial.
Dr. Vicente
Modena, 1920.
Dr. Newton
Vieira Ramos, do Estado do Espírito Santo, 1920, casou-se com Herondina de
Macedo, de importante família de Bom Jardim da Serra.
Dr. Müller,
mais ou menos 1925.
Dr. Vicente
Cantisani, italiano, jovem, solteiro, competentíssimo, conviveu entre nós por
muitos anos. Com a 2ª Guerra Mundial e os seus efeitos, partiu em
circunstâncias desagradáveis, falecendo no Amazonas, onde foi reunir-se a um
irmão.
Dr. Jorge Clarke Bleyer, médico, cientista natural
de Hannover (Alemanha), radicou-se em nosso Estado e viveu também em outras
cidades. Casou-se com jovem da conhecida família Neves, de Lages. Tem vários
trabalhos científicos, como: Conferência na Academia Nacional de Medicina do
Rio de Janeiro “Contribuição para estudos do troglodyta das cavernas no
planalto do Brasil” (Publicado em 19-8-1919 – Instituto Histórico e Geográfico
de Santa Catarina).
“Ueber dir
antropophagie praehistorischer ureinvvohner des Hochplathou’s von Santa
Catarina in Brasilien”, apresentado ao XVIII Congresso Internacional de
Americanistas, e impressa nos seus Anais, Londres 1913. Apresentou no XX
Congresso Internacional de Americanistas, no Rio de Janeiro, em 1922, “Investigações
sobre o homem pré-histórico no Brasil Meridional”. Sobre o canibalismo aborígene
pré-histórico habitante de grutas e abrigos sob rocha, 1928. (Do livro As
Grutas de São Joaquim e Urubici, de Walter Piazza).
Dr. Armando Ramos de Carvalho, natural de Lages,
formado pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre, 1924, esteve entre nós mais
ou menos de 1925 a 1930.
Dr. Agripa de Castro Farias – Campos, Rio de
Janeiro (Biografia capítulo política).
Chegamos em 1930 e com ele a satisfação e até mesmo
orgulho de termos o nosso primeiro médico, formado pela Faculdade de Medicina
do Rio de Janeiro, Dr. Joaquim Pinto de Arruda, bisneto de nosso fundador
(Dados biográficos, no capítulo Política).
Dr. José Martins, filho do emérito professor Adolfo
Martins e Dolores Ribeiro Martins. Infelizmente a morte o arrebatou muito jovem
(Não clinicou em nossa cidade).
Dr. Aristarides Stadler, médico paranaense, que
pelo devotamento à sua profissão, deixou profundas marcas no seio do povo e
principalmente dos mais humildes. Casou-se com a belíssima Gema, representante
da fina Sociedade Bonjardinense, falecendo muito cedo.
Dr. João Batista Verás – 1944.
Dr.
Arnaldo Bittencourt.
Dr.
Bica – 1950.
Dr. Artur Lopes da Silveira Pinto.
Dr. Abrahão Kochmann.
Dr. Samuel Meyer.
Dr. Egídio Martorano, foi presidente do Hospital (Como
político, Cap. Política).
Em 1956, o Dr. Olavo Francisco Vieira chegou para
exercer sua profissão, abraçando-a com muito fervor, sempre solícito aos que o
procuram, especialmente os pobres. Por esse trabalho, tão humano, justifica o
respeito, o carinho do povo para com ele. Foi Diretor do Hospital, no período
de 5 a 6 anos.
Médicos da atualidade [1987], alguns dos quais são-joaquinenses:
Dr. Jani Rodrigues ieira Wolff
Dr. José Luiz Bergomache
Dr. Leonardo José Batcke
Dr. Lizandro Chiodelli
Dr. Newton Estélio Fontanelle
Dr. Olavo Francisco Vieira
Dr. Romario Zabot
Dr. Sergio Luiz Ribeiro
Dr. Telmo Francisco de Souza Palma
Dr. Walter Gonçalves de Azevedo
Dentistas:
Oscar Alves Ferreira – Gaúcho de Porto Alegre
José Silveira Batalha – São Joaquim
Aristides Soares – Lages
Henrique (Alemão) – Blumenau
Hugo Bortoluzi – Nova Veneza
Laerte Rodrigues Lima – Lages
Dr. Guaracy Santos – Florianópolis
Para chegarmos em 1987, com muitos são-joaquinenses
e de outras localidades:
Dr. Alcides Celestino dos Santos
Dr. Alcir Rogério Rodrigues
Dr. Anacreonte Martins Antunes
Dr. Doroteu Campos
Dr. Fulvio Ferreira Filho (Blumenau atualmente
[1987])
Dr. João Pagani
Dr. Joaquim Anacleto Rodrigues Neto
Dr. Renaldo Albino de Bem
Dr. Zilson Marivaldo Gonçalves de Azevedo
Farmácias
Partimos de 1935, pelos documentos existentes:
“Santa Maria”, de Enedino Batista Ribeiro,
Farmacêutico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
De: Silvio Souza
Hilário
Bleyer
João Jorge da Silva e Barnabé Dutra, passando por
compra a Altamiro Bianchini, farmacêutico formado, “Farmácia N. S. das Graças”
que hoje [1987] pertence ao seu filho Dr. Luiz Carlos Bianchini, também
farmacêutico e bioquímico, respectivamente esposo e filho da escritora Suzana
Scóss Bianchini, autora do livro “Recordando São Joaquim”.
De: Rui Vieira
Rede Farmácias Pinheiro Ltda.
Farmácia
Popular Ltda. – Clovis Debetio.
Farmácia
São João Ltda. – João de Oliveira Neto.
Figura 1 - Dr. Newton Vieira Ramos. Fonte: Blumenau em Cadernos, 1987, p. 228. |
Referência
[1]
Estafeta: portador de despachos, encomendas, cartas, que faz a entrega a
cavalo. Funcionário de empresa postal, encarregado de distribuir a
correspondência; carteiro.
[i]
Agradecemos a Luís Fernando Marques Dorvillé, que nos enviou por e-mail (junho
de 2018) o arquivo digitalizado.
NERCOLINI, Maria Batista. Histórico da cidade de São
Joaquim e os costumes de seu povo. In: Blumenau
em Cadernos, TOMO XXVIII/6 – Junho de 1987, edição 366, pp. 226-229.
Digitalizado pelo Arquivo Histórico José Ferreira da Silva, Blumenau, SC.
Disponível em: http://hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/blumenau%20em%20cadernos/1987/BLU1987006.pdf.
[ii]
Sobre Bento Cavalheiro do Amaral, ver: https://genealogiaserranasc.blogspot.com/2017/10/rua-bento-cavalheiro-do-amaral.html
e https://genealogiaserranasc.blogspot.com/2011/09/doacao-de-um-terreno-por-bento.html.
[iii]
Sobre Dr. Agripa de Castro Faria, ver: https://genealogiaserranasc.blogspot.com/2017/10/rua-agripa-de-castro-faria.html
e https://genealogiaserranasc.blogspot.com/2017/11/dr-agripa-de-castro-faria-relatos-de.html.
[iv]
Sobre Egídio Martorano, ver: https://genealogiaserranasc.blogspot.com/2017/09/rua-egidio-martorano-neto-e-rua.html.
[v] Sobre Enedino Batista
Ribeiro, ver: http://genealogiaserranasc.blogspot.com/2012/05/homenagem-enedino-batista-ribeiro-na.html
e http://genealogiaserranasc.blogspot.com/2017/05/sobre-abertura-da-serra-do-rio-do.html.
[vi]
Sobre Jorge Bleyer, ver: https://genealogiaserranasc.blogspot.com/2018/04/rua-jorge-bleyer-georg-carl-adolf-bleyer.html.
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