No dia 14 de
maio comemoraríamos o aniversário de Enedino Batista Ribeiro, pai desta
pesquisadora, Ismênia Ribeiro Schneider. Em sua homenagem, relembramos algumas
de suas lutas, e, em especial, a abertura da Serra do Rio do Rastro.
Resgatamos,
portanto, o discurso realizado por Ismênia em 1999, para celebrar o centenário
de nascimento de Enedino:
Discurso na Assembleia Legislativa
sobre a vida política de Enedino Batista Ribeiro
Ismênia Ribeiro Schneider
Decorridos quarenta e oito anos,
voltamos a esta Casa, todos os filhos de Enedino
Batista Ribeiro, não mais para acompanhar nosso pai em sua posse como
deputado, mas para participar desta Sessão Solene e agradecer as homenagens que
lhe presta esta mesma augusta Assembléia, já agora para comemorar o centenário
de seu nascimento.
Na 22ª Sessão Ordinária desta Câmara, no dia 02 de maio de 1951, sob a
presidência de Volney Colaço de Oliveira, aos 51 anos de idade, apresentou-se
Enedino a seus pares em discurso de improviso, transcrito nos anais da casa, em
que afirmava: “quero falar do coração do povo de São Joaquim para o coração dos
outros catarinenses aqui tão bem representados por seus 38 deputados”.
É o que faço também neste momento, Senhor Presidente, porque falar em Enedino Batista Ribeiro
é falar em São Joaquim ,
tal era a sua ligação com a terra natal. Prestar-lhe homenagem é entoar loas
àquela bela região.
Sentimo-nos, os familiares, emocionados, ao constatar que sua lembrança
conseguiu reunir nesta solenidade pessoas de três diferentes gerações:
contemporâneos seus, amigos de juventude, hoje colunas-mestras de nossa
comunidade, como o Embaixador Licurgo Costa; cidadãos que, à época que estamos
recordando, eram adolescentes ou jovens profissionais, como o Dr. Glauco
Olinguer que na Secretaria da Agricultura encaminhava os projetos sobre
pomicultura do deputado serrano; e a nova geração, aqui representada por seus
descendentes e co-estaduanos mais moços, como alguns dos deputados da presente
legislatura, Sandro Tarzan, por exemplo, nosso conterrâneo, que propôs à Casa
esta homenagem, o que muito agradecemos.
Para informação dos mais jovens aqui presentes, Senhor Presidente, que
não viveram nenhum dos acontecimentos relembrados neste momento, gostaria de
recordar, brevemente, o contexto histórico em que aconteceu a vida pública do
nosso homenageado:
- Terminadas a 2ª Guerra Mundial e a Ditadura Vargas, em 1945, teve
início uma nova fase na vida pública, que propunha a redemocratização do país.
Surgem novos partidos políticos, como a União Democrática Nacional (UDN), o
Partido Social Democrático (PSD), o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o
Partido de Representação Popular (PRP), o Partido Social Progressista (PSP),
entre outros.
- Nas primeiras eleições que se seguiram, em dezembro de 1945, foi eleito
Presidente da República o Marechal Eurico Gaspar Dutra. Em Santa Catarina , em
janeiro de 1947, Aderbal Ramos da Silva, do PSD, elegeu-se Governador do
Estado.
As eleições seguintes, de 1950, reconduziram Getúlio Vargas ao poder pelo
PTB, apoiado, por acordo não oficial, pelo PSD, que tinha candidato próprio,
Cristiano Machado. Em
Santa Catarina vencia a coligação UDN – PTB – PSP – PRP – PL
(Partido Libertador) – PDC (Partido Democrata Cristão), que elegeu governador
do Estado o empresário itajaiense, Irineu Bornhausen.
- Com o governado federal, conseguiu o novo governador estabelecer um bom
diálogo, com excelentes conquistas para Santa Catarina, principalmente através
do Ministro da Agricultura, João Cleofas que, em 1952, ao convidar para seu
chefe de gabinete o jovem deputado estadual udenista, Antônio Carlos Konder
Reis, abriu para nosso Estado um importante canal de comunicação.
- Em nível estadual, porém, as dificuldades políticas foram grandes. O
Executivo, em seus pleitos à Assembléia Legislativa conseguia, no máximo, a
metade menos um dos votos dos deputados, isso porque o PSD conservou a maioria nesta
Câmara. As disputas tornaram-se acirradas e sistemáticas, dificultando a
aprovação de projetos essenciais ao desenvolvimento do Estado.
Irineu Bornhausen apresenta ao Legislativo, em sua mensagem de início de
governo, as linhas mestras de um plano plurianual de investimento, que irá
implementando à revelia da Oposição, que só foi aprová-lo em 1954, já no apagar
das luzes dessa gestão. Concebido para ser executado em dez anos, terá
efetivamente continuidade no governo seguinte, de Jorge Lacerda. O Plano,
denominado Plano de Obras e Equipamentos
– POE, trata das grandes tarefas estratégicas para atender às necessidades
reconhecidas por todos: Estradas, Energia Elétrica, Agricultura, Educação e
Saúde.
Alguns dos deputados daquela legislatura foram: Volnei Colaço de
Oliveira, Ylmar Corrêa, Ivo Silveira, Fernando Osvaldo Oliveira, Elpídio
Barbosa, Paulo Konder Bornhausen (filho de Irineu), Paulo Fontes, João Colin,
João José de Souza Cabral, Osvaldo Bulcão Viana, Osvaldo Rodrigues, Konder
Reis, e muitos mais.
A juventude catarinense, durante tantos anos cerceada em sua liberdade de
expressão, viu-se tomada de entusiasmo pela coisa pública, envolvendo-se nas
questões políticas, das quais passou a participar ouvindo rádio (pois não havia
ainda televisão), lendo os principais jornais, “O Estado”, “A Gazeta”, “A
República”, “O Diário da Manhã”. Participava também das alas jovens dos
diversos partidos, de “grêmios estudantis”, etc. Tornou-se comum, por exemplo,
os estudantes da capital trocarem a sessão da tarde do “Cine Ritz”, principal
cinema da cidade, pelas sessões da Câmara dos Deputados, que ocorriam na quadra
seguinte à daquele cinema, na Praça Pereira e Oliveira, onde ficava o belo
palácio neoclássico do Legislativo Catarinense, totalmente destruído, com seu
riquíssimo acervo, por um incêndio, em junho de 1956 e onde, hoje, funciona a
TELESC. Do alto das galerias, passaram os jovens a “torcer” por seus deputados
preferidos.
Esse, pois, o contexto!
Eis o homem!
Enedino Batista Ribeiro criou-se até os quatorze anos, numa grande
fazenda de criação de gado, na divisa com o Rio Grande do Sul. Como no dizer do
poeta, “livre filho das montanhas, pés descalços, peito nu”, galopava o menino
pelas canhadas íngremes de campos verdejantes, extensos bosques de pinheiro e matas
nativas, forjando o caráter, indômito e altivo, ao mesmo tempo simples e sem
jaça, próprio dos altiplanos, até hoje característico do habitante daquelas
paragens.
Apesar do isolamento próprio de uma fazenda, a movimentação era intensa,
não só entre os seus inúmeros moradores, mas de viajantes em trânsito do Rio
Grande do Sul para o município, ou em direção ao litoral sul do Estado, em
busca do caminho mais curto entre as duas regiões, que era a estrada de
tropeiros da Serra do Rio do Rastro. Com o mesmo destino, passavam pela fazenda
as tropas que seriam vendidas naquele litoral.
Acostumou-se, pois, o menino, a participar das animadas conversas que
aconteciam, tanto na sala de visitas, durante o dia, quanto ao pé do fogo de
chão, nas “prosas” noturnas. O principal assunto dessas conversas eram as
novidades políticas trazidas pelos viajantes ao Coronel João Batista Ribeiro de
Souza, pai de Enedino que, assim, se inteirava da situação do país. Era o
coronel um dos mais prestigiados chefes políticos do Partido Republicano no
município, seguindo uma velha tradição de sua família, da qual saíram alguns
dos mais importantes líderes da Região Serrana, como João da Silva Ribeiro,
cujo nome, até hoje, denomina as praças centrais, tanto de Lages, como de São
Joaquim.
Foi depois de viver nas duas maiores metrópoles do país, São Paulo e Rio
de Janeiro, onde se formou em Farmácia, que mais agudamente se conscientizou do
atraso em que se encontrava Santa Catarina, mas principalmente seu município,
isolado entre montanhas.
De volta a São Joaquim, em 1924, inscreveu-se no Partido Republicano,
passando a atuar na vida política de sua cidade.
Em 1944, casado e pai de nove filhos, resolve, com a esposa, mudar-se
para a capital, a fim de proporcionar estudos universitários a todos os filhos.
Em 1950 é eleito deputado suplente pela União Democrática Nacional (UDN).
Exerceu o mandato por nove vezes, entre 1951 e 1954, perfazendo um
período de dois anos e vinte e três dias, cada período, porém, não superior, em
tempo contínuo, a alguns meses, o que muito prejudicou a consistência do seu
trabalho e a aprovação de alguns de seus projetos. Quando assumia, porém, sua
atuação era destacada, porque, por ser um brilhante orador, um trabalhador
pertinaz, se fazia ouvir, e convencia seus pares da importância de seus
pleitos.
Conseguiu aprovar vários projetos nos setores da saúde e da educação, mas
seus esforços concentraram-se em duas áreas que considerava prioritárias para
alavancar a saída imediata da Região Serrana, e principalmente, do seu
município da sua condição periférica no contexto econômico do Estado, sem
infraestrutura apropriada nem ao menos às atividades específicas de sua vocação
natural agropastoril. Tornava-se urgente desencadear uma ação política que
permitisse inserir as prioridades do município nas grandes metas em execução no
Estado, através do Plano de Obras e Equipamentos. Essas duas áreas eram a Agricultura e os Transportes, a segunda suporte da primeira. O Executivo já havia
reconhecido a necessidade de incentivar na Região Serrana a fruticultura de
clima temperado e o cultivo do trigo, ao mesmo tempo, porém, constatando a
impossibilidade de comercializar qualquer produção serrana, pela absoluta falta
de estradas que ligassem o Planalto com o Litoral Sul, canal natural de
escoamento dessa produção. O desenvolvimento dessas duas culturas eram também
importantes em função de um objetivo maior do Estado que era torná-lo
auto-suficiente no setor de alimentos e, ainda mais, otimizá-lo a ponto de
competir com os demais mercados abastecedores do país.
Nessas condições, a solução para o problema da falta de estradas
tornou-se tão, ou mais premente que o anterior. Estado praticamente cortado no
sentido norte-sul pelas altas e rochosas escarpas da Serra Geral, tinha a maior
parte de seu território isolado dos portos do litoral. Cumpre lembrar que nessa
época, quando ainda não havia sido incrementada a indústria automobilística, o
meio de transporte mais utilizado na direção dos grandes centros consumidores,
Rio de Janeiro e São Paulo, principalmente, era o marítimo. Por isso, a
urgência em ligar o interior, por estradas macadamizadas, com nossos principais
portos: Porto União com São Francisco, Curitibanos com Itajaí e São Joaquim com
Laguna.
Outro fator, na Região Serrana, estava a exigir a ligação com o litoral:
era a incipiente, mas fortíssima indústria
madeireira, que rapidamente estava se tornando o principal índice das
exportações catarinenses.
Os Aparatos da Serra, localizados justamente no trajeto São Joaquim – Bom
Jardim – Laguna, o mais curto caminho entre as regiões, eram ponto
inexpugnável, um desafio à engenharia rodoviária.
Pois bem!
Aproveitando o momento propício, imediatamente o deputado serrano
desencadeou as ações necessárias à concretização de seus objetivos. Já em maio,
apresentou uma indicação à Assembléia Legislativa, em conseqüência da qual foi
celebrado no Rio de Janeiro, em 11 de setembro de 1951, um acordo entre o
Governo da União e a Prefeitura, para a instalação, em São Joaquim , de um Posto de Fruticultura, que teve como
primeiro diretor o engenheiro-agrônomo João Palma Moreira. Esse Posto foi o
embrião para posteriores conquistas no setor, como o Projeto de Fruticultura de
Clima temperado de 1968 que, em 1975, acabou por gerar uma Estação
Experimental. Outrossim, em 1991, foi criada a EPAGRI (Empresa de Pesquisa
Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A.), responsável pelo setor
em nível estadual e, portanto, o órgão que continuou a desenvolver os serviços
de pesquisa e extensão agropastoris em São Joaquim. No
ano em curso [no caso, 1999], a Estação Experimental completa 30 anos, com Santa
Catarina na situação de maior produtor de maçãs do Brasil, com 54% da produção
nacional.
Logo após a instalação do Posto de Fruticultura, os técnicos sentiram
necessidade de um posto de meteorologia na cidade, já que os dados climáticos
que subsidiavam seu trabalho vinham dos Aparatos da Serra, no Rio Grande do
Sul, a mais de 60 Km ,
e em um local com altitude de cerca de 600 m , bastante inferior aos 1415 m do posto joaquinense.
Através de uma indicação ao Governo do Estado e de uma exposição de motivos ao
Ministro da Agricultura, o deputado joaquinense conseguiu, em 1952, a instalação, naquela
cidade, de um Posto de Meteorologia.
Concomitantemente, agindo como porta-voz do Governo Irineu Bornhausen, no
dia 17 de maio de 1951, Enedino Batista Ribeiro apresenta uma indicação, com
longa exposição de motivos, encarecendo a urgência da abertura da Serra do Rio
do Rastro, estrada que viabilizaria o escoamento de toda produção do Planalto
Serrano.
Em julho do mesmo ano, ao discursar em Laguna, Irineu Bornhausen anuncia
a ligação direta das duas regiões através dessa rodovia. Mas, mesmo assim, o
deputado joaquinense, incansavelmente, volta à tribuna, reivindicando o
imediato início das obras, o que efetivamente acabou por acontecer ainda em
1951. O fato veio concretizar um velho sonho dos joaquinenses. Já em 1929, por
exemplo, quando da inauguração da rodovia entre Lages e São Joaquim, falando em
nome da Prefeitura, Enedino Batista Ribeiro afirmava que a “abertura dessa
estrada seria o marco da independização da Região Serrana”.
Essa primeira etapa da Serra do Rio do Rastro (como passou a ser
designada a partir de 1955), foi concretizada pela 5ª Residência de Estradas de
Rodagem de Tubarão, porque a 11ª Residência, criada com vistas à execução dos
vários projetos rodoviários de São Joaquim, Bom Jardim, Urubici e Bom Retiro,
só foi instalada, sob a direção do engenheiro Lourenço Faoro, na primeira
dessas cidades, em 1953.
O traçado atual da serra foi calcado na estrada para cargueiros que
ligava Bom Jardim da Serra à localidade de Novo Horizonte no município de Lauro
Müller, numa distância de 14
Km . O traçado completo da obra abrangeu, porém, cerca de
40 Km de
estrada de difícil execução, trecho compreendido entre Lauro Müller e o topo da
serra, sendo também construído ou melhorado o restante do percurso até a cidade
de Bom Jardim. Ao final de sua gestão, Irineu Bornhausen subiu a serra em automóvel. A decisão
e o grande empenho na construção dessa rodovia, considerada a mais bela do
Brasil, orgulho da engenharia rodoviária catarinense, vincularam a obra,
merecidamente, àquele governo, tanto assim que a estrada passou a ser chamada,
oficialmente, “Rodovia Irineu Bornhausen” – a SC 438. A estrada continuou a
receber melhoramentos ao longo das gestões seguintes, sendo que, finalmente,
após 48 anos de beneficiamentos, como esperamos todos, sua implementação estará
consolidada – com a instalação de sua iluminação – obra prometida, não mais só
aos serranos, mas a todos os catarinenses, já que essa rodovia se tornou um
cartão postal de nosso Estado.
Várias outras obras, nos mais diversos setores, foram realizadas com o
concurso de Enedino Batista Ribeiro, mas, me parece, que só as aqui descritas
já bastariam para inscrever seu nome no rol dos joaquinenses que muito
contribuíram para o desenvolvimento de sua terra e de Santa Catarina.
No entanto, o que mais o enobreceu, foi, sem dúvida, o seu exemplo de
vida, inteiramente dedicada à família e à causa pública, em São Joaquim , mas
também em Florianópolis, onde exerceu suas funções com honestidade e empenho,
quer como funcionário público, quer como professor universitário, quer como
deputado.
Por isso, ocorre-me, Senhor Presidente, Srs. Deputados, Prezados Amigos,
como o maior elogio que posso fazer a Enedino Batista Ribeiro, é encerrar o
agradecimento que sua família faz a esta Casa, afirmando que ele, nascido nos
confins de uma fazenda, destinado a simplesmente continuar a trajetória de seus
antepassados, soube transpor inumeráveis obstáculos, o maior dos quais era o
atraso educacional da sua região, e se tornar um dos joaquinenses mais
esclarecidos e cultos de seu tempo, confirmando a lapidar afirmativa “de que na vida não há caminhos; o caminho se
faz ao caminhar!”
Obrigada.
Florianópolis, outubro de 1999.
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Vale
resgatar também, os Anais da Assembleia Legislativa, Estado de
Santa Catarina, período de abril a agosto de 1951, p. 173-175, em que há o
registro da fala de Enedino Ribeiro, então suplente de deputado estadual, sobre
a importância e a urgência da abertura da Serra do Rio do Rastro. Seguem vários
trechos da transcrição de seu discurso:
Anais da Assembleia
Legislativa, Estado de Santa Catarina
Abril a agosto de
1951, p. 173-175
SR. PRESIDENTE – Está inscrito
para falar, na hora do expediente, o sr. Enedino Ribeiro.
O SR. ENEDINO RIBEIRO – Pedi a
minha inscrição para falar na hora do expediente a fim de apresentar uma
indicação. Agora, neste momento, antes de fazê-la, o meu nobre colega, deputado
Francisco Mascarenhas, acaba de informar que sua exa., o senhor Governador do
Estado, deu entrevista a um jornal desta Capital, entrevista esta que se
relaciona com o assunto que hora focalizo. Quero, contudo, dizer aos nobres
colegas, que ignoro os termos dessa entrevista. [...] Principio as minhas
atividades no que concerne, propriamente, às necessidades do município a que
tenho a honra de representar. [...]
Honrado com a preferência da
maioria do eleitorado do meu rincão natal, procurarei não decepcionar aquela
boa gente – que está me estimulando com uma verdadeira chuva de telegramas de
todos os quadrantes do município, sem cor partidária, de congratulações com o
humilde filho de São Joaquim que tem assento nesta Colenda Assembleia, tribuna
do povo, alto falante de Santa Catarina, através da palavra dos seus
representantes.
Senhores deputados – O município
de São Joaquim está completamente isolado do sul do Estado, constituindo a
maior aspiração do seu povo a abertura da Serra do Rio do Rasto[1],
ligando Lauro Müller à vila de Bom Jardim (no planalto), por estrada de
rodagem.
Eu tenho a grata satisfação de
anunciar desta tribuna, às populações de São Joaquim e do sul do Estado, que a
sua velha e cara aspiração está prestes
a realizar-se, por isso que, a ligação desses dois mundos tão diferentes
no seu aspecto físico e tão idênticos nos seus interesses políticos, sociais e
comerciais, faz parte do grandioso plano rodoviário do Estado de Santa
Catarina, cuja remodelação está sendo feita pelo Governo do eminente sr. Irineu
Bornhausen. [...]
Se, pois, dúvida não há quanto à
ligação do planalto catarinense com a região sul do Estado, restar-me-á apenas
demonstrar neste modesto trabalho – por que ponto da Serra Geral deverá
efetivar-se a ligação rodoviária, que só poderá ser no trecho denominado Serra
do Rio do Rasto, pelos poderosos e indisfarçáveis motivos que a seguir vão
expostos: [...]
De 1944 para cá, tanto em baixo
como em cima da Serra, verificaram-se melhoramentos notáveis, como abertura de
pequenos trechos de estradas de rodagem, que devem fixar ainda mais as vistas
do Poder Executivo para a estrada pela Serrado Rio do Rasto ou suas imediações.
Coisa de uns três anos atrás a
Cia. Gaúcha Madeireira de Passo Fundo fez construir grandes serrarias para exploração
em grande escala de pinho-serrado, todas ou quase todas construídas no 2º
distrito de Bom Jardim, prestando relevantes serviços à comuna joaquinense.
Dentre os arrojados empreendimentos da Gaúcha Madeireira, releva notar a
instalação de cabos aéreos numa das gargantas da Serra do Rio do Rasto,
verdadeiro “caminho aéreo” por onde desce toda a produção de suas serrarias
destinadas aos portos de Laguna e Imbituba. Este empreendimento audacioso
trouxe uma consequência inevitável a construção de uma rodovia que ligue os
cabos aéreos à vila de Bom Jardim. De sorte que nos 40 quilômetros aportados
pelo sr. Pedro Brando[2],
distância que separa a vila de Bom Jardim dos trilhos da Estrada de Ferro Dona
Teresa Cristina, apenas oito ou dez não estão entregues ao tráfego pesado de
caminhões carregados.
Verdade seja dita que os 8 ou 10
quilômetros restantes, terão que ser cortados nos ciclópicos paredões da Serra
Geral – o nó górdio – da ligação São Joaquim – Lauro Müller. Entretanto, releva
dizer, homens de boa fé, perfeitos conhecedores daquelas alcantiladas paragens,
afirmam existirem na Serra do Rio do Rasto, à esquerda de quem sobe a Serra
pela atual estrada perfeitamente carroçável, altiplanos (lombas) conjugados a
gargantas (desfiladeiros), que darão excelente traçado, aproveitando-se quase
toda a quilometragem já em tráfego.
Temos certeza que o honrado Chefe
do Executivo Estadual, tão logo seja possível, mandará iniciar pelos seus
engenheiros o estudo in loco daquela
difícil paragem da Serra do Rio do Rasto.
E para encerrar essa exposição de
motivos, que já vai longe, quero levar em imaginação, meus nobre colegas, por
automóvel, do caminho aéreo da boca da Serra do Rio do Rasto à florescente
cidade de Joaçaba. Será isto possível? Perfeitamento, senhores deputados. Seis
horas da manhã. Partida da estação inicial dos Cabos de Aço da Gaúcha
Madeireira; meia hora depois passagem pela vila de Bom Jardim; quinze minutos
mais, passagem pela grande ponte sobre o rio Pelotas, que foi reconstruída no
governo do dr. Aderbal Ramos da Silva, e que é uma grande obra de arte; em
seguida ponte sobre o Rio da Porteira, ponte sobre o Rio Mantiqueira e às 9
horas chegada, com muita sobra de tempo, na cidade de São Joaquim, e teremos
percorrido 60 quilômetros. Prosseguindo viagem para Lages, chegaremos nesta
cidade com 3 horas de corrida sobre 90 quilômetros com uma passagem sobre balsa
no Rio Lavatudo. De Lages a Joaçaba, passando por Campos Novos, pouco menos de
200 quilômetros. Tudo somado, mais o trecho da Boca da Serra a Lauro Müller,
não passa de 370 quilômetros.
Assim teremos uma visão
deslumbradora, e querida ao coração de todos os catarinenses amantes da sua
terra, as pontas dos trilhos da Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina à Estação
ferroviária da Rede Viação Paraná-Santa Catarina, no grande centro industrial
que é Joaçaba.
Recapitulando, para aqueles que
não conhecem de perto a região, não percam de vista, o restinho que nos falta para atingirmos à plenitude dessa estupenda
realidade, repito: restam-nos apenas 10 quilômetros, no máximo, através dos
penhascos da Serra do Rio do Rasto.
Serão esses dez quilômetro, ou
mais um pouco que seja devido às possíveis variantes, um bicho-de-sete-cabeças?
Não acreditamos em
bicho-de-sete-cabeças, quando estão à frente do Governo do Estado e da Secretaria
da Viação Obras Públicas, homens da visão, do patriotismo e do dinamismo de
Irineu Bornhausen e João Colin.
Passo a ler a cópia do ofício dirigido
pela dita Cia. Ao Ministro da Viação e Obras Públicas, General João de Mendonça
Lima, que me chegou às mãos por gentileza do meu particular amigo e distinto
joaquinense José Jaime Vieira Rodrigues:
Cópia do Ofício dirigido pela
Cia. Ao Ministro da Viação e Obras Públicas, General João de Mendonça Lima
Rio de Janeiro, 21 de março de 1944
Exmo. sr.
General João de Mendonça Lima,
DD. Ministro da Viação e Obras
Públicas
De acordo com a exposição que
tive a oportunidade de fazer a v. excia., sobre as possibilidades de ser
melhorada, no interesse coletivo, a estrada de rodagem que liga a região
serrana à estação de Lauro Müller, ponto terminal da Estrada de Ferro Dona
Teresa Cristina no estado de Santa Catarina, e, ainda de acordo com a
autorização que me concedeu v. excia., venho sobre o mesmo assunto apresentar
os motivos seguintes, que justificam o pedido dirigido a v. excia., no sentido
de ser melhorada a citada estrada de rodagem:
1º - A zona Serrana de Bom
Jardim, no município de São Joaquim e no Estado de Santa Catarina, e,
economicamente, um dos principais pontos vitais do estado, quer pela riqueza e
fertilidade do solo, quer pela enorme produção pecuária verificada desde longa
data. Possui extensas e majestosas florestas de pinheiros seculares, cujo
aproveitamento se torna evidente na época atual.
2º - Devido à não existência de
uma rodovia em condições, quase nada
do que existe naquela Região é aproveitável.
3º - A distância que separa a
vila de Bom Jardim (no planalto) e a de Lauro Müller, ponto terminal da Estrada
de Ferro Dona Teresa Cristina, mede 40 quilômetros aproximadamente. a estrada
que liga Lauro Müller e Guatá, numa extensão de 6 quilômetros, já foi
construída pela Cia. Nacional de Barro Branco, em perfeitas condições técnicas,
e está aparelhada para o tráfego pesado, como seja: o transporte do Carvão por
caminhões, etc. Entre as localidade de Guatá e Novo Horizonte (6 quilômetros) e
de Novo Horizonte ao Pé da Serra (6 quilômetros) a estrada atual com pequenas
variantes e com trechos de muito fácil reconstrução, poderá entrar em tráfego
imediatamente.
4º - O Governo Federal, num seu
decreto-lei sobre a construção duma estrada estratégica nesta zona, ligando-a
ao litoral, diz que a mesma deverá unir-se à Estrada de Ferro Dona Teresa
Cristina pelo ponto mais perto, sendo que este é Lauro Müller.
5º - As populações vizinhas
lastimam a falta de comunicação rodoviária rápida com a vila de Bom Jardim,
razão por que isso asseguraria o abastecimento integral dos seus mercados, ora
vazios.
6º - A Companhia Nacional
Mineração de Carvão Barro Branco, dessa Organização, compreendendo as
localidades de Lauro Müller, Guatá e Rio Bonito, no Estado de Santa Catarina,
vem lutando com grande dificuldade para adquirir madeiras de construção. No
presente, devido à intensificação da produção do Carvão, urge aumentar também o
número de casas para dar abrigo a operários recém-chegados, o que facilmente se
poderia executar se houvesse ligação rodoviária com o Planalto Serrano, onde há
madeira em abundância, distante apenas 40 quilômetros dessas localidades.
7º - A mesma Companhia, em
relação ao projeto da construção duma rodovia para trânsito de automóveis e
congêneres, ligando-a a região serrana, está assaz interessadíssima, visando
não só a aquisição de madeiras, mas, também, os produtos lacticínios que lá
serão produzidos eventualmente, bem como outros víveres de primeira
necessidade, tudo para ser destinado ao consumo de seus operários.
8º - Ainda a Companhia Barro
Branco possui, no escritório de seu escritório técnico, um traçado da referida
estrada, cujo plano propõe reduzir 5 quilômetros da distância do caminho
existente, apresentando, também melhores condições técnicas.
9º - A rodovia em apreço já
existe, porém desprezada, carecendo de desvios, alargamento e conserva para ser
transitável.
10º - A Companhia Siderúrgica
Nacional em Tubarão, sem esse empecilho, poderia obter as quantidades
necessárias de madeira para sua utilidade no Estado de Santa Catarina, zona de
Bom Jardim, sem precisar recorrer ao pinho paranaense para efetuar suas
construções.
11º - Quase todas as fazendas
serranas estão providas de quedas d’água que são suficientes para a instalação
de quaisquer indústrias, tais como serrarias, etc.
Caso delibere v. excia. em face
do exposto, pela abertura da estrada mencionada, prontifica-se, caso concorde v.
excia., a Companhia Barro Branco em contribuir prestando assistência técnica aos
trabalhos correspondentes, e concordando também v. excia., os demais
interessados, fazendeiros residentes na vila de Bom Jardim e imediações,
contribuirão pecuniariamente, de acordo com a relação que junto apresente. [...]
Indicação
Sr. Presidente,
O deputado signatário desta,
requer a v. excia., se digne a encaminhar ao Poder Executivo a Indicação
abaixo, depois de aprovada pela Assembleia.
Considerando que consta do Plano Rodoviário
do Estado a ligação de São Joaquim com os municípios do sul;
Considerando que, para o aludido
fim, acham-se em estudo dois traçados para a abertura da Serra Geral, um que
liga a cidade de Orleães à Vila de Pericó, no município de São Joaquim, e o
outro entre Lauro Müller, PONTO TERMINAL DA ESTRADA DE FERRO DONA TERESA
CRISTINA, e a Vila de Bom Jardim (no planalto), tendo como ponto de referência
a Serra do Rio do Rasto;
Considerando que o primeiro
destes traçados atravessa uma região acidentadíssima, numa extensão de cerca de
noventa quilômetros;
Considerando que a distância que
separa a Vila de Bom Jardim e a de Lauro Müller mede apenas quarenta
quilômetros aproximadamente;
Considerando que desses quarenta
quilômetros grande parte já está servida por estrada de rodagem em perfeitas
condições técnicas e aparelhada para o tráfego pesado,
Indicamos
Que o excelentíssimo Sr. Governador
do Estado determine a abertura da Serra do Rio do Rasto, tão logo seja
possível, por estrada de rodagem, ligando a vila de Lauro Müller, ponto
terminal da Estrada de Ferro Dona Teresa Cristina, à vila de Bom Jardim no
município de São Joaquim.
Sala das Sessões, 17 de maio de 1951.
(a.) Enedino Batista Ribeiro
Anais da Assembleia Legislativa, Estado de Santa Catarina. Abril a Agosto de 1951. Cada deputado recebia um exemplar deste documento. |
Serra do Rio do Rastro em fase de construção. Fonte: https://santanamineracao.blogspot.com.br/2013_11_01_archive.html |
Foto antiga da Serra do Rio do Rastro. Fonte: https://santanamineracao.blogspot.com.br/2013_11_01_archive.html |
Serra do Rio do Rastro. (Fonte: site Clickrbs) |
Serra do Rio do Rastro. (Fonte:site GGN) |
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Dados de Enedino Batista Ribeiro:
Nasceu
em 14 de maio de 1899, em São Joaquim da Costa da Serra – SC, Fazenda São João
de Pelotas - divisa com o Rio Grande do Sul.
Morte:
10/04/1989.
Filiação:
João Batista Ribeiro de Souza (1860-1944) e Cândida dos Prazeres Batista de
Souza (1871- 1930).
Casamento: Lydia Palma (01/06/1902 - 14/10/1980),
joaquinense, filha de Ignácio da Silva Mattos (1860 - 15/07/1935), “Inácio
Palma”, e de Esmênia Pereira Machado (27/01/1869 - 16/09/1934), “Ismênia Palma”.
Data
do casamento: 24/04/1926.
Descendência:
1-
Ernani Palma Ribeiro;
2-
João Batista Ribeiro Neto;
3-
Selva Palma Ribeiro;
4-
Yolita Ribeiro Werner;
5-
Yara Palma Ribeiro;
6-
Elba Palma Ribeiro (falecida em 1934);
7-
Ismênia Ribeiro Schneider (nascida Ismênia Ribeiro);
8-
Iponá Ribeiro Szpoganicz (nascida Iponá Palma Ribeiro);
9-
Enedino Ribeiro Filho;
10-
Gleci Palma Ribeiro Melo (nascida Gleci Palma Ribeiro).
Mais
informações sobre Enedino Batista Ribeiro em:
Dados
sobre os filhos:
Notas
[1]
Passou a ser designada como Serra do Rio do Rastro a partir de 1955.
[2]
Ex-superintendente da Cia. Nacional do Barro Branco, técnico no assunto.
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