terça-feira, 27 de junho de 2017

O Nosso Bilhete, endereçado a Walmor Ribeiro – Por Tito Carvalho


 Como referido na matéria anterior (http://genealogiaserranasc.blogspot.com.br/2017/06/rua-tito-carvalho.html), o jornalista Tito Carvalho escrevia uma coluna no Jornal República, intitulada O Nosso Bilhete. Em cada publicação, endereçava um bilhete a uma pessoa real, às vezes uma pessoa pública, outras, uma pessoa desconhecida, de seu círculo de amizade.
        Hoje transcrevemos a coluna do dia 04 de janeiro de 1927, cujo bilhete seria destinado a Walmor Ribeiro, personagem importante da história de Lages e de Santa Catarina.
       Vejam agora O Nosso Bilhete, escrito por Tito Carvalho, e abaixo, mais informações sobre Walmor Ribeiro.


O Nosso Bilhete*
Walmor Ribeiro


Como o prezado amigo, tive, no convívio das estâncias, entre a peonada, de linguajar pitoresco, o vício do enxerto, no falar, de palavras que têm o sabor e o colorido do regionalismo.
Fiquei surpreso, todavia, ao ouvi-lo anteontem, dizendo comovidamente, na ponte da Alfândega, o adeus em nome de nós todos ao senhor ministro Victor Konder.
Não me ative nunca ao cortejar os que desempenham altas funções. Se me estimam, é que tenho alguma qualidade ou virtude que os transforme meus amigos.
Essa virtude será, sem dúvida, a da sinceridade, que se me tornou mais rija a chupar o chimarrão entre os tropeiros e estancieiros, gente franca, leal até o sacrifício.
Conheci-o modesto, médico trabalhador e humanitário.
E agora, venho encontrá-lo, na cidade-capital, com o aprumo de gentleman, do homem, do político, da autoridade que possui o segredo do fascínio.
Sei que orou, naquele momento emocionante, com o coração e a inteligência.
Foi uma breve oração, palavras de despedida, assim como se abanasse um lenço de seda, encharcado da saudade antecipada e do orgulho imenso da nossa gente.
Disse dos grandes destinos a que não fugirão a nossa força e o nosso espírito raciais.
A viagem ministerial conclama “dêem asas ao Brasil”.
O vôo realizado pelo senhor Victor Konder foi, na sua justa expressão, um feito de valor, capaz de picar a admiração continental, desmanchando as longínquas fronteiras até onde chega a simpatia de todos.
O popular vice-governador, que, com o chefe do executivo, são esperanças, ou melhor, realidades indesmentidas, compreende a nossa finalidade, e que entre governantes e governados não há distinção de classes, senão disciplina, ordem e ânsia de progresso.
Da sua oração, ressoam-me à oitiva palavras em que lhe reconheci a sutileza do talento.
“Angústia da alegria”...
Paradoxo?
Seja. Mas, verdade pura.
Angústia da separação, que era, a um tempo, a tristeza pela ausência próxima e a alegria pela atuação dum catarinense, a dar o exemplo de coragem, cortando, tranqüilo, o espaço azul, em remígios de condor, a demonstrar que a nacionalidade precisa não só de redes rodoviárias, mas de aparelhos que nos liguem, uns Estados a outros, mais rapidamente, pelo caminho largo das alturas.
Essa sensação de angústia alegre, eu a sinto aqui, pela revelação que me foi o amigo ilustre, e pela indigência vocabular no grafar o meu pensamento!

Semperque,
João A. Penas


-----

Walmor Ribeiro


            De acordo com Walter Piazza (1994, p. 132), Walmor Ribeiro, ou Walmor Argemiro Ribeiro Branco, era
Natural de Lages (SC), a 11/11/1885, filho de Affonso da Silva Ribeiro e de D. Umbelina Ribeiro Branco.
Fez os estudos primários na cidade natal, bacharelou-se em Letras no Colégio Nossa Senhora da Conceição, São Leopoldo, RS (1897 – 1901).
Regressou a Lages, onde lecionou no Colégio dos Franciscanos (São José) e fez concurso para telegrafista (1902-1906).
Matriculou-se na Faculdade de Medicina de Porto Alegre, RS (1907), transferindo-se para a do Rio de Janeiro (1909), onde se formou (1912).
Clinicou em Lages.
Vereador à Câmara Municipal (Conselho Municipal, à época) de Lages (1920) e foi seu Presidente.
Deputado ao Congresso Representativo do Estado à 11ª Legislatura (1922-1924).
Vice-Presidente do Estado [Vice-Governador] (1926 – 1930), tendo assumido o Governo do Estado (05/12/1927 – 01/02/1928 e 01/12/1928 – 19/02/1929). Após 1930 abandonou as atividades políticas, dedicando-se, tão somente, à medicina e à pecuária.
Faleceu em Nova York, Estados Unidos da América, a 02/08/1952.
Foi casado com D. Honorina Vieira da Costa Ribeiro, de quem houve Afonso Alberto Ribeito Neto (Al Neto).


            No livro Gavião-de-Penacho, Enedino Batista Ribeiro também dedicou uma parte de suas reminiscências para falar de seu amigo Dr. Walmor Ribeiro Branco:

O Dr. Walmor nasceu no dia 11 de novembro de 1885, na Fazenda do “Pinheirinho”, município de Lages, neste Estado. Filho legítimo de Afonso da Silva Ribeiro e de Umbelina Ribeiro Branco, era neto pelo lado paterno, do inolvidável Coronal João da Silva Ribeiro, de quem herdou as peregrinas qualidades de caráter e fino tino político.
Bacharelou-se em Ciências e Letras no conceituado Ginásio Nossa Senhora da Conceição, com sede na cidade de São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Formou-se pela Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro em 1911, abrindo, pouco tempo depois, consultório médico na cidade de Lages. Casou-se, na mesma cidade, com dona Honorina da Costa Ribeiro, de cuja união houve um filho, o Dr. Afonso Ribeiro Neto, conhecido escritor, cronista e jornalista Al Neto.
Desde os primeiro tempos em que iniciou sua clínica, deu provas de ser grande e abalizado médico, tornando-se conhecidíssimo em toda a Região Serrana como cirurgião, oculista e clínico geral.
No que tange a mim, foi, por assim dizer, o médico exclusivo da minha família: a partir de 1913, até 1920, atendeu o Dr. Walmor, ininterruptamente minha mãe; igualmente, nesse período, atendeu a todos os membros da família que, por este ou aquele motivo, precisaram de cuidados médicos. [...]
Fomos sempre bons amigos, o Dr. Walmor e eu, meu parente próximo, primo-irmão.
Eu estava na Assembleia Legislativa do estado, como deputado, quando o nosso parente comum, Celso Branco, fez-me chegar à mão um telegrama de Lages, no qual se fazia a comunicação do falecimento do Dr. Walmor, em Nova Iorque. Para mim foi um grande choque, pois nem sabia que o meu velho amigo estava doente; chorei sentidamente o seu desaparecimento. O Dr. Walmor tinha sido, ou ia ser operado de um câncer no estômago, quando o coração começou a traí-lo, vindo a falecer bruscamente. Por exigência das leis norte-americanas, o corpo do ilustre lageano não pôde ser repatriado, sendo destruído em forno crematório, suas cinzas recolhidas a uma urna e por sua mulher e filho, conduzidas para Lages.
No dia 7 de abril de 1953, teve lugar a cerimônia fúnebre da encomendação das cinzas do Dr. Walmor. Foi celebrante S. Excia. Revma. Dom Daniel Hostin, junto ao mausoléu erigido da Fazenda do Pinheirinho, berço do inesquecível morto. O Dr. Afonso Ribeiro Neto discursou na ocasião, relatando os últimos momentos de seu pai, e qual sua última vontade.
Foi dessa forma que desapareceu o humanitário e grande médico. (Ribeiro, 1999, p. 299-301).


            Na sequência, Enedino Batista Ribeiro transcreveu o artigo de Al Neto (filho do Dr. Walmor), afirmando que:
Muito melhor que eu faria, [o artigo de Al Neto] estereopita a estatura moral e intelectual do homem cuja passagem por este mundo marcou época nos fastos da história médica, social e política de Santa Catarina (RIBEIRO, 1999, p. 301).



NOS BASTIDORES DO MUNDO
POR AL NETO**

Dr. WALMOR
NOVA IORQUE – Faleceu aqui em Nova Iorque um brasileiro cuja vida foi um exemplo de coragem, nobreza e dignidade.
No Estado de Santa Catarina, de que uma vez foi Governador, era conhecido simplesmente pelo primeiro nome: Dr. Walmor.
Especialmente na região serrana do Estado, nos municípios de Lages, São Joaquim, Curitibanos e outros naquela época, quase não havia quem não conhecesse o Dr. Walmor.
E mesmo no Rio, e em outras partes do Brasil, o nome deste homem bom e honesto era pronunciado com respeito nos mais variados setores.
Nascido em Lages, no planalto catarinense, ele fazia parte de uma das mais tradicionais famílias da região. Em Lages há ruas e praças com o nome de antepassados e parentes de Dr. Walmor.
Foi ele o primeiro filho de Lages a formar-se em medicina.
Tinha alma de médico.
Naqueles tempos difíceis, há uns 30 anos passados, o exercício da medicina no interior da Brasil requeria uma coragem e uma nobreza excepcionais.
Não havia transportes adequados, nem estradas. E quantas vezes era no lombo do cavalo, pelas noites de tempestades, através de matos e campos, que o Dr. Walmor saía a atender doentes.
Os rios não eram obstáculos para este homem de têmpera de aço. Cercado uma vez por uma cheia do Rio Canoas, na região do Figueiredo, ele meteu cavalo rio adentro, e o animal nadando, ele agarrando às crinas, chegou do outro lado. Do outro lado havia uma pobre cabocla que se esvaía em sangue sem poder dar à luz. Ele chegou a tempo de socorrê-los e salvou a ambos, mãe e filho.
Ao mesmo tempo que exercia a medicina, o Dr. Walmor cuidava de uma fazenda, trabalhando assim numa das indústrias essenciais para a alimentação do povo.
Um dia, alguém se lembrou de incluir o nome do Dr. Walmor na chapa para o Governo do Estado. E o povo que já o conhecia e queria bem, o elegeu sem vacilar.
O período em que este homem bom, que nunca aprendeu as artimanhas da política e costumava dizer que os cargos públicos não se solicitam nem se recusam, o período do Dr. Walmor no Governo do Estado, depois da saída do Dr. Adolfo Konder, foi interrompido pela renúncia. Ele renunciou por não querer transigir com os princípios morais pelos quais sempre conduziu todas as ações de sua vida.
Pouco depois que havia renunciado, rebentou a Revolução de 1930. Por ter sido honesto e incorruptível, o Dr. Walmor livrou-se da ira dos revolucionários, que puseram o Governador substituo na cadeia.
O Dr. Walmor nunca foi homem de partido no sentido estrito da palavra. Se bem fosse amigo de Walmor Washington Luís, nem por isso deixava de ter amigos na outra facção, o que naquela época era quase inacreditável.
Ultimamente, aos 66 anos de idade, ele se dedicava a atender aos doentes pobres de Lages, e a criar bois para o consumo da população.
Com exceção dos meses de inverno, que passava no Rio de Janeiro, o Dr. Walmor morava em Lages na maior parte do tempo. E num “bungalow”, que ele chamava de “Meu Cantinho”, atendia os doente pobres que vinham, às vezes, de muito longe, para consultá-lo.
Aqui em Nova Iorque, no hospital em que estava internado, vítima de uma moléstia incurável, estendeu a mão e disse-me:
“Nunca se esqueça daqueles que não têm ninguém por eles!”.
E assim expirou o Dr. Walmor. Era meu pai.


Dr. Walmor Ribeiro Branco (Fonte: PIAZZA, 1994).


Notas:
       1. Walmor Ribeiro era vice do Governador Adolfo Konder. Substituiu-o “em seus afastamentos temporários, ora por viagens, doenças e outros motivos” (FERNANDES, 2010).
     2.  Al Neto era “advogado, jornalista, escritor (poliglota) e impecável comentarista de televisão, retornou a Lages depois de viver, desde novo, na Inglaterra, Estados Unidos e Rio de Janeiro, exercendo atividades superiores junto à USIS (United States International Sistem), órgão de divulgação americana para os países de idioma de origem latina de todo o globo” (MACHADO, 2008).

 ---
* Transcrito em: FLORES, Simone Constante. Do texto à história: cotidiano catarinense nas crônicas de Tito Carvalho – Fixação de crônicas. Dissertação de mestrado, Curso de Pós-Graduação em Literatura, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, 2005.
** Publicado no livro Gavião-de-Penacho: Memórias de um serrano, 1999 (referência completa abaixo).
 ---


Referências

FERNANDES, Névio Santana. Governadores Lageanos. Disponível em: http://www.clmais.com.br/informacao/154292/?old. Acesso em: 22/06/2017.

MACHADO, Agilmar. Al Neto (Afonso Alberto Ribeiro Neto). Blog Jornal Nosso Tempo. 2008. Disponível em: http://jornalnossotempo.blogspot.com.br/2008/08/al-neto-afonso-alberto-ribeiro-neto.html. Acesso em: 22/06/2017.

PIAZZA, Walter Fernando (org.). Dicionário Político Catarinense. Florianópolis: Edição da Assembleia do Estado de Santa Catarina, 1994.


RIBEIRO, Enedino Batista. Gavião-de-Penacho: Memórias de um serrano. Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina. Florianópolis: IHGSC, 1999.

terça-feira, 20 de junho de 2017

Rua Tito Carvalho

Ismênia Ribeiro Schneider
Cristiane Budde

            Ainda no centro da cidade de São Joaquim (SC), localiza-se a Rua Tito Carvalho, que homenageia um personagem bastante importante, mas sobre o qual muitas pessoas não têm conhecimento.
            Tito Carvalho nasceu em Orleans (SC), em 04 de janeiro de 1896. Era filho de Antônio Luiz Gomes de Carvalho, próspero comerciante e influente político, e de Maria Cascaes de Carvalho[i].
Foi um grande jornalista e escritor. Em suas obras literárias, buscava retratar o regionalismo, principalmente, da Região Serrana. De acordo com Pereira (2002, p. 78), poucos autores catarinenses
“buscaram temas e inspiração nas raízes mais profundas da cultura e das tradições fundadoras da terra, apropriando-se dos falares regionais [...] para um trabalho de recriação artística da linguagem. Quem melhor o fez foi Tito Carvalho (1896 – 1965), que centrou sua ficção no Planalto Serrano, submetendo o vigoroso dialeto campeiro, com sua sonoridade marcante e seus espanholismos, a um paciente trabalho de recriação artesanal”.
Tito Carvalho se casou com Lorena Pereira Cascaes, com quem teve três filhos: Ney Bonjoanni, Léa-Maria (nasc. 1920) e Tito (nasc. 1939), que faleceu pouco tempo depois, em 1942. Após o matrimônio, Tito Carvalho se mudou para São Joaquim (por volta de 1917ii), onde foi Secretário Municipal e atuou, também, como advogado. Fundou ali naquele município, o jornal Correio Serranoii.
            Durante sua vida e profissão, mudou-se diversas vezes de cidade. Segundo Flores (2005, p. 29), “a morada em cidades como São Joaquim permitiu-lhe, ainda, ampliar o contato com a cultura e o linguajar serrano. Como ele mesmo afirmou, teve, ‘no convívio das estâncias, entre a peonada, de linguajar pitoresco, o vício do enxerto, no falar, de palavras que têm o sabor e o colorido do regionalismo.’ E esse hábito de enxertar palavras de sabor regionalista também se observa em muitas de suas crônicas, principalmente em seus bilhetes, de tom mais informal”.
           
            Vejamos mais alguns detalhes sobre a vida profissional de Tito Carvalho:
Em 1911, com apenas quinze anos, Tito publicou suas primeiras histórias nos jornais O Fiscal, de Tubarão, e O Albor, de Lagunai,ii. Mais tarde, em 1915, tornou-se redator de A Folha do Sul e contribuiu com a Gazeta Orleanense.
Em 1920 publicou o conto Bulha d’arroio pela revista Terra, da Academia Catarinense de Letras, nome que seria atribuído, mais tarde, ao seu primeiro livro, publicado em 1939i.
Em 1922 foi convidado por Hercílio Luz, então Governador do Estado, para ser redator do jornal República, onde teve a oportunidade de exercer sua vocação literária, e onde também abriu mais espaço para as Letras e para os artistas locais divulgarem seus trabalhosi.
Em 15 de fevereiro de 1925 foi recebido como membro da Academia Catarinense de Letras, ocupando uma de suas cadeiras.
Durante o período em que o jornal República permaneceu fechado, todo o ano de 1925 até setembro de 1926, Tito Carvalho colaborou com a redação dos jornais A Cidade, de Laguna (SC), e A Pátria, do Rio de Janeiro.
Em 1926, quando retornou a suas atividades no jornal República, suas crônicas passaram a focar mais nos acontecimentos relacionados ao fim da República Velhaii. Ele possuía uma coluna, inicialmente denominada O meu bilhete, depois, passando-se a chamar O nosso bilhete (a partir de dezembro de 1926). Nessa coluna, escrevia bilhetes endereçados a pessoas reais, às vezes pessoas públicas, outras, pessoas desconhecidas, de seu círculo de amizade.
Tito Carvalho utilizava um pseudônimo, que se alterou com o passar do tempo. Inicialmente, encerrava suas crônicas assinando: “João, apenas”. De acordo com Flores (2005, p. 59),
esse nome passou por um processo criativo. Na palavra “apenas”, o escritor leu “penas”, o que se associa à escrita e às palavras. Alcançou-se, assim, o instrumento e o meio de trabalho do escritor em um único nome – “João A. Penas”. Mais adiante, a ênfase na produção escrita aumentou, quando o nome “João” foi resumido, e o pseudônimo passou a “J. A. Penas”. Assim, o cronista parece se autodenominar aquele que tem a pena, que domina a escrita e a tem em evidência em sua vida. Até que ponto essa denominação serviu para evitar que sua identidade real fosse preservada é impossível saber, tendo em vista que ocupava posição de destaque no jornal em que trabalhava, era conhecido no meio jornalístico e, principalmente, as pessoas que maior influência poderiam ter sobre ele sabiam a quem remetia tal nome, sem esquecer, também, que nenhuma crítica extremada foi feita sob tal identidade.
Tito Carvalho ainda colaborou com diversos outros jornais comoi:
- O País (RJ);
- A Noite (RJ);
- A Cidade (Laguna, SC), foi redator;
- O Libertador (Itajaí, SC), foi redator;
- A Cidade de Blumenau, foi diretor;
- O Estado, foi redator;
- Diário da Tarde, foi redator;
- República, assumiu a direção em 1938.
Também atuou na Agência de notícias Asapress, em 1945, passando a residir no Rio de Janeiro. De 1946 a 1953, foi cronista parlamentar na Câmara e no Senado (RJ). Em 1948 foi enviado à Colômbia, Bogotá, como jornalista, com o intuito de fazer a cobertura da IX Conferência Interamericana. Nesse mesmo período, “ocorreu a Revolução que acabou depondo o Presidente da Colômbia” (FLORES, 2005, p. 28).
Em 1956, retornou para Florianópolis e assumiu a direção do Diário da Tardei.
Em 1961, foi nomeado diretor da Biblioteca Pública do Estadoi.
Segundo Flores (2005, p. 29),
Além de seu trabalho na imprensa, publicou a coletânea de contos regionais Bulha d'arroio (1939) e o romance regionalista Vida Salobra (1963). Antes de morrer, preparava a edição das crônicas escritas para a coluna Gente do meu caminho, publicadas na Tribuna da Imprensa de 1955 a 1956; e de um livro com os artigos que produzira sobre a Conferência de Bogotá e a Revolução Colombiana, trabalho que ficou inacabado devido a seu falecimento em 15 de julho de 1965”.
Essas duas obras, Bulha d'arroio e Vida Salobra (1963), ficaram muito tempo sem serem reeditadas e publicadas. Somente em 1992 foi lançada uma reedição pela Fundação Catarinense de Cultura. Também por essa instituição, vida e obra do autor foram publicadas. Contudo, não é fácil encontrar qualquer uma dessas obras à venda (normalmente são encontradas apenas em sebos), de modo que o trabalho de Tito Carvalho ainda permanece “pouco conhecido, apesar de constituir obra única no universo ficcional catarinense por sua relevância temática e linguística” (PEREIRA, 2002).



Rua Tito Carvalho, São Joaquim (SC).


Referências



[i] FLORES, Simone Constante. Do texto à história: cotidiano catarinense nas crônicas de Tito Carvalho – Fixação de crônicas. Dissertação de mestrado, Curso de Pós-Graduação em Literatura, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, SC, 2005.
[ii] Prefeitura de Orleans, SC. Cultura, 2013. Disponível em: http://orleans.sc.gov.br/2013/index.php?option=com_content&view=article&id=78&Itemid=519. Acesso em: 12/06/2017.
PEREIRA, Mário. Ao pé da letra: Escritores catarinenses contemporâneos e outros textos. Editora Garapuvu: 2002.  Agradecimento a Henrique Brognoli Martins, que nos enviou esse livro.

terça-feira, 6 de junho de 2017

Rua Ismael Nunes

Ismênia Ribeiro Schneider
Cristiane Budde

            Ainda no centro da cidade de São Joaquim (SC), em paralelo à Rua Lauro Müller, localiza-se a Rua Ismael Nunes, que homenageia um dos prefeitos que o município já teve. Ismael Nunes exerceu o cargo por dois mandatos: de 1951 a 1956; e de 1961 a 1965.
            Ismael Nunes sempre se dedicou à agricultura e à pecuária, mas também se interessava por política. Em 02 de janeiro de 1947 foi nomeado Delegado do Partido Social Democrático (PSD) da 28ª Zona Eleitoral do Estado. Foi nomeado pelo Presidente da Comissão Executiva em Santa Catarina, então Nereu Ramos. Ismael foi filiado ao PSD até 1950, quando foi convidado a se filiar à União Democrática Nacional (UDN), partido pelo qual se candidatou à Prefeitura Municipal (em 1950).
Em 1960, por divergência de opiniões (assim como já ocorrera em 1950), Ismael Nunes desligou-se da UDN, filiando-se ao Partido Liberal (PL). Com outros colegas dissidentes, formaram a Comissão Interpartidária, juntamente com outros partidos: PSD, Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Democrático Cristão (PDC) e PL.
Em julho de 1960, vários líderes da Comissão Interpartidária propuseram que Ismael Nunes se candidatasse novamente à Prefeitura de São Joaquim. Apesar da relutância dele e da família, Ismael acabou aceitando. A disputa entre a Comissão Interpartidária (conhecida como lenço vermelho) e a UDN (lenço branco), com o candidato Fúlvio Amarante Ferreira, foi bastante acirrada, mas Ismael Nunes acabou como vencedor por nove votos.

Panfleto de Campanha de Ismael Nunes para Prefeitura de São Joaquim/SC (Disponibilizado por Rogério Palma de Lima no site Genoom).
.


Enquanto prefeito realizou grandes feitos e teve considerável participação em outras realizações, que auxiliaram o desenvolvimento do município. Dentre eles, podemos citar:
- O primeiro calçamento de rua da cidade: Rua Manoel Joaquim Pinto (trecho que ia da Casa de Pedra até o Armazém Caju (depois Edifício Peg-Pag));
- Durante seu governo, em 1952, foi realizada a 1ª Festa da Maçã;
- Em 1953 foi criado o Posto de Fruticultura de São Joaquim, visando pesquisar sobre o comportamento das fruteias no clima do município;
- Em 10 de agosto de 1953, Ismael Nunes adquiriu um terreno na Fazenda Morro Agudo, com 288.181,50 m², para construir o Aeroporto Municipal, que mais tarde também recebeu seu nome em forma de reconhecimento pelos seus trabalhos;
- Também durante seu primeiro mandato, nos primeiros anos da década de 1950, iniciou-se a abertura da Serra do Rio do Rastro;
- Adquiriu o primeiro trator de esteira e o primeiro trator agrícola para o Município;
- Comprou uma gleba de terra nas proximidades da cidade, onde passou a funcionar um campo de futebol em 1954;
- Em 18 de maio de 1963, foi inaugurada a Rádio Difusora, com a presença do Prefeito Ismael Nunes, do Governador Celso Ramos e de autoridades locais. Ismael Nunes era um dos 19 sócios da rádio;
- Em 1965 foi inaugurada a ponte sobre o Rio Lavatudo. Até esse momento, o transporte só ocorria por balsa, sistema demorado e que dependia das condições climáticas;
- Em 1965 foi instalada energia elétrica fornecida pela CELESC, e inaugurada pelo então Governador Celso Ramos. Anteriormente, a Prefeitura fornecia energia por meio de um gerador, comprado em 1947, e que era desligado às 22h.


Lei de 1983 que denomina o Aeroporto Municipal de São Joaquim como “Aeroporto Prefeito Ismael Nunes”.


Lei que alterou o nome da Rua Laguna para Rua Ismael Nunes, em novembro de 1982.



Ancestrais e descendentes de Ismael Nunes

            Ismael Nunes nasceu em 04 de março de 1909, na localidade de Chapada Bonita, em São Joaquim-SC. Filho de João Fermino Nunes e de Maria Lydia Medeiros.
João, por sua vez, era filho de Fermino José Nunes (chegou a São Joaquim por volta de 1800, vindo de Santo Antônio da Patrulha, RS) e de Anastácia Maria Martins.
Maria Lydia Medeiros, natural de Tubarão (SC), era filha de Joaquim Antônio de Medeiros e de Fermina Francisca de Medeiros.
           
Ismael Nunes casou-se em primeiras núpcias, em 22 de dezembro de 1930, com Erothides Costa (06/10/1912 – 15/12/1934), com quem teve uma filha: Soely Costa Nunes (nasc. 06/12/1932).
Erothides era filha de Polycarpo Souza Costa (08/05/1879 - 18/08/1946) e Joanna de Lima Costa (nasc. 12/06/1883), residentes na localidade de Urubici.
           
Em 28 de maio de 1938, Ismael contraiu seu segundo matrimônio com Zélia Ribeiro (19/10/1914 – 12/09/1983), filha de Gaspar da Silva Ribeiro e Joana da Silva Mattos. Matrimônio em: 28/05/1938, São Joaquim, SC.
            Ismael e Zélia tiveram seis filhos:
F1 – MARIA LIDIA RIBEIRO NUNES (nasc. 26/02/1939), c.c. João Emílio de Souza Neto (05/12/1938 - ?);
F2 – JOÃO GASPAR NUNES (31/03/1940 – 12/04/1942);
F3 – JOSÉ CARLOS RIBEIRO NUNES (nasc. 20/09/1941), c.c. Rita de Cássia Waltrick Nunes (nasc. 01/01/1945);
F4 – SEBASTIÃO IVAN NUNES (nasc. 24/12/1942), c.c. Lélia Pereira da Silva Nunes (nasc. 18/09/1946);
F5 – JOANA TEREZINHA RIBEIRO NUNES (nasc. 02/04/1944), c.c. James Chiodelli (nasc. 29/06/1943);
F6 – FILOMENA RIBEIRO NUNES, “Mena” (nac. 11/09/1945), c.c. Elvio Rogério V. Esteves (nasc. 01/03/1941).


Zélia Ribeiro Nunes e Ismael Nunes. Filhos começando pela esquerda: Filomena (Mena) Nunes Esteves, Sebastião Ivam Nunes, Joana Terezinha Nunes Chiodelli, José Carlos Nunes e Maria Lídia Nunes Souza. (Agradecimento a Mena Nunes)


Ismael Nunes faleceu em 10 de julho de 1982 (infarto agudo do miocárdio), em São Joaquim-SC, e foi sepultado no cemitério da família, na Chapada Bonita.



Rua Ismael Nunes, São Joaquim (SC).



Referências

·         LIMA, Rogério Palma de. Dados sobre a Família Nunes, inseridos no site Genoom.

·         Documentos de Ismael Nunes disponibilizados por Rogério Palma de Lima:
¨   Matrimônio com Zélia: https://familysearch.org/pal:/MM9.3.1/TH-267-12694-20797-54?cc=2016197&wc=M94J-8CD:n873321358
- Matrimônio com Erothides: https://familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HT-65D7-RW?i=24&wc=MXYR-JP6%3A339717601%2C339717602%2C339765501&cc=2016197. Óbito de Erothides: https://familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HT-65D7-56?i=24&wc=MXYR-RP8%3A339717601%2C339717602%2C339836301&cc=2016197 
·   Árvore Genealógica da Família Nunes a partir de Fermino José Nunes e Biografia de “Ismael Nunes” – Seus ancestrais, seus descendentes, suas realizações. Documentos fornecidos por Filomena Ribeiro Nunes, “Mena”, em 2005. Arquivo pessoal de Ismênia Ribeiro Schneider.


·         Conhecendo São Joaquim, de Rosemere Mariotti Machado e João Batista de Oliveira, 2000.