Artigo apresentado na I Congresso Catarinense de Genalogia - Lages - setembro de 2007
Ismênia Ribeiro Schneider
Introdução
A história do povoamento da Região Serrana de Santa Catarina pelo homem branco teve início, segundo a maioria dos historiadores, Costa (1995) por exemplo, depois da abertura do Caminho dos Conventos, ocorrida de 1728 a 1730, pelo Sargento Mor Francisco de Souza Faria. Esses primeiros povoadores eram geralmente tropeiros que já conheciam os campos de Viamão, RS, e que vieram se estabelecer nas áreas devolutas dos “Campos de Lages”, pois “é sabido que, para estimular o povoamento, a ocupação do interior da colônia, o governo português concedia privilégios especiais aos que se fixavam no lugar: não ser preso nem processado por dívidas contraídas anteriormente, concessão de sesmarias, etc.” (Costa, 1995)
Antonio Correa Pinto era um desses pioneiros, estabelecido na região com duas fazendas de criação de gado. Devido ao seu conhecimento da área e liderança, foi convocado a São Paulo, província à qual eram subordinados os campos de Lages, para neles fundar uma cidade que contivesse o avanço dos “espanhóis confinantes”. Correia Pinto chegou à região em 1768, mas só fundou a póvoa “Nossa Senhora dos Prazeres das Lages” em 22 de maio de 1771. É nesse território, assentado em vasto planalto, coberto por férteis campos de pastagens naturais, por muitas zonas montanhosas, por densas matas de flora nativa, onde predominava a araucária, de clima rigorosissimo no inverno, que foram se estabelecendo famílias de origem portuguesa, provindas principalmente de São Paulo, mas também do litoral sul de Santa Catarina, de São Miguel a Laguna, da Região Serrana do Rio Grande do Sul (Vacaria, Bom Jesus, São José dos Ausentes), e de Viamão, Santo Antonio da Patrulha, etc.
Nesses primeiros tempos, as fazendas eram poucas, mas muito extensas e, por isso, bastante afastadas umas das outras, igualmente distantes da única cidade existente, Lages, sem outro meio de transporte que não o cavalo. Esses obstáculos oportunizaram o surgimento de uma população significativamente homogênea, com uma única atividade econômica, a pastoril. Geraram uma cultura também única, com uniformidade de hábitos, costumes, tradições, valores morais e religiosos, etc. Dentre as tradições familiares, cumpre salientar o costume do casamento consangüíneo, importante item para a compreensão do estudo genealógico das estirpes serranas que, por falta de oportunidades de os jovens se conhecerem e encontrarem fora do entorno de fazendas vizinhas, geralmente pertencentes a famílias do mesmo tronco, incentivavam o casamento entre primos em vários graus, tio/a com sobrinho/a, etc.
Somente a partir de quando passaram a ser fundadas novas vilas, com a conseqüente aportagem de famílias com perfil diferenciado, de comerciantes, funcionários públicos, etc, em meados do séc. XIX, período em que igualmente começaram a se instalar na região cidadãos de outra etnias, como a alemã, a italiana e várias outras, observou-se uma lenta abertura para essas novas culturas, constatando-se, porém, paradoxalmente, que a influência maior e permanente, deu-se do nativo sobre o forasteiro: este assumiu, sem restrições, a vida típica da região, e tornou-se, como aquele, pecuarista e dono de terras. E só depois da abertura e cobertura asfáltica das inúmeras estradas de rodagem que a comunicaram com as demais regiões do estado, já no séc. XX, é que a modernidade chegou à área..
Por outro lado, nas comunidades interioranas, até meados do séc.XIX, a população era praticamente analfabeta, principalmente as mulheres. Só quando se estabeleceu a norma de os fazendeiros contratarem professores para ensinarem os filhos nas próprias fazendas é que as crianças e os jovens começaram a ser alfabetizados. A edição de livros, revistas e jornais só existia nos grandes centros urbanos, de onde era necessário virem as cartilhas, as “lousas” (lâmina fina de ardósia com moldura de madeira, usada antigamente pelos estudantes, que nelas escreviam com giz) e todo o material necessário aos estudantes. Assim, muitas gerações de serranos permaneceram também no isolamento intelectual, sem informações de espécie alguma. O conhecimento restringia-se às informações sobre a genealogia e as tradições familiares, transmitidas oralmente de pais para filhos. Poucas famílias cultivavam o hábito de guardar documentos, circunstância que agravou a perda progressiva do registro escrito da história local.
A transformação cultural gerada pela progressiva sistematização da educação, primeiro na informalidade do ensino nas fazendas, depois na abertura de escolas primárias particulares em Lages e em algumas poucas outras vilas, o envio dos filhos homens ao estudo fora, principalmente
em São Leopoldo, RS, começou, como era inevitável, a mudar a mentalidade, que se voltou, acentuadamente, para o resgate histórico-genealógico dos primeiros povoadores e suas famílias, pois tal conhecimento propiciaria uma melhor compreensão do processo civilizatório da Região Serrana.. Mas foi a abertura de universidades interioranas, como a UNIPLAC de Lages, que consolidou as conquistas mais importantes: a abertura de bibliotecas e museus locais, a intensificação da qualificação de professores e historiadores, o que engendrou uma nova comunidade intelectual que, a par de seu trabalho específico, passou a incentivar e orientar as pesquisas “leigas”, valiosas e indispensáveis também ao resgate da memória da comunidade serrana.
Partindo desse universo sociocultural, e utilizando farto material histórico-genealógico deixado pelo historiador serrano Enedino Batista Ribeiro, do qual esta pesquisadora é depositária, procurou-se aprofundar e completar seus estudos, realizados entre 1950 e 1980, facilitados modernamente pelos recursos da Informática e pelas novas abordagens dos estudos históricos. Procura-se resgatar as genealogias e a memória histórica de dez gerações de famílias do Tronco RIBEIRO, nove gerações do Tronco SOUZA, nove gerações do Tronco PALMA, e outro tanto de alguns outros troncos, importantes na historiografia da região. O estudo das três primeiras estirpes citadas configuram uma amostragem do perfil da população serrana.
A fonte de pesquisa mais rica e elucidativa para esta pesquisa foram os quinhentos inventários da antiga Comarca de Lages, arquivados no Museu do Judiciário de Santa Catarina, em Florianópolis, referentes ao período 1840-1888, mais os inventários da Segunda Vara do Fórum da Comarca de São Joaquim, SC, de 1888 até os nossos dias.
Talvez seja pertinente esclarecer a importância do inventário para o estudo genealógico de uma família das primeiras gerações: o processo, instaurado geralmente até dois meses após o falecimento do inventariado, quando os dados estavam ainda bem presentes na memória de todos os interessados e da comunidade, registrava a data da morte ( o que permite ao genealogista atual situar no tempo o personagem pesquisado), o nome do cônjuge, a lista completa dos herdeiros, com a data de nascimento de cada um, o esposo das filhas mulheres, a relação de todos os bens de raiz ( fazendas, casas e benfeitorias) os bens móveis e os semoventes ( escravos, gado, animais cavalares). Os primeiros “semoventes” relacionados, como se vê, eram os escravos, portanto, não considerados como “seres humanos”, mas como animais Todo o espólio era explicitado com os valores financeiros de cada item, o que permitia calcular o montante dos bens da família. Era especificado também a “legítima” de cada herdeiro, isto é ,quanto cada um receberia de bens, o quê e aonde ficavam os que lhe couberem na partilha É uma verdadeira descrição da vida de cada família. O Inventário, além disso, pela exatidão de suas informações, é uma das fontes mais confiáveis de que dispõe o pesquisador atual para descobrir dados tão recuados no tempo.
Metodologia
A presente pesquisa utiliza-se de metodologia qualitativa, realizada através de análise documental, análise bibliográfica e história oral. Foram suas fontes:
1. Arquivo particular e os livros “Gavião-de-Penacho, História de um Serrano” e “São Joaquim, notícia estatístico-descritiva” de Enedino Batista Ribeiro;
2. Arquivo particular de Ismênia Ribeiro Schneider;
3 .Estudos realizados por outros pesquisadores sobre famílias colaterais das acima citadas;
4. Inventários (principalmente os arquivados no Museu do Judiciário Catarinense), certidões de casamento, de nascimento e de óbito (pesquisa documental);
5. Entrevistas com pessoas de idade que conhecem a história familiar, usos e costumes serranos (história oral).
6. Literatura especializada na história de Santa Catarina e do Planalto Serrano;
Os dados são arquivados em:
1.Fichário contendo a ficha pessoal de todos personagens pesquisados;
2.Fichário com a relação de todas as famílias da linhagem principal e das colaterais;
3.Levantamento e localização das fazendas que pertenceram às famílias citadas.
Um dos principais objetivos deste estudo é a criação de árvores genealógicas das famílias Souza e Ribeiro, troncos principais e colaterais, que poderão servir de subsídio para futuros estudos genealógicos a serem desenvolvidos sobre essas e outras famílias e sobre a cultura serrana.
O Perfil da População Serrana: Hábitos e Costumes
Nessa extensa área, até 1873 (fundação de São Joaquim), a única cidade existente era Lages que, por isso, era o centro aglutinador de todas as atividades jurídicas, sociais, políticas e religiosas da Comarca. Dela faziam parte os atuais municípios de Campo Belo do Sul (Baguais), São José do Cerrito, Correia Pinto, Ponte Alta, Palmeira, Otacílio Costa, Bocaina do Sul, Bom Retiro, Urubici, Rio Rufino, Bom Jardim, São Joaquim, Urupema (Santana), Painel e Lages. Não havia, porém, nenhuma subdivisão territorial, administrativa ou religiosa. Era uma imensa e única área devoluta, selvagem, de clima rigorosíssimo no inverno.
A quase totalidade da população morava em fazendas praticamente isoladas umas das outras e da cidade. A maioria das famílias possuía uma residência na “vila”, para onde se deslocava quando o inverno se tornava mais rigoroso, ou em ocasiões especiais: batizados, casamentos e enterros (apesar de que havia cemitérios nas propriedades, dada a dificuldade de se transportar os mortos para a cidade), eleições, reuniões do Tribunal do Júri, Natal, Páscoa, Festa do Divino, etc O isolamento das propriedades estabeleceu um código de hospitalidade, boa vizinhança e cortesia que caracteriza o serrano até hoje e faz dele um membro da “fidalguia rural”, no dizer de Licurgo Costa.
Um dos traços da cultura açoriana/portuguesa presente na Serra Catarinense, nos séculos passados, era a Festa do Divino, quando as famílias da comarca se reuniam em Lages. Essa era uma festa típica, muito importante para a sociedade local, apesar de não seguir todos os detalhes da festa açoriana. Era a principal ocasião de encontro dos jovens da região. A simplicidade de hábitos e costumes dos fazendeiros e suas famílias pouco se diferenciava da dos seus agregados e peões. Nos primeiros tempos, as casas eram de madeira, cobertas de capim, depois de tabuinhas e só mais tarde, de telhas. A partir de meados do século XVIII, muitas sedes de fazenda foram construídas com “pedra-ferro”(basalto), ou de alvenaria. Não havia vidraças. No inverno, as pessoas se reuniam ao redor do “fogo de chão”, em “galpão” especial, contíguo à cozinha, sentando-se em bancos forrados com “pelegos”(couros de ovelha curtidos, muito quentes, utilizados também dentro de casa, como tapetes). Nessas “rodas de galpão”, corria o chimarrão, eram assados pinhões (no inverno) e espigas de milho verde, assim como uma manta de carne ou charque, cortada em fatias e comida sem talheres ou pratos. Eram contados casos de assombração, de namoros ou visitas entre os vizinhos. Ali eram planejados os trabalhos do dia seguinte, etc.
A falta de luz elétrica criou o hábito de deitar cedo e levantar com o “cantar do galo”, isto é, ao amanhecer. Durante o dia, a casa ficava parcialmente aquecida com o calor do fogão a lenha (usado até hoje), instalado na cozinha, que era, por isso, o local central das atividades familiares. Ali era feita a comida, servida em uma grande mesa rodeada de bancos. Atrás do fogão ficava uma bancada com a caixa de guardar a lenha “rachada”, isto é, partida em pedaços que coubessem na boca do fogo, bancada coberta com um pelego, lugar “nobre” e disputado por todos, por ser o mais quente e o mais bem colocado para “dominar o ambiente”... O fogão podia ser de ferro, mas o mais comum era o “esmaltado”, pintado em branco com flores coloridas; permanentemente aceso, possuía uma caldeira para esquentar a água, além das chaleiras de ferro, igualmente cheias de água fervendo. No forno eram assados tanto carne, quanto pães. As fornadas semanais, porém, de pão sovado, sequilhos, pão-de-ló, bolachas, biscoitos, bolos eram assados em forno externo, feito de tijolos, previamente aquecido a lenha. Igualmente de ferro eram os “ferros de brasa”, para passar roupas.
Não havendo água encanada, procurava-se construir as casas perto de uma fonte (em nível mais alto do que as residências), da qual era a água captada em calhas feitas com galhos compridos de pinheiros e canalizada para o “cocho”, tanque feito com o tronco grosso de um pinheiro, devidamente talhado em três partes descendentes, a última das quais era destinada à lavação da roupa. O cocho podia facilmente ser esvaziado para limpeza e novamente cheio com a água permanentemente corrente da fonte. Esse cocho ficava sempre perto da porta externa da cozinha.
A louça era lavada em bacias grandes de latão, na cozinha, ou em cima do cocho. Também de latão era feita a “banheira”, destinada aos banhos da família. As escravas, ou empregadas, preparavam água morna para cada banho. A iluminação era feita com velas de cera de abelha produzidas em casa periodicamente, várias dúzias de cada vez. Havia também lampiões de querosene. Igualmente feito na própria fazenda era todo o sabão consumido ( não havia ainda sabonete). Esses dois itens eram feitos no galpão em tachos de cobre. Também em tachos de cobre eram elaborados os doces de frutas nativas: marmeladas, goiabadas, figadas, peradas, doce de gila, etc. De latão eram as vasilhas para guardar leite, recolher água, fazer copos de uso pessoal para tomar água, camargo, o “café com mistura da manhã”. Não havia ainda a indústria do vidro, por isso, os poucos objetos existentes desse material eram importados da Europa. Por essa razão, um profissional muito respeitado era o “latoeiro”, bem como o “seleiro”, o artesão de objetos de couro essenciais à vida de uma fazenda: botas, o calçado diário da população masculina da Região Serrana, “arreios”, objetos indispensáveis para “encilhar” (vestir) as montarias, os “laços” para capturar o gado nas lidas de campo, as “bruacas”, grandes caixas de couro duro com tampa que eram adaptadas às mulas, uma caixa de cada lado, para as viagens longas dos tropeiros e fazendeiros; nelas eram acondicionados todos os objetos comercializados com as várias regiões e estados vizinhos, principalmente com Sorocaba, SP, onde os tropeiros participavam de feiras de comércio de gado, cavalos e mulas.
Dentro do próprio Estado, os fazendeiros serranos enviavam suas tropas de mulas periodicamente, descendo os paredões da Serra Geral, para o litoral, principalmente Laguna, com bruacas carregadas de queijos, pinhões, charque, lingüiças, banha, etc, e na volta abasteciam as fazendas com sal, arroz, farinha de mandioca, tecidos, café, e os demais produtos que não eram produzidos na região.
Cada propriedade tinha a sua “roça”, ou pequena lavoura de subsistência, onde eram cultivados feijão, milho, abóbora, batata inglesa. Depois do leite, a segunda base alimentar das fazendas era a carne, de gado, de galinha, de porco e de ovelha. Os animais eram abatidos nos primeiros tempos na propriedade, mais tarde, em “matadouros” municipais.A carne de cada propriedade era dividida entre todos os moradores, inclusive os escravos, e o restante transformado em charque.
Alguns itens comerciáveis ajudavam a manter a renda familiar: o mel, o pinhão, o queijo e o charque. Habitualmente, os fazendeiros tinham graves problemas de caixa, pois a sua renda advinha exclusivamente da venda do gado que, por ser uma produção sazonal, estava sujeita a inúmeras interferências negativas.
O único meio de transporte era o cavalo, pois não havia estradas, mas apenas trilhas; para o serviço interno nas fazendas existia o carro-de-boi; para as viagens longas e para as trocas comerciais, a mula, híbrido de grande resistência e docilidade. Mais tarde, no século XIX, quando as picadas se transformaram em estradas de “chão batido”, as famílias ricas dispunham de “aranhas”, tipo de charrete de dois lugares, que eram atreladas a um cavalo especialmente adestrado para essa função. Surgiu depois o “bangüê”, espécie de liteira, com teto e cortinas de couro, mais confortável e protegida contra o frio e as abundantes chuvas da região.
Estudando inventários dos séculos XVIII e XIX nota-se perfeitamente a dicotomia entre a modesta vida caseira e o poder econômico e político dos fazendeiros. Na relação dos “Bens Móveis” dos inventários, constata-se, por exemplo, a ausência de armários e guarda-roupas; roupas e objetos eram guardados em canastras, algumas de ripas de madeira, forradas com papel ou tecido de chita estampada, e outras em couro duro, as mais bonitas decoradas com tachas douradas. As camas, por muito tempo, foram simples catres, com colchões de palha de milho ou lã de ovelha, os travesseiros e cobertas feitos de lã cardada, ou de penas de ganso ou pato. Uma das tarefas das mulheres da família e das escravas era, a cada verão, descoser todos os forros, lavá-los, abrir manualmente a lã e encher novamente colchões, cobertas e travesseiros e fechar com linha e agulha as aberturas. Havia poucas cadeiras, menos ainda objetos de decoração como espelhos, quadros, etc. Na relação constavam objetos de prata, como alguns talheres, sempre “um copo e uma salva” e, nas famílias mais abastadas, algumas peças de arreios como estribos, serigote, partes de metal do buçal e da rédea, assim como as esporas; em ouro eram relacionados relógios de bolso, correntes, medalhões, brincos, principalmente pingentes, alguns anéis e pulseiras. A seguir, nos inventários, eram relacionados, com seus valores em mil-réis, os “Bens Semoventes”, dos quais o primeiro item era a lista de escravos (portanto, não considerados como pessoas!), seguida da lista do gado vacum, cavalar e muar. Nos “Bens de Raiz” eram descritas todas as propriedades rurais e suas benfeitorias, a(s) casa(s) em Lages. Aparece também o “Monte-Mor”, ou total dos bens da pessoa inventariada. Segundo o historiador Gilberto Machado, do Museu do Judiciário Catarinense, naquela época, quem tivesse dez contos de réis era rico, e quem tivesse cem era milionário. Um dos filhos de Matheos José de Souza, segundo esse padrão, “não era milionário” e, contudo, era dono de sete grandes fazendas, duas casas em Lages e vinte e dois escravos de alto valor econômico, sendo o total de seus bens de quarenta e sete contos de réis. Vale a pena notar a valorização dos escravos. Só o escravo Ricardo, de João Baptista de Souza, de seiscentos mil-réis, valia mais que a sua casa principal em Lages, de quinhentos e oitenta mil-réis. O genro desse cidadão, coronel João da Silva Ribeiro Júnior foi o homem mais rico do seu tempo, tendo seus bens sido avaliados em quatrocentos e oitenta contos de réis. No entanto, pessoas tão ricas, donas do poder econômico e político da região, eram, em sua grande maioria, analfabetas ou semi-analfabetas. Não fazia parte dos valores daqueles primeiros tempos dar estudos aos filhos, principalmente porque só havia escola em Lages, ou em outros centros maiores como São Leopoldo. A mão-de-obra dos jovens fazia falta nas fazendas e não era cogitado, portanto, porque não valorizado, afastá-los de casa. O estudo das filhas mulheres era até “moralmente” proibido, pois poderiam se afastar da sua “missão feminina”, que era casar, ser boa dona de casa e mãe de família. Quando se verificou uma mudança de mentalidade a respeito da “instrução dos filhos”, já no final do século XVIII, começaram as famílias a contratar professores particulares que iam lecionar todas as crianças da família, morando na própria fazenda. Essa estratégia foi utilizada até que começaram a surgir os internatos, inclusive em Lages, para onde passaram a ser encaminhados os jovens. No início do século XX, começaram a se formar em curso superior os primeiros serranos, principalmente em Porto Alegre, o centro mais procurado, já que Desterro ainda não possuía estabelecimentos de ensino superior. Mesmo para a educação de nível médio, a capital do Estado era preterida, pois problemáticas continuavam as comunicações com o interior, devido à precariedade das estradas, que precisavam transpor as pedregosas escarpas da Serra Geral que separava as duas regiões. O objetivo central da existência dessas propriedades rurais era a criação intensiva e extensiva de gado vacum, cavalar e muar, que era vendido nos centros consumidores, principalmente São Paulo. O fazendeiro era assessorado nas lidas campeiras pelos filhos homens, pelos escravos, mas principalmente por agregados e peões. No dizer de Paulo Pinheiro Machado: “...o peão deveria dar conta de toda a lida rotineira do campo: levar o gado para diferentes pastagens, capturar as reses fugitivas, castrar os novilhos, construir açudes, dar sal, curar bicheiras, construir currais e galpões, fazer marcação com ferro quente, construir muros de taipa, domar cavalos e mulas, tosquiar ovelhas e, muito freqüentemente, tropear os animais até os locais de venda ou de abate ( primeiramente os matadouros e, mais tarde, as “charqueadas”). Como homem de confiança de seu patrão, o peão era também um soldado à disposição das iniciativas políticas e militares de seu chefe e, com razoável empenho, muitas vezes dava a sua vida nas “revoluções” e nas lutas contra desafetos locais do seu comandante”. Refletir sobre as razões que levaram tantos descendentes de açorianos a escolher a Região Serrana para criar suas novas raízes é instigante. Por que não escolher uma região menos inóspita e isolada, que não tivesse índios tão aguerridos, animais tão selvagens?
É bom lembrar que o Governo Português, frente ao avanço dos espanhóis na região meridional da América do Sul (estabelecimento de reduções jesuíticas no território oeste do atual Rio Grande do Sul, disputa pela Colônia do Sacramento, etc ), viu-se na contingência de estabelecer fronteira definitiva nessa região
em litígio. Daí mandar fundar uma cidade-tampão na “Região das Lagens”, tendo o rio Pelotas como marco divisor. Indispensável se fazia fixar os colonizadores na região, o que foi feito através da concessão de sesmarias voltadas para a atividade agropastoril, tendo em vista a excelência das pastagens e a facilidade de apreensão do gado alçado
existente em grande quantidade no vizinho território do Rio Grande do Sul.
Não se pode esquecer que a primeira vocação dos habitantes dos Arquipélagos dos Açores foi a agropastoril e só posteriormente, a marítima, razão pela qual, provavelmente, paulistas dessa ascendência e famílias nativas daquelas ilhas, como a de Matheos José de Souza, adaptaram-se com facilidade na Região Serrana, com vocação semelhante à da sua terra natal. E tão bem o fizeram, que ali se tornaram prósperos fazendeiros, políticos de renome, dando origem a muitas famílias que até hoje povoam aquelas paragens.
A Família Souza na Região Serrana de SC
Esta é uma história iniciada há duzentos e oitenta anos, no dia 24 de fevereiro de 1724, em Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, Açores, com o casamento de JOSÉ DE SOUZA MEDEIROS e INÊS MARIA DA CONCEIÇÃO.
De quem descendiam? Quantos filhos tiveram? Continuaram vivendo sempre no mesmo lugar? Ainda existem descendentes seus em Açores, ou outro lugar de Portugal? Essa parte da história é ainda um mistério a ser desvendado...
O que sabemos é que um de seus filhos, MATHEOS JOSÉ DE SOUZA (1737 – 1820), com 20 anos veio para o Brasil, instalando-se no Rio de Janeiro em 1757, onde comprou propriedades, fez fortuna e se casou pela primeira vez (Ramos, 2002).
Família Carioca:
Esposa: MARIA JOSÉ DE CARVALHO.
Filha de Caetano José de Carvalho e Úrsula Maria de Macedo.
Filhos:
1 – ANA MARIA DE CARVALHO, casada com (c.c.) Pedro...dos Humildes
2 – ANTÔNIA MARIA DE SOUZA, c. c. José das Virgens Rosa
3 – JOSÉ CAETANO DE SOUZA, c. c. Jerônima Maria Caetana
Domiciliados
em Rio Pardo, Rio Grande do Sul.
4 – CAETANO JOSÉ DE SOUZA, c. c. Ignácia Maria do Amaral
Filha de José do Amaral Gurgel Annes e de Maria do Nascimento de Jesus.
Domiciliados em Lages, Santa Catarina.
Não sabemos em que ano faleceu a esposa, mas apenas que depois desse acontecimento, Matheos decidiu mudar-se para o sul do Brasil, ajundando a fundar a póvoa de Lages no dia 22 de maio de 1771. Vieram com Matheos os dois filhos homens.
Em 1775, Matheos começa a comprar terras na região então conhecida como “em cima da serra”. A primeira delas, adquirida de Manoel Marques de Arzão, chamava-se FAZENDA DO SOCORRO. Abrangia uma área de cerca de duzentos milhões de metros quadrados, dando uma de suas divisas para o cânion dos “Aparados da Serra”. Nessa fazenda, entre 1816 e 1822, Bento Ribeiro, o “Bentão”, pai de Anita Garibaldi foi capataz; nela, conta a crônica familiar, teria nascido Anita... mas único fato histórico comprovado é que ela passou ali boa parte de sua infância
.
Por ocasião do casamento de sua segunda filha, Maria Benta, em 05.12.1812, Matheos a dotou com uma parte da fazenda. Ainda hoje descendentes continuam suas atividades pastoris nas áreas herdadas nessas terras. Mais ou menos em 1850 foi erguida uma nova sede, provavelmente pelo herdeiro Matheos José de Souza Júnior, toda em basalto (“pedra-ferro”) e que até poucos anos era habitada pelos descendentes. Continua em pé, como um marco da história de outros tempos, mas já não pode ser utilizada como moradia.
Na mesma região, adquirida do mesmo Manoel Marques Arzão, comprou a FAZENDA DO FAXINAL, através de escritura de 19 de abril de 1775. Localizava-se perto do Rio Pelotas, cujas nascentes ficam no Morro da Igreja, o mais alto do Estado, na “Fazenda Santa Bárbara”, esta, depois vendida aos Ribeiros, família em que casou Maria Benta.
No dia 1º de fevereiro de 1786 aconteceu o casamento de Matheos com CLARA MARIA DE ATHAYDE (1774-1810), lageana, mas cuja família materna era de Laguna. O pai de Clara Maria, MANOEL RODRIGUES DE ATHAYDE. A mãe chamava-se MARIA DO ROSÁRIO TEIXEIRA DE OLIVEIRA. Matheos e Clara Maria tiveram sete filhos que se tornaram, nos dois séculos seguintes, troncos de importantes famílias serranas:
A – BALDUÍNA MARIA DO NASCIMENTO (1787 – 1850 )
B – MARIA BENTA DE SOUZA (1790 – 1857)
C – MATHEOS JOSÉ DE SOUZA JÚNIOR (1792 – 1873)
D – MANOEL RODRIGUES DE SOUZA (1796 – 1868)
E – JOÃO BAPTISTA DE SOUZA (“Inholo”) (1800 – 1850)
F – MARIA MAGDALENA DE SOUZA (1803 – 1868 )
G – FRANCISCO JOSÉ DE SOUZA (1809 – 1884)
Família “A”:
Casal – BALDUÍNA MARIA DO NASCIMENTO (Lages, 1787 – Lages, 1850)
c.c. ANTÔNIO LINS DE CÓRDOBA (1787 – 1863)
Filho de João Damasceno de Córdoba e Maria de San Boaventura Amaral
Número de filhos: 07
Domicílio: Fazenda na região de Santo Antônio da Lapa, no “caminho das tropas” para Sorocaba, SP.
Esta família, em 01.12.1848, vende a João Baptista de Souza, irmão de Balduína, suas propriedades em Lages por terem transferido residência para a Villa do Príncipe, Santo Antônio da Lapa, local de um dos principais “pousos” de tropas de gado, cavalos e muares destinadas à Feira de Sorocaba, SP.
Matheos e todos os filhos e genros eram fazendeiros e tropeiros. Supõe-se que essa transferência tenha sido um arranjo para que a Família tivesse na Lapa os seus próprios “currais”, onde descansassem os animais antes de seguir viagem.
Família “B”:
Casal: MARIA BENTA DE SOUZA (1790 – 1857)
c.c. JOÃO DA SILVA RIBEIRO (1787 – 1868)
Filho de Pedro da Silva Ribeiro (1746 – 1835) e Anna Maria de Saldanha (1754 -?)
Casamento de João e Maria Benta: 05.02.1812
Fazendas: do “PELOTAS”, do “SOCORRO” e “SANTA BÁRBARA”, todas na região do hoje município de Bom Jardim.
Número de filhos: 09
O casal João e Maria Benta são ascendentes diretos, por linha paterna, segundo o P. João Baptista Viéceli, vigário da paróquia de São Joaquim em 1940, “da mais numerosa família da região, a dos RIBEIROS”. Com esse casal, pela primeira vez, unem-se as estirpes RIBEIRO e SOUZA, fato que se repetiria inúmeras vezes nas gerações seguintes. Esses casamentos consangüíneos aconteciam por duas razões principais: 1
ª - a necessidade de preservar as propriedades intactas em poder da mesma família, o que impediria o empobrecimento de todos. Como exemplo, podemos citar o caso da Fazenda do Socorro, comprada por Matheos em 1776, que continuou sem divisões oficiais, ocupada por sucessivas gerações de herdeiros até que em 1915, pela primeira vez, houve uma ação de demarcação, medição e divisão da propriedade
pelos seus vinte e um proprietários “porque não lhes convinha mais a comunhão pois se baralharam e confundiram seus direitos...”
; 2
ª razão - talvez a mais decisiva que era a de que, não existindo vilas e locais para os jovens se encontrarem, e sendo muito distantes as fazendas umas das outras, acabavam por acontecer os casamentos por conveniência, previamente acertados entre as famílias. Conta o anedotário familiar que um ancestral muito rico, com muitos filhos solteiros, promovia periodicamente bailes em sua fazenda, para os quais, porém só eram convidados os primos...
Como essas duas famílias, a RIBEIRO e a SOUZA, são o objeto primeiro das pesquisas genealógicas da autora destas notas, faremos um breve retrospecto da FAMÍLIA RIBEIRO, para situá-la no conjunto destas informações:
- Origem: Mondim de Basto, Província de Trás-os Montes, norte de Portugal;
- Casal mais antigo a que conseguimos chegar: DOMINGOS DA SILVA e DOMINGAS PEREIRA;
- Filho conhecido que veio para o Brasil: MANOEL DA SILVA RIBEIRO (1712 - 1802), soldado, c.c. MARIA BERNARDA DO ESPÍRITO SANTO, de Laguna, falecida em 1808, filha de BERNARDO BUENAVIDES (Benavides), natural de Buenos Aires, c.c. DOMINGAS LEITE, de Laguna.
Manoel veio de Portugal diretamente para Santo Antônio da Patrulha, RS. Consta em documento citado por Enedino Batista Ribeiro “... que entre 1755 e 1765, Manoel requereu a célebre SESMARIA DO PELOTAS, uma das maiores da região, com 450 milhões de metros quadrados, onde chegou acompanhado de dois filhos, PEDRO e IGNÁCIO” .O casal Manoel e Maria Bernarda teve dez filhos, sendo o mais velho, PEDRO DA SILVA RIBEIRO, o ancestral direto da estirpe em estudo. Casou-se em Lages, em 1774, com ANNA MARIA DE SALDANHA, filha de Caetano de Saldanha, o construtor (mestre-de-obras) de Lages na época de sua fundação. Dos quatorze filhos de Pedro e Anna Maria, o sexto, JOÃO, é que iria se tornar o seguinte na linha sucessória masculina da família Ribeiro, unindo-a aos Souza. Para a devida compreensão das linhagens aqui relacionadas, é importante lembrar que, seguindo costume português da época, as filhas mulheres recebiam, geralmente, o sobrenome da mãe ou avó.
Feito esse rápido esclarecimento sobre a família Ribeiro, que não é abordada focalmente neste artigo, pois ele trata especificamente sobre a contribuição açoriana na formação dessa estirpe, e que foi a família Souza, voltemos à apresentação da segunda família que a compôs:
Filhos de MARIA BENTA DE SOUZA e JOÃO DA SILVA RIBEIRO:
1- FELISBINA MARIA DE SALDANHA, c.c. Manoel Bento Rodrigues Nunes, natural de D. Pedrito, RS. 12 filhos;
2- PEDRO JOSÉ RIBEIRO, casado três vezes, a primeira com Jacintha Maria de Saldanha, a segunda com Francisca Ana Ribeiro e a terceira com Anna Maria Rebello. 15 filhos;
3 – FELICIDADE MARIA DE SALDANHA, c.c. Fermino Rodrigues Nunes. 12 filhos;
4 – IGNÁCIA MARIA DE SALDANHA, c.c. Manoel Pereira de Medeiros.09 filhos;
5 – JOÃO DA SILVA RIBEIRO JÚNIOR, c.c. Ismênia Baptista de Souza, primos-irmão. 10 filhos. Esse casal é ancestral direto da família desta pesquisadora;
6 – MARIA BENTA DE SALDANHA, c.c. Joaquim José de Souza, primo-irmão....filhos;
7 – MANOEL BENTO RIBEIRO, c.c. Felicidade Maria Rodrigues, tio e sobrinha. 06filhos;
8 – MATHEOS RIBEIRO DE SOUZA,casado duas vezes, a primeira com Maria Magdalena de Souza, prima-irmã, 08 filhos; a segunda, com Maria do Nascimento Amaral e Souza. 04 filhas;
9 – ANA MARIA DE SALDANHA, c.c. Francisco Propício de Souza, primo-irmão. 07filhos.
Família “C”:
Casal: MATHEOS JOSÉ DE SOUZA JÚNIOR (1792 – 1873), c.c.
1ª núpcias: ANA MARIA DO AMARAL. 10 filhos ( Bat.Lages,26.10.1793 – Fal. 1850)
Filha de João Damasceno de Córdova e Maria de San Boaventura
2ª núpcias: Rita Maria de Miranda. ....filhos
Filhos do 1º casamento:
1 - JOSÉ HENRIQUE DO AMARAL;
2 - HENRIQUE JOSÉ DO AMARAL - Vacaria, (1824 - ?);
3 - JOSÉ CESÁRIO DE SOUZA;
4 - MARIA BENTA DO AMARAL;
5 - MARIA ANTÔ NIA DA SILVA - Lages, (10.05.1814 - ?), c.c. Major Bernardino Antônio da Silva e Sá. 10 filhos;
6 - MATHEOS ? (25.08.1820);
7 - ANA MARIA DO AMARAL, c.c. José Pereira Gomes;
8 – UBALDINA MARIA DO AMARAL;
9 – CLARA MARIA DO AMARAL - Vacaria, (1826 - ?), c.c. Manoel Borges de Oliveira . 05 filhos.
10 – DEMITILDES DO AMARAL E SOUZA, c.c. Ignácio da Silva Ribeiro. 07 filhos.
Observação: Só encontramos, por enquanto, informações esparsas sobre essa família.
Família “D”
Casal: Tenente-Coronel MANOEL RODRIGUES DE SOUZA (1796 – 1868)
c.c. ANNA MARIA DE LIMA (? - 1863) - 10 filhos
Filha de Francisco José de Santana e Souza e Maria Magdalena de Saldanha -
Filhos:
1 – FRANCISCO PROPÍCIO DE SOUZA (1821 – 1857), primos-irmãos, c.c. Anna Maria de Saldanha. 07 filhos;
2 – CLARA MARIA DE SOUZA (1821 – 1857), c.c. o Major Antônio Saturnino de Souza e Oliveira. 03 filhos;
3 – JOAQUIM JOSÉ DE SOUZA (1825 - ?), c.c. Maria Benta de Saldanha. ... filhos
4 – MANOEL DE SOUZA MATTOS, primos em 2º grau, c.c. Ana Rodrigues de Souza. 06 filhos;
5 - IGNÁCIO RODRIGUES DE SOUZA, c.c. Felicidade da Silva e Souza....filhos
6 - JOSÉ RODRIGUES DE SOUZA, c.c. Vírginia Saldanha de Souza....filhos
7 - POLICARPO JOSÉ DE SOUZA, c.c. Carlota da Silva Machado. 04 filhos;
8 - MARIA IGNÁCIA DE SOUSA VELHO (1832 – 1885), c.c. Ignácio Manoel Velho. 09 filhos;
9 - JOÃO RODRIGUES DE SOUZA (1843 – 1887), c.c. Francisca Rosa de Arruda. 03 filhos.
NOTA:
O Tte. Cel. Manoel Rodrigues de Souza foi fazendeiro e político importante da Região Serrana. Era dono da famosa FAZENDA BOM SUCESSO, localizada na região de São Joaquim e domicílio da família. Mas possuía outras: “Pessegueiros”, parte da Fazenda “Santa Bárbara”, outra na região da “Rocinha”, outra na “Serra do Tubarão”, uma casa em Lages na Rua da Cadeia. Era filiado ao Partido Conservador. Desempenhou muitas funções públicas.
Família “E”:
(outra estirpe ancestral direta da família da autora deste estudo)
Casal: JOÃO BAPTISTA DE SOUZA, mais conhecido como “INHOLO’ (1800 – 1850),
Companheira: MARIA GONÇALVES DO ESPÍRITO SANTO (?- 1882), filha de Ignácio Gonçalves dos Santos e Maria Gonçalves do Espírito Santo, casal de Rio Pardo, RS. Inholo e Maria Gonçalves: 04 filhos. Separação em 1838.
Esposa: Cândida dos Prazeres Córdova (?- 1845), filha de Bento Ribeiro de Córdova e Maria Jacintha do Amaral. Casamento: 1840. 01filha.
Filhos da 1ª união:
1 – MARIA BENTA BAPTISTA DE SOUZA, (1829 -? ), c.c.. José Lins de Córdova, filho de Bento Ribeiro de Córdova e Maria Jacintha do Amaral, irmão, portanto, da segunda mulher de Inholo, que era, nesse caso, seu sogro e cunhado. 06 filhos;
2- ISMÊNIA BAPTISTA DE SOUZA (1832 – 1912), c.c. seu primo-irmão, JOÃO DA SILVA RIBEIRO JÚNIOR “Cel. João Ribeiro” (1819 – 1894), filho de João da Silva Ribeiro e Maria Benta de Souza, irmã de Inholo. 10 filhos:
2.1- EMÍLIA BATISTA RIBEIRO, c.c. Moysés da Silva Furtado;
2.2 – INÊS BATISTA RIBEIRO, c.c. Francisco Pereira de Medeiros e, depois, com Inácio Sutil de Oliveira;
2.3 – JÚLIA BATISTA RIBEIRO, c.c. Luiz José de Oliveira Ramos;
2.4 – AFFONSO DA SILVA RIBEIRO, c.c. Maria Umbelina Ribeiro Branco;
2.5 – MARIA BENTA RIBEIRO, c.c. Fermino José Trindade Branco;
2.6 – ANA MARIA BATISTA RIBEIRO, c.c. em 1ª núpcias com ? Em 2ª com Manoel
Inácio Velho
2.7 – JOÃO BATISTA RIBEIRO DE SOUZA, c.c. Cândida dos Prazeres Batista de Souza, primos-irmãos, filha de Marcos Batista de Souza e Maria Rodrigues de Andrade.
12 filhos. São os pais de Enedino Batista Ribeiro
2.8 – MARIA DOS PRAZERES RIBEIRO, c.c. João Batista de Souza Neto;
2.9 – BELIZÁRIA RIBEIRO DO ESPÍRITO SANTO, c.c. Cezário Joaquim do Amarante;
2.10 – CECÍLIA BATISTA RIBEIRO, c.c. Vicente Antônio de Morais;
3- MARIA MAGDALENA BAPTISTA DE SOUSA (1833 – 1867), c.c. o primo-irmão,
Matheos Ribeiro de Souza, filho de João da Silva Ribeiro e Maria Benta de Souza.
08 filhos;
4 – MARCOS BAPTISTA DE SOUZA (1835 – 1906), c.c. Maria Rodrigues de Andrade
1845 – 1927), filha João Floriano Rodrigues de Andrade e Guiomar Valgos Galvão de
Siqueira. 07 filhos. Pais de Cândida dos Prazeres Batista de Souza, a mãe de Enedino
Batista Ribeiro.
Filha única do casamento oficial:
1 – JÚLIA BAPTISTA DE SOUZA (1842 – 1883), c.c. Vidal José de Oliveira Ramos
1820 – 1908), filho de Laureano José Ramos e Maria Gertrudes de Moura. Filhos:
1.1- Belisário José de Oliveira Ramos, c.c. Theodora Ribeiro Ramos. 15 filhos;
1.2- Maria Cândida de Oliveira Ramos, c.c. Henrique de Oliveira Ramos. 06 filhos;
1.3- Vidal José de Oliveira Ramos Júnior, c.c. Thereza Fiúza de Carvalho. 14 filhos.
Nota:
João Baptisa de Souza, INHOLO, alcunha com que era conhecido, foi figura emblemática na família. Era o que se poderia chamar de “filho rebelde”. Muito novo se uniu a uma mulher casada, rompendo com todas as convenções da época. Estabeleceram residência em sua FAZENDA SÃO JOÃO, localizada ao sul do município de São Joaquim, entre o rio Pelotas e o Lavatudo. Tiveram quatro filhos, reconhecidos pelo pai em 1838, ocasião em que houve a separação do casal, porque Inholo já havia conhecido a viúva Cândida dos Prazeres Córdova, irmã do noivo de sua filha mais velha, Maria Benta. Os filhos permaneceram em sua companhia. Em 1840 efetiva o casamento com Cândida, continuando a morar na Fazenda São João, apesar de possuir outras propriedades na região da Coxilha Rica e duas casas na vila de Lages. Em 1842 nasce a filha Júlia. Em 1845 morre D. Cândida, ficando Inholo com cinco filhos. Em 1842 casa-se a filha Maria Benta, e em 1845, a filha Ismênia. Ficam com ele dois filhos adolescentes e a pequena Júlia. No dia 13 de agosto de 1850, a tragédia abate-se sobre a família. Dois escravos da fazenda, companheiros do senhor nas lides campeiras, o trucidam a olho-de–machado, esmigalhando-lhe a cabeça. Em júri popular, os escravos são condenados à morte, sentença comutada em prisão perpétua.
Inholo era fazendeiro abastado. Possuía ao todo sete fazendas que, divididas entre seus herdeiros, continuam referência na região de São Joaquim e Lages. A fazenda São João , unida à Invernada do Pelotas, compradas dos demais herdeiros pelo Cel. João Ribeiro transformou-se na Fazenda “São João de Pelotas”. Hoje, toda a área da primitiva fazenda é um distrito de São Joaquim, com o mesmo nome. O local do assassinato de Inholo, a “Invernada dos Fundos”, passou a ser conhecida pela população local como “Fazenda Santa Cruz”, por causa de uma grande cruz de cedro colocada no local do bárbaro acontecimento, no alto de uma colina, que de longe é vista. Nestes 154 anos, três cruzes foram erguidas, sendo a última pelos atuais descendentes de Inholo, no ano 2000.
Família “F”:
Casal: MARIA MAGDALENA DE SOUZA (1821 - ?),
c.c. JOAQUIM ANTUNES DE OLIVEIRA, (? –1878).
Filhos:
1 – MANOEL ANTÔNIO DE SOUZA;
2 – JOAQUIM ANTÔNIO DE SOUZA;
3 – JOÃO ANTUNES DE SOUZA, c.c. Fermina Maria da Silva. Domiciliados em
Curitibanos;
4 – FRANCISCO ANTÕNIO DE SOUZA. Domiciliado em Campos Novos; 5 – JOSÉ ANTÔNIO DE SOUZA. Domiciliado em Campos Novos.
Família “G”:
7º filho: FRANCISCO JOSÉ DE SOUZA
Nota: Nada sabemos ainda sobre o destino do último filho de Matheos e Clara. Teria falecido em criança? Ido também morar em Santo Antônio da Lapa? Em alguma outra região?
Conclusão
Para a Região Serrana de Santa Catarina não houve imigração açoriana em grupos, mas apenas de pessoas e/ou famílias isoladas, caso da Família SOUZA, que ali se radicou na época da fundação de Lages, entre 1766 e 1771.
Atualmente a Região possui apenas uma cidade de porte médio, Lages, pólo aglutinador de seu desenvolvimento econômico-sócio-cultural, e muitas cidades de pequeno porte. Aquela, com suas duas universidades, já conta com uma intelectualidade atuante e qualificada, com muitos estudos publicados sobre sua própria história e cultura, inclusive sobre genealogia, nossa área de interesse. Nas comunidades menores, porém, os estudos e pesquisas nesse campo são limitados e desorganizados. No entanto, o natural interesse em conhecer as origens familiares e a formação histórica de suas regiões, faz com que muitas pessoas, individualmente, estejam tentando resgatar essa historiografia. São pesquisadores, principalmente genealogistas, “empíricos”, cuja falta de “rigor científico” é compensada pelo entusiasmo e honestidade intelectual.
Pesquisas genealógicas, como a que acabamos de apresentar, permitem, além do estudo das famílias, um resgate dos hábitos e costumes antigos das regiões onde viveram , sendo uma contribuição significativa para a história dessas comunidades.
É importante, enquanto aguardamos que os novos profissionais da área consolidem a sua atuação nas cidades interioranas, que os estudiosos locais sejam incentivados e orientados pela comunidade científica, pois o seu trabalho, se é paliativo, é, de outra parte, importantíssimo para que a memória cultural continue viva e preservada e, na medida do possível, seja registrada, tornando-se assim, uma das fontes alternativas da produção do conhecimento histórico.
Bibliografia
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Fontes
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