sábado, 30 de abril de 2011

ANTÔNIO JOSÉ ALVES DE SÁ, PRIMEIRO PREFEITO DE SÃO JOAQUIM

Por Ismênia Ribeiro Schneider

Evolução Política do Município de São Joaquim
Desde o seu desdobramento do município de Lages, em 1873, dois grandes partidos políticos nortearam os destinos de São Joaquim: o Liberal e o Conservador. Empenharam-se em muitas lutas ásperas na defesa de seus ideais ou em prélios eleitorais, mas os seus adeptos, de parte a parte, eram homens que sabiam respeitar-se, nunca descendo ao terreno das retaliações pessoais: amigos particulares eram e sempre foram todos eles. É o que nos relatam os testemunhos dos acontecimentos (Ribeiro, 1941).
Partido Conservador - foi o partido que sempre esteve no poder, derrotando o seu valoroso contendor em todos os prélios em que se mediram. Era chefe supremo desta agremiação política João da Silva Ribeiro Júnior (29.03.1819 – 10.05.1894), “Cel. João Ribeiro”, continuando à frente da mesma, ainda depois do advento da República, já então com a denominação de Partido Republicano.
Cel. João Ribeiro teve prestígio em nível nacional, chegando a ser candidato a Senador na eleição de 14 de junho de 1886, quando perdeu o pleito por 123 votos para o conhecido escritor Visconde de Taunay.
A João Ribeiro sucedeu na chefia do Partido Conservador, o Cel. Marcos Baptista de Souza, cujo nome aparece em todos os documentos que se referem aos grandes empreendimentos em prol do desenvolvimento de São Joaquim. O seguinte Presidente do Partido Republicano foi Fortunato Henrique de Oliveira, seguido por Cesário Joaquim do Amarante.
Partido Liberal - era chefe desse Partido, que depois passou a denominar-se Federalista, o Cel. Manoel Cavalheiro do Amaral, homem esclarecido e de largo círculo de amizades. Sucederam-lhe na chefia do Partido os coronéis Bento Cavalheiro do Amaral, Genovêncio Mattos, Manoel Saturnino de Souza e Oliveira e Antônio Palhano de Jesus, dignos joaquinenses que muito trabalharam e fizeram pelo engrandecimento de sua terra natal.
Impossibilitados, por desconhecimento de sua evolução, de apresentar maiores detalhes sobre o Partido Liberal, depois Federalista, vamos transcrever a ata de instalação do seu primeiro Diretório, por ser um documento de grande valor histórico para o município:
Aos vinte e quatro dias do mês de setembro de mil oitocentos e setenta e dois, nesta freguesia de São Joaquim da Costa da Serra, no lugar denominado Fazenda das Palmas, presentes os membros do Diretório Provisório do mesmo partido, composto do Presidente, o sr. Maurício José Pereira da Silva, e do alferes Bento Cavalheiro do Amaral e do sargento Joaquim da Silva Mattos e presentes os mais correligionários, os senhores José Zeferino de Matos, Manoel Maria de Sousa, Manoel Cavalheiro do Amaral, João Cavalheiro do Amaral, Antônio Cavalheiro do Amaral Tota, Inácio Cavalheiro do Amaral, Francisco Alves da Rocha, Tomaz Antônio de Sousa, Manoel Francisco Guimarães(?), Núncio de Sousa Ribeiro, José Pereira Serrano, Joaquim Cavalheiro do Amaral: procedeu-se à eleição dos membros que devem compor o Diretório Efetivo desta freguesia, e recaiu a eleição para Presidente no sr. Maurício José Pereira da Silva; para vice-presidente no sr. Joaquim Cavalheiro do Amaral; para  presidente honorário no alferes Bento Cavalheiro do Amaral; para secretário no sr. Joaquim da Silva Matos; para vice-secretário, no sr. João Cavalheiro do Amaral; para membros efetivos, o sr. José Zeferino de Matos e o sr. Manoel Maria de Sousa, Manoel Francisco Guimes., Manoel Cavalheiro do  Amaral, Antônio Cavalheiro do Amaral Tota e Tomaz Antônio de Sousa, para com eles ter lugar a reunião do mesmo Diretório, em qualquer ocasião que necessário seja. Além dos efetivos, declaramos mais os conselheiros que fazem parte deste Diretório, para, na falta de qualquer  um dos efetivos ser suprida com estes, a saber, é compreendido primeiramente o vice-presidente, e presidente honorário, o secretário que presente estiver para com estes preencher o número, e   na falta de qualquer um destes pode ser chamado qualquer dos conselheiros. Declaramos mais, que  não estiveram presentes a esta reunião os conselheiros, Tenente Antônio José Alves de Sá, Pedro Borges do Amaral e Melo e An tônio Caetano Pereira do Amaral, conquanto tivessem sido oficiados em data de dois do corrente para o comparecimento hoje no presente lugar, e cuja falta não participaram,   mais os srs. Antônio Rabelo Flores,Generoso Alves Guimarães e Salvador Roiz de Marafigo deixaram de comparecer por motivo de moléstia, como fizeram ciente à presente Diretoria. Declaramos mais que abaixo declara-se os Conselheiros que a este Diretório pertence. Os srs. Inácio Cavalheiro do Amaral, Francisco Alves da Rocha, Núncio da Silva Ribeiro, Francisco José Pereira Serrano, Generoso Alves Guimarães, Salvador Roiz de Marafigo, Aureliano José Pereira de Andrade, Cândido Antônio da Silva Santos, Vitorino Antônio de Sousa, Manoel José da Silva Matos, Cândido José da Silva, João Pereira de Camargo, Tte. Antônio José Alves de Sá, João Madeira Fernandes, Manoel Lourenço de Lima, Antônio Lourenço de Lima, Francisco Barbosa, Pedro Borges do Amaral e Melo, Antônio Rabelo  Flores, Antônio Caetano Pereira do Amaral. O que por não ter mais que deliberar lavrou-se a presente Ata, na qual assinaram-se os empregados efetivos, e mais membros presentes.(Ass.) Mauricio José Pereira da Silva, Jqm. Cavalheiro do Amaral, Bento Cavalheiro do Amaral, Joaquim da Silva Matos, João Cavalheiro do Amaral, arrogo de José Zeferino de Matos por não saber escrever, Manoel Maria de Sousa, Manoel Cavalheiro do Amaral, arrogo de Francisco Guimes, por não saber ler nem escrever, arrogo de Tomaz Antônio de Sousa, por não saber ler nem escrever, Jqm. Cavalheiro do Amaral, Antônio do Amaral (Ribeiro, 1941).



Primeiro prefeito (intendente) de São Joaquim da Costa da Serra

Nos primeiros tempos da vida política independente dos Municípios, o Intendente (prefeito) era nomeado diretamente pelo Presidente da Província (Governador), mas escolhido entre os sete  vereadores eleitos pelo povo. A primeira Câmara de São Joaquim foi escolhida no dia 7 de maio de 1887, com a presença do sr. Presidente da Câmara Municipal da cidade de Lages, Belisário José de Oliveira Ramos, sendo eleitos os seguintes cidadãos: Marcos Baptista de Souza, Mateus Ribeiro de Souza, José Rodrigues de Souza, Policarpo José Rodrigues, Aureliano de Souza e Oliveira, João de Deos Pinto de Arruda, Antonio José Alves de Sá.
Segue transcrição da ata da posse:

CÂMARA MUNICIPAL:

Aos sete dias do mês de maio do ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, de mil oitocentos e oitenta e sete, nesta vila de São Joaquim da Costa da Serra, na sala da casa determinada para as funções da Câmara Municipal, pelas dez horas da manhã, aí presente o sr. Presidente da Câmara Municipal da Cidade de Lajes, Belisário José de Oliveira Ramos, comigo Secretário do Seu cargo, abaixo nomeado, compareceram os cidadãos Mateus Ribeiro de Sousa, Capitão Marcos Batista de Sousa, tenente Antônio José Alves de Sá, alferes José Rodrigues de Sousa, João de Deus Pinto de Arruda, Aureliano de Sousa e Oliveira e Policarpo José de Sousa, digo, Policarpo José Rodrigues, eleitos vereadores da câmara da mesma vila, para servirem no corrente quadriênio de mil oitocentos e noventa; o sr.  Presidente nos deferiu o juramento dos Santos Evangelhos em um livro deles, em que cada um por sua vez pôs a sua mão direita, prometendo de bem desempenharem as funções de vereadores da dita Câmara de São Joaquim da Costa da Serra, e promover o quanto em si couber os meios de sustentar a felicidade pública. E como assim disseram mandou o sr. Presidente lavrar este termo, em que assinam como os juramentos. Eu, João da Cruz Silva, Secretário, que o escrevi, fiz a entrelinha que diz – Policarpo José Rodrigues. (Ass.) Belisário José d’Oliveira Ramos, Marcos Batista de Souza, Mateus Ribeiro de Souza, José Rodrigues de Souza,  Policarpo José Rodrigues, Aureliano de Souza e Oliveira, João de Deos Pinto de Arruda, Antônio José Alves de Sá (Ribeiro, 1941).

Naquela data, era Presidente da Província, em sua 37ª gestão, o sr. Francisco José da Rocha, do PARTIDO LIBERAL, que governou Santa Catarina de 29.09.1885 a maio de 1888. Esses acontecimentos ocorreram durante o último Gabinete Ministerial de D. Pedro II antes da Proclamação da República (15.11.1889) e que pertencia ao Partido Liberal, dirigido pelo Visconde de Ouro Preto. Por essa razão foi escolhido como Primeiro Intendente do Município um vereador filiado a essa agremiação política: Antonio José Alves de Sá (Carvalho, 2003).



História Familiar de Antônio José Alves de Sá
Primeiro intendente de São Joaquim da Costa da Serra, do Partido Liberal, eleito para o período de 1887 a 1891.
Nome do pai: Comendador BERNARDINO ANTÕNIO DA SILVA E SÁ (falec. em Lages em 21.08.1880)
Natural do Rio Grande do Sul.
Desconhece-se os pais do Comendador.
Possuía a “Fazenda dos Três Imbus”, no Distrito de”Baguais” ( atualmente “Campo Belo do Sul” – Comarca de Lages). Casa em Lages. 05 escravos.
Montante dos bens: 29:921$100 (vinte e nove contos, novecentos e vinte e um mil e cem réis)
Nota: No tempo do milréis, quem tivesse dez contos de reís já era pessoa de posses. Milionário era quem tivesse cem contos de réis. O Major Bernardino era, pois, um cidadão rico.

Nome da mãe: MARIA ANTÕNIA DA SILVA (Lages, 10.05.1824 -  ? )
Filha de: Matheus José de Souza Jr. (01.11.1792 ( matriz de Lages,L1, fls.89-v) – 1873) e de Ana Maria do Amaral, batizada em Lages, 26.10.1793, L2,fls.3; 10 filhos. Casamento em Lages no dia 04,05,1850( L3, fls.71). Ana, filha do Sargento-Mor João Damasceno de Córdova e de Maria de São Boaventura do Amaral e Silva ( Revista ABRASP Nº 6, p75-77).

Maria Antonia, neta de Matheus José de Souza, açoriano (1737- 1820), que muito jovem radicou-se no Rio, onde constituiu família. Após a morte da esposa, com os dois filhos homens mudou residência para a região de Lages, que estava sendo desbravada pelo governo português. As duas filhas mulheres permaneceram no Rio, perdendo o contato com o resto da família. Matheus, o patriarca, engajou-se nos trabalhos de construção do município, chegando a ser vereador, juiz, ao mesmo tempo que se voltava para a atividade pastoril, como meio de vida. Em primeiro de fevereiro de 1786, em Lages, (matriz, L1, Fls30-v), casa-se com Clara Maria de Athayde, batizada na matriz de Lages a 17 de abril de 1774, falecida em 13.09.1810 (L@, Fls26), sendo sepultada na igreja, pelo vigário Francisco José de França. Matheus e Clara tornaram-se o casal patriarca da Família SOUZA em SC, contemporâneo de Correia Pinto na fundação de Lages, e que comprou na Costa da Serra, hoje Bom Jardim, de Manoel Márquez Arzão, a Fazenda Nossa Senhora do Socorro, cerca de 1775. O casal teve sete filhos, ancestrais de representativas famílias serranas, dentre as quais, sobressai a família de Matheus José de Souza Júnior, casado com Ana Maria do Amaral, filha do Sargento–mor João Damasceno de Córdova e Maria de São Boaventura do Amaral e Silva. Deles descende Maria Antônia, que, ao se casar com o Comendador Bernardino Antônio da Silva e Sá, tornou-se a mãe do primeiro prefeito de São Joaquim.

Filhos do Comendador Bernardino Antonio da Silva e Sá e Maria Antônia da Silva:
1 –Tenente ANTÕNIO JOSÉ ALVES DE SÁ,
     c.c. CAMILLA MARIA DE JESUS ( 1853 - )
     Filha de Antônio Pereira de Camargo, dono da Fazenda “do Curralinho”, em São Joaquim, que faleceu, muito jovem, em 1854, mordido por uma cascavel. Camilla é filha póstuma, a mais nova de três filhos.
A mãe de Camilla era “Donana”, Anna Antunes de Jesus, falecida a 10 de agosto de 1884, 30 anos após o marido, que substituiu na guarda dos filhos e na direção dos negócios, ampliando-os de modo que o espólio que recebeu de 16:720$580, por ocasião de sua morte estava em 46:815$361.
Mas voltemos à relação dos filhos do Comendador Bernardino Antônio da Silva e Sá e  D. Maria Antônia da Silva:
1- ANTONIO  JOSÉ ALVES DE SÁ ( já comentado);
2 – ANNA,  c.c.João Antunes Sobrinho;
3- BERNARDINO, ausente em lugar incerto;
4 – ILDEFONSO ALVES DE SÁ, casado;
5 –AMÉLIA, c.c. José Madruga de Córdova;
6- LEOPOLDINO ALVES DE SÁ, maior, solteiro;
7 –MARIA, c.c. João Domingos Moreira Branco;
8 – JOSEPHA,c.c. João José Fernando;
9 –JÚLIO ANTÕNIO DA SILVA E SÁ, maior;
10 –ADELINA, c.c. Manoel Madruga de Córdova;
11 –JOÃO ANTÔNIO DA SILVA E SÁ, 17 para 18 anos.

A família tinha fazenda, chamada “Três Imbus”, no Distrito de “Baguais”, hoje Campo Belo do Sul. Possuía também cinco escravos e  uma casa de residência em Lages.O inventário do Major Bernardino Antônio da Silva e Sá, de 1880, encontra-se arquivado no Museu do Judiciário de SC, em Florianópolis. Trabalhou no inventário o Juiz de órfãos, Dr. Manoel Cardoso Vieira de Mello, tendo funcionado como Escrivão de Órfãos: João José Theodoro da Costa.

Referências:
- Inventário de Anna Antunes de Jesus de 1884
- Museu do Judiciário Catarinense – Florianópolis
 Banco de Dados de Joaquim Galete da Silva, Enedino Batista Ribeiro, Ismênia R. Schneider, do
Livro “Aurorescer das Sesmaria Serranas”,de Sebastião Fonseca de Oliveira, Edições EST. Porto Alegre,RS. 1996.


Algumas propriedades de Antônio José Alves de Sá
- Fazenda Fernando, antes chamada Rincão do Redomão, perto do Rio Lavatudo;
- Invernada da Lagoinha;


Curiosidades

No dia 7 de dezembro de 2003, tive o prazer de entrevistar, e depois de alguns dias de receber cópias de documentos da família de D. NEUSA MATTOS, natural de S. Joaquim, família essa contemporânea e amiga da minha no começo do Séc. XX naquela cidade. Para a continuação dos estudos dos filhos, que São Joaquim oferecia só até o 4º ano primário, minha família transferiu residência para Florianópolis no ano de 1944. A de Neusa também veio morar na capital, continuando a amizade através dos anos. Em consequência de meus estudos histórico-genealógicos sobre as famílias serranas, principalmente as joaquinenses, vim a descobrir que nossa amiga Neusa era descendente do primeiro Intendente (Prefeito). Por telefone, conversas e depoimento escrito, Neusa me relatou as principais lembranças que lhe ficaram das conversas e vivências familiares, principalmente as que lhe transmitiu sua mãe, D. MARIA LACERDA ALVES DE SÁ MATTOS (Mariquinha), c.c. Aparício Marturano Mattos. Por uma série de ingerências, que não vêm ao caso, relatou que sua família não guardou os documentos referentes à sua família ancestral, e que seu depoimento se basearia em suas lembranças, principalmente as que lhe transmitiu sua mãe. Esta era filha do filho mais moço do nosso pesquisado, que se chamava JOSÉ ANTÕNIO DA SILVA, c.c. AMÉLIA LACERDA CAMARGO, que morreu quando Mariquinha tinha 4 anos, tendo o pai voltado a casar.
Mariquinha, na época do seu casamento, nada trouxe do que lhe pertencia da fazenda original em que vivia com sua família, nem mesmo os documentos, portanto, os dados que restaram de seus antepassados sustentam-se em memória oral. A família era muito numerosa e tradicional, originária do Rio de Janeiro, descendente de Mem de Sá e Estácio de Sá. Cultivavam o costume de dar os nomes famosos dos antepassados aos filhos da geração presente.
Esse ramo da Família Alves de Sá saiu do Rio de Janeiro, para São Paulo, e dali para o Paraná e Santa Catarina.  Era de tradição militar, cujo último representante dessa linha cultural foi nosso primeiro prefeito ANTONIO JOSÉ ALVES DE SÁ, que aos 21 ou 22 anos, como “Alferes”, participou da Guerra do Paraguai, quando recebeu das mãos do próprio Imperador a medalha da Ordem da Rosa”, sendo agraciado com o título de “Cavalheiro do Império da Ordem da Rosa”. Recebeu outras medalhas por atos de bravura. Os descendentes seguintes transformaram-se todos em pecuaristas na Região Serrana, abandonando também os estudos, isso por que nesses recuados tempos, a única cidade existente, Lages,  por muitas décadas não ofereceria estudos aos seus jovens.
            A Família Alves de Sá permaneceu rica e influente, sempre ligando-se pelo casamento às de  maior prestígio da região.












Carta Genealógica de Matheus José de Souza Júnior (Nascimento 01.11.1792 Matriz de Lages, L1  Fls.89-v – Morte - 1873),
Pai de Maria Antônia da Silva, a mãe de Antônio José Alves de Sá.

Pai: Matheus José de Souza[i], natural da Ilha Terceira, cidade de Angra do Heroísmo, onde nasceu pelo ano de 1739;
Avôs paternos: José de  Souza  Medeiros e Ignez Maria da Conceição, ambos naturais e batizados na mesma cidade de Angra, Ilha Terceira, Açores.
Matheus, o Velho, segundo Walter Dachs, casou duas vezes. Do seu primeiro matrimônio, com Maria Josefa(ou José) de Caravalho, natural da cidade do Rio de Janeiro, filha de Caetano José de Carvalho, natural da Província  do Douro, e de Ursula Maria de Macedo, natural da cidade do Rio de Janeiro, nascem os filhos:
F1 – Ana Maria de Carvalho, c.c. o Porta-Bandeira Pedro Nolasco dos Humildes;
F2 – Antônia Maria de Souza,c.c. com o Furriel José das Virgens Rosa;
F3 – José Caetano de Souza, c.c.Jêronima de Moraes, de Rio Pardo, RS;
F4 –Caetano José Souza, casado em Lages, aos 8.06.1801, com Ignácia Maria do Amaral, filha de José do Amaral, que era irmão do capitão-mor Regente de Lages, Bento do Amaral Gurgel Annes, e de sua mullher Maria do Nascimento de Jesus.
Em segundas núpcias, foi casado com CLARA MARIA DE ATHAYDE, filha do Sargento-Mór, Manoel Rodrigues de Athayde e de Maria do Rosário. Do matrimônio de de Matheus/ Clara Maria, contraído no dia 01.02.1786 na matriz de Lages, nasceram os sete filhos seguintes, domiciliados na FAZENDA DO SOCORRO, localizada na “Costa da Serra”, hoje Município de Bom Jardim:
F5 – Balduína Maria de Souza, nascida em 1789, falecida em 1850, c.c. Antônio Lins de Córdova, filho do Sargento-Mór João Damasceno de  Córdova e de Maria de São Boaventura do Amaral e Silva, o qual era sobrinho do Capitão-Mor Regente Bento do Amaral Gurgel Annes;
F6 –MATHEUS JOSÉ DE SOUZA JÚNIOR(01.11.1792 – matriz de Lages, L1 Fls.89-v – 1873), casado em primeiras núpcias com ANA MARIA DO AMARAL, chamada também Ana Damascena de Córdova, batizada em 26.10.1793, L2,Fls. 3. Casamento em Lages, dia 08.06.1813 (L2, Fl.71). Nascimento em Lages, tendo falecido na mesma cidade no dia 04.05.1850( matriz, L3, Fls15-v). Filha do Sargento-Mor João Damasceno de Córdova e de Maria de São Boaventura do Amaral e Silva ( Revista ABRASP nº 6, p.75-77);
2ª núpcias: Rita Maria de Miranda, filha de José de Miranda e de Fidência.
Filhos do primeiro casamento:
N1 – José Henrique do Amaral;
N2 – Henrique José do Amaral, batizado em Vacaria em 02.03. 1824;
N3 – José Cesário de Souza;
N4 – Maria Benta do Amaral, batizada em Vacaria 28.05. 1824;
N5 – MARIA ANTÕNIA DA SILVA – (Lages, 10.05. 1814 - ?), c.c. o Comendador Major Bernardino Antônio da Silva e Sá ( falecido em 21.08. 1880). Filhos já relacionados.
Atenção! Estes são os pais do primeiro prefeito de São Joaquim: ANTONIO JOSÉ ALVES DE  SÁ.
N6 – Matheus ? Lages, 25.08.1820 - ?
N7 – Ana Maria do Amaral, c.c. José Pereira Gomes;
N8 – Ubaldina Maria do Amaral;
N9- Clara Maria do Amaral, Vacaria ( 1826 – 28.10.1857), c.c. Manoel Borges de Oliveira.  Sem filhos;
N10 – Demitildes do Amaral e Souza, nascida em 1828, c.c.Ignácio da Silva Ribeiro (1826 - 13.02.1873), filho de Diogo da Silva Ribeiro(1794 -04.07.1844) e Anna Muniz de Saldanha ( 1776 – 08. 04. 1843). Diogo, por sua vez, era filho de Pedro da Silva Ribeiro( 1746 - 1835 ) e Ana Maria de Saldanha(1754 – 28.11.1812).Pedro da Silva Ribeiro fez testamento em 1822, pai de 14 filhos. É o filho mais velho dos RIBEIROS na Região Serrana de SC, na segunda geração dessa família no Brasil, originária do norte de Portugal, de Mondim de Basto, Província de Trás-os- Montes, filho de Manoel da Silva Ribeiro(1712 – 1802) e Maria Bernardes do Espírito Santo (filha de Bernardo Benavides), falecida em1808, pais  de mais nove filhos, além de Pedro.

NOTA: Demitildes e Ignácio eram o casal-tronco de famílias ancestrais domiciliadas na região do “Bentinho”, ou ”Monte Alegre”, a noroeste  do município de São Joaquim, às margens do rio Lava Tudo, na divisa com Urupema e Lages, e  cujas filhas se casaram com descendentes  de alguns dos imigrantes alemães que, na época, se instalaram no Município de São Joaquim da Costa da Serra. Essas famílias trouxeram à comunidade nova e enriquecedora influência cultural, ao mesmo tempo em que eram transformadas pelos valores locais, de modo que todas se tornaram proprietárias de terras,  tendo como meio de vida a pecuária e os costumes serranos. Logo a seguir começaram a se instalar também na região famílias italians e de outras etnias, que sofreram o mesmo e benéfico processo de aculturação.  Vejamos alguns casos  de miscigenação com  imigrantes alemães, que se casaram nas famílias nativas em estudo:

BN1 – OLINDA DA SILVA RIBEIRO (? - 15/07/1928), c.c. Manoel  da Silva Ribeiro Júnior (? - 01/07/1920), filho de pessoa de igual nome e Maria Jacintha Borges, (1828 – 1862), filha de Francisco da Silva Ribeiro e Ana Antonia  do Rego). Manoel da Silva Ribeiro (proprietário da Fazenda Monte Alegre) era filho de Antônio de Silva Ribeiro (1893 - ? ), c.c. Gertrudes Maria de Córdova. Antônio, irmão de Diogo, portanto, também filho de Pedro da Silva Ribeiro e Ana Muniz de Saldanha:
TN1 – MARIA OLINDA RIBEIRO, c.c Paulo Bathke;
TN2 – JOSEFINA RIBEIRO , c.c. Karl Gustav Lueneberg;
TN3 – DAUTINA DA SILVA RIBEIRO; c.c. HORMINIO DE SOUZA BILÓCO*;
TN4 – GASPAR DA SILVA RIBEIRO, c.c. Joana da Silva Mattos.

Nota: Esta última pesquisa está sujeita a confirmação, ampliação e correções, a serem feitas em São Joaquim, nos cartórios e com familiares
Também a descendência do casal Antônio José Alves de Sá e Camilla Maria de Jesus precisa ser resgatada, tarefa que tem se mostrado difícil, por falta de fontes adequadas.

Pesquisadora: Ismênia Ribeiro Schneider
Do Instituto de Genealogia de Santa Catarina –INGESC
Florianópolis, abril de 2011.

* Dados completados gentilmente por Osni Silveira de Souza. 


[i] Matheus José de Souza, o patriarca da família Souza da Serra Catarinense, é ancestral desta pesquisadora, sendo que será produto de sua publicação futura.



Referências Bibliográficas:

CARVALHO, José Murilo. A Criação da Ordem. 3ª Edição. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

MUSEU DO JUDICIÁRIO CATARINENSE. Inventário do Major Bernardino Antônio da Silva e Sá, de 1880. Florianópolis.

MUSEU DO JUDICIÁRIO CATARINENSE. Inventário de Anna Antunes de Jesus de 1884. Florianópolis

OLIVEIRA, Sebastião Fonseca. Aurorescer das Sesmaria Serranas. Porto Alegre:  Edições EST, 1996.

RIBEIRO, Enedino Batista. São Joaquim, Notícia Estatístico-Descritiva. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Departamento Estadual de Estatística. Estado de Santa Catarina. Publicação n. 23. Florianópolis, 1941.

RIBEIRO, Enedino Baptista. Copia do contrato celebrado entre o Juiz da Devoção de São Joaquim da Costa da serra e o Mestre Pedreiro João Lucrécio para a construção da Igreja Matriz da Freguesia de São Joaquim da Costa da Serra do termo de Lages. S/D.

















sexta-feira, 15 de abril de 2011

ABERTURA DA ESTRADA QUE LIGA LAGES A SÃO JOAQUIM – 1929

Por Ismênia Ribeiro Schneider

Em 10 de abril de 1929, reuniram-se às margens do rio Lava Tudo, divisa, naqueles tempos, entre os municípios de Lages e São Joaquim, autoridades e grande massa popular dos dois municípios para as festividades de inauguração da estrada que, finalmente, passaria a unir as duas cidades. O ponto de encontro foi o porto da balsa, localizado um pouco mais acima da atual ponte, balsa que, por muitos anos, permaneceu como único meio de transposição do grande rio.
Na margem direita acampou a comitiva do Prefeito lageano, Caetano Vieira da Costa; na margem esquerda, a comitiva do Prefeito joaquinense, Boanerges Pereira de Medeiros. Depois de missa campal, seguiu-se a inauguração tão esperada: a esposa do Dr. Walmor Ribeiro, lageano, Vice-Governador do Estado, cortou a fita de saída da balsa para São Joaquim. A fita de entrada, lado de Lages, foi cortada pelo Dr. Félix Malburg, representante do Dr. Adolfo Konder, “Presidente” (Governador) de Santa Catarina.
Dentre os oradores protocolares, fez uso da palavra em nome do Município de São Joaquim, o Secretário da Prefeitura, Enedino Batista Ribeiro, 30 anos de idade. A certa altura de sua alocução, proferiu Enedino as seguintes palavras proféticas: “a ligação São Joaquim – Lauro Muller por estrada de rodagem, há de ser, em futuro não remoto, uma realidade. E então, ligada a Serra Catarinense aos municípios do Sul Catarinense, enormes serão as vantagens que advirão para a nossa Região. Este é o primeiro golpe que se vibra nesta imensa cordilheira de montanhas, em que lhe povoa o dorso imensurável gigante de pedra, que se opõe a que se abram estradas em nosso solo”.
Não imaginava naquele ensejo, o jovem secretário da Prefeitura que vinte e dois anos depois, seria ele, na qualidade de Deputado Estadual por seu Município, na gestão 1950-1954, e autorizado pelo Governo do Sr. Irineu Bornhausen, no dia 17 de maio de 1951, que apresentaria a seus pares, na 22ª Sessão Ordinária da Assembléia Legislativa, com longa “Exposição de Motivos”, uma “Indicação”, encarecendo a urgência da abertura da SERRA DO RIO DO RASTRO. Aprovado o projeto, os trabalhos tiveram início ainda em 1951, através da 5ª Residência de Estradas de Rodagem de Tubarão. Ao final de sua gestão, em 1954, Irineu Bornhausen subiu a Serra em automóvel, concretizando o vaticínio de Enedino naquele longínquo 10 de abril de 1929: a partir daquele momento, teve início, realmente, uma nova era desenvolvimentista para a Região Serrana.
Em maio de 1951 apresentou ainda outra Indicação à Assembléia Legislativa, em conseqüência da qual foi celebrado no Rio de Janeiro, em 11 de setembro de 1951, um Acordo entre o Governo da União e a Prefeitura de São Joaquim, para a instalação, no município, de um POSTO DE FRUTICULTURA, que teve como primeiro diretor o engenheiro-agrônomo João Palma Moreira. Esse Posto foi o embrião para as futuras conquistas em Fruticultura de Clima Temperado da região;
Em 1952, apresentou a Indicação que resultou na instalação, na mesma cidade, de um POSTO DE METEREOLOGIA, para subsidiar diretamente os técnicos do Posto de Fruticultura, o que era feito até ali através dos Aparados da Serra, RS, a mais de 60km e em local de 600m de altitude, bastante inferior aos 1415m do posto joaquinense;
Criação da 11ª RESIDÊNCIA DE ESTRADAS DE RODAGEM, com vistas à execução dos vários projetos rodoviários de São Joaquim, Bom Jardim, Urubici, e Bom Retiro, que, graças ao intenso trabalho de Enedino foi instalada em sua cidade natal, sob  a direção do engenheiro Lourenço Faoro.
Em 1999, o Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina decidiu comemorar o centenário de nascimento de seu sócio Enedino Batista Ribeiro com uma sessão solene à qual esteve presente o deputado joaquinense Sandro Tarzan que, impressionado com a relevância das obras conquistadas pelo homenageado em prol da Região Serrana, e de São Joaquim em especial, obras desconhecidas da historiografia serrana, resolveu prestar-lhe também reconhecimento na Assembléia Legislativa.
Em decorrência desse resgate político e histórico, duas homenagens lhe foram prestadas:
-                            o Executivo Estadual, no dia 25.10.2002, outorgou-lhe, “in memorian”, a Medalha Anita Garibaldi, a mais alta condecoração do Estado por serviços relevantes prestados a SC;
-                            a Assembléia Legislativa aprovou que passasse a ser denominada RODOVIA ENEDINO BATISTA RIBEIRO o trecho da SC-438 compreendido entre a ponte do rio Caveiras e a do rio Lava Tudo, no município de Painel.
Em março de 2006, foi instalado na cabeceira da ponte do Lava Tudo, lado de São Joaquim, um marco comemorativo do trecho assim denominado, com o entorno ajardinado, com bancos onde os viajantes podem descansar e apreciar a paisagem. 

segunda-feira, 4 de abril de 2011

CORONEL JOÃO RIBEIRO - Um dos dez fundadores de São Joaquim

PARTE II – VIDA ECONÔMICA
Por Ismênia Ribeiro Schneider
abril 2011

Dados do inventário de João da Silva Ribeiro Júnior:
Termo de Louvação:
Redigido no dia 04.10.1894, na vila de São Joaquim da Costa da Serra, na residência do Juiz de Direito da Comarca, Dr. Vasco Albuquerque Gama, para onde são convocados todos os herdeiros, mais o curador de D. Ismênia, interditada por sofrer das faculdades mentais, mais o Curador Geral dos Órfãos, o cidadão Capitão Luciano Silveira Goulart,) a fim de escolherem os dois avaliadores do espólio, como determina a Lei, escolha que recaiu nas pessoas do Tenente Coronel José Antunes Lima e em João Jose Rath.
Intimados os dois avaliadores, todos se reuniram na residência, ou melhor, no domicílio do casal João Ribeiro/Ismênia que era a “Fazenda São João de Pelotas”, para a avaliação, após levantamento pelo inventariante de todos os bens do espólio em questão.

Foram descritos os seguintes bens:

IMÓVEIS (ou “bens de raiz”):
- Um terreno na vila de São Joaquim, com oitenta palmos de frente e duzentos e oitenta de fundo, valendo.
30$000
- Uma casa de pedra na rua principal dessa vila com várias benfeitorias e vários terrenos.
6:000$000
- Uma casa na Fazenda VARGINHA, com várias benfeitorias.
1:000$000
- Uma casa velha coberta de telhas, com benfeitorias no pasto da mesma fazenda.
250$000
- Uma casa de madeira com benfeitorias, na Varginha, no local denominado Invernada Grande.
100$000
- Os campos e matos da VARGINHA.
16:000$000
- Uma casa de tijolos no centro da Fazenda São João de Pelotas, coberta de telhas, e muitas benfeitorias como casas cobertas de telhas, mangueiras, lavouras, quintais, dois potreiros e os terrenos onde se assentam essas construções.
9:000$000
- O “Rincão dos Potreirinhos”, na dita fazenda, fechada pelo herdeiro João Baptista Ribeiro de Souza, exclusive as taipas, e mais os tapumes.
8:000$000
- Os campos do “POSTO”, inclusive as taipas e tapumes.
15:000$000
- O rincão da INVERNADA DO CEDRO, com as taipas e tapumes.
10:000$000
- A FAZENDA SÃO JOÃO DE PELOTAS, exclusive a “Invernada  Grande do Fundo’”, a do “Cedro” e a dos “Potreirinhos”, mas inclusive a metade do RINCÃO DO CEMITÉRIO, ainda indiviso.
95:000$000
- A INVERNADA GRANDE DO FUNDO, com as taipas e tapumes.
35:000$000

Assinaram este documento o Juiz, o escrivão e dois avaliadores: Jorge Antunes Lima e João José Rath.
Fazenda “São João de Pelotas”, 16 de novembro de 1894.

DÍVIDAS ATIVAS
Devem ao monte:
1- José Pereira de Ávila
119$000
2- João Augusto Xavier Neves
380$000
3- Antônio José de Lima
125$500
4- Joaquim José Pereira
1:596$000
5- Januário Pinto de Arruda
212$400
6- Antônio Mariano Teixeira Brasil
156$500
7- Ezírio Bento Rodrigues Nunes
677$500
8- Antonio Manche
122$500
9- O espólio de Manoel Moreira dos Reis Júnior
400$000
10- Ten. Cel. Fermino Lopes Rego, representando o governo da República
10:000$000
11- Oscar Lima (três bestas a 80$000)
240$000
12- Dona Ignes Baptista Ribeiro (filha)
635$720
13- Horacio Joaquim de Albuquerque
363$770
Declarou mais o inventariante que suas oito irmãs receberam dotes matrimoniais no valor de
1:981$000
Todos
15:848$000

Declarou o inventariante que os documentos comprobatórios da propriedade legítima de todos os bens imóveis descritos e avaliados se acham depositados em poder do herdeiro João Baptista Ribeiro de Souza, bem como os documentos relativos às dívidas ativas do espólio.
Declarou mais que não existe DÍVIDA PASSIVA, e que as despesas com o funeral e “bem da alma”, foram feitas pelos herdeiros de acordo mútuo e expensas próprias.
Fazenda São João de Pelotas, 19.11.1894.
Bernardino Esteves de Carvalho – escrivão
Vasco de Albuquerque Gama  - Juiz de Órfãos
Affonso da Silva Ribeiro – inventariante

A seguinte peça de inventário é o “Auto de Alimpação da Partilha”, que é o momento em que os herdeiros e curadores podem concordar ou discordar da descrição e avaliação dos bens feitas pelo inventariante, que foi feito no próprio dia 19.11.1894.
Para se proceder à partilha, houve necessidade de se esperar o resultado da avaliação dos bens pertencentes ao espólio no município de Lages, solicitada ao Juízo de Direito e de Órfãos da Comarca de Lages em CARTA PRECATÓRIA do dia 05 de outubro de 1894, expedida pelo Juízo Deprecante da Comarca de São Joaquim da Costa da Serra, representado pelo Dr.Vasco de Albuquerque Gama.
No dia 06 de novembro de 1894 é feita a autuação em que o Juiz de Direito e de Órfãos da Comarca de Lages, Dr. Joaquim Fiúza de Carvalho, manda intimar os mesmos avaliadores dos bens de São Joaquim, Ten. Cel. José Antunes Lima e o Capitão João José Rath, para avaliar os bens existentes em Lages.
O escrivão de Órfãos  Filippe Micalão de Góss.
No 8.11.1894, na “Fazenda do Pinheirinho”, residência do Cel. João Ribeiro no município de Lages, em presença do Sr. Juiz, do escrivão, do Major Affonso da Silva Ribeiro, inventariante, e dos avaliadores José Antunes Lima e João José Rath, foram descritos e avaliados os seguintes bens:

IMÓVEIS
1- Uma sorte de campos e matos da Fazenda denominada PINHEIRINHOS no município de Lages
43:000$000
2- Uma invernada fechada, com a denominação de INVERNADINHA, na mesma fazenda
1:500$000
3- Uma invernada com a denominação INVERNADINHA DO PINHEIRINHO
14:000$000
4- Uma CASA de morada na Fazenda Pinheirinhos, sendo edificada de pedras, coberta de telhas e repartida por paredes de estuque, forrada e assoalhada
1:800$000
5- Uma invernada denominada SANTANA, compreendendo todo o terreno fechado a espensas do co-herdeiro FIRMINO BRANCO, e o terreno onde se acha edificada a casa, curral, lavoura e potreiros da referida fazenda Santana
9:000$$000
6- Outra morada de casa mais benfeitorias, na Fazenda Santana, juntamente com os móveis nela existentes, que são de pouco valor
1:000$000
7- Os campos e matos sitos na mesma fazenda Santana, fora dos tapumes e ocupados pelas benfeitorias da aludida casa
2:000$000

IMÓVEIS
01 casa grande, sita nesta cidade, à rua Quinze de Novembro, construída de pedra com cantaria na frente, com cozinha, ramada nos fundos, contendo 01 armário e 01 fogão, e com fundo correspondentes
12:000$000
01 casa anexa à anterior, com todas as dependências e fundos correspondente, mas em mau estado
3:000$000
01 POTREIRO fechado, sito nos subúrbios da cidade, além do rio Caraá
400$000
01 sorte de matos de cultura, medidos e demarcados, sitos na barra do rio Caveira com o rio Canoas no fundo do Serrito, propriedade comprada ao Major Antonio Delfes da Cruz, Firmino Rodrigues Leite e Bernardino Machado, conforme consta da escritura de compra
12:000$000
01 casa de madeira, térrea, com poucas benfeitorias, localizada nas terras citadas anteriormente
200$000

Na mesma data os autos são remetidos ao contador do Juízo para serem calculadas as custas do processo na Comarca de Lages no valor de 293$460.
Concluídos todos os trâmites legais, no dia 14 de novembro de 1894, a Precatória é devolvida ao Juízo de Direito e de Órfãos da Comarca de São Joaquim da Costa da Serra, onde se processa o presente inventário.
Já aos 19.11.1894, na Fazenda São João de Pelotas, na presença das autoridades responsáveis pelo inventário, os autos são dados à vista dos herdeiros e curadores para opinarem sobre a descrição e avaliação dos bens existentes em Lages. Todos concordam e assinam de próprio punho.
Chegada a hora da PARTILHA são escolhidos como Partidores os cidadãos SILVANO ANTONIO PROENÇA pela família e HORÁCIO DA SILVA DUTRA pela Justiça.

AUTO DE PARTILHA
O montante dos bens a partilhar são, segundo o Juiz de Órfãos e os Partidores:
Bens de raiz
295:280$000
Bens móveis e semoventes
79:859$500
Dotes das 8 herdeiras
15:848$000
Dívida ativa
15:028$870
Monte Mor
406:016$370
Meação da viúva
203:008$185
Legítima de cada herdeiro
20:300$813 ½

Nota:
406:016$370 = quatrocentos e seis contos e dezesseis mil trezentos e setenta mil réis.
203:008$185 = duzentos e três contos, oito mil cento e oitenta e cinco mil réis.
20:300$813 ½ = vinte contos, trezentos mil, oitocentos e treze e meio réis.
A partir desta fase, os herdeiros, muitos deles moradores fora, como Manoel Ignácio Velho, residente no RS e a maioria domiciliada em Lages, menos João Baptista Ribeiro de Souza e Ignácio Subtil de Oliveira, residentes em São Joaquim passam ao herdeiro Cezário Joaquim do Amarante, domiciliado na Fazenda do Barreiro, em São Joaquim, uma PROCURAÇÃO de amplos poderes para representá-los nos restantes procedimentos do presente inventário.
Testemunharam Silvano Antonio Proença e Sebastião da Silva Furtado.
Tabelião: Bernardino Esteves de Carvalho.

Observação:
Dos quinhentos inventários da Comarca de Lages, referentes ao período 1840-1888, e os dezenove pertencentes à Comarca de São Joaquim, período de 1888-1940, o que denota a maior fortuna da Região nesse período é a do Cel. João Ribeiro, seguida pela de Inácio da Silva Mattos, na época do inventário de sua mulher, Ismênia Pereira Machado, falecida em 1934 – Inácio e Ismênia Palma – casal fundador da Família PALMA de São Joaquim, cujo monte-mor (montante de bens) alcançava 333:921$000. O montante dos bens de João Ribeiro era de 406:016$370. A terceira maior herança pertenceu a Vidal José de Oliveira Ramos, no valor de 286:111$500.
Dados interessantes: a mulher de João Ribeiro, Ismênia, e Júlia, a de Vidal Ramos eram ambas filhas de INHOLO, portanto, irmãs, a primeira de sua união marital com Maria Gonçalves do Espírito Santo e a segunda de seu casamento com Cândida dos Prazeres Córdova.
No entanto, João Baptista de Souza (1800-1850), INHOLO, não chegou a ser milionário, como o eram as pessoas que possuíssem cem contos de réis. Seu espólio alcançou 46 contos de réis, mas era proprietário da Fazenda “São João”, renomeada por João Ribeiro “São João de Pelotas”, mais três grandes propriedades na Região da Coxilha Rica, herdades pela filha Júlia.
Segundo o historiador Gilberto Machado, quem tivesse a partir de dez contos de réis, era “remediado”.
Esta análise sobre as fortunas é relativa, pois naturalmente, perderam-se, ou estão arquivados em lugar desconhecido, muitos inventários além dos aqui referidos, que se encontram a salvo no Museu do Judiciário Catarinense, em Florianópolis e os de São Joaquim no Fórum daquela cidade.

Pesquisa realizada por Ismênia Ribeiro Schneider, em março de 2005.

Fontes:
- Inventário judicial sem testamento do ano de 1894, Processo nº 76, Fls 1, arquivado no Juízo de Direito da Comarca de São Joaquim da Costa da Serra, Província de SC. Atualmente, julho de 2007, encontra-se arquivado na 2ª Vara Civil, no cartório sob responsabilidade da escrivã D. Josenádia Vicentini de Nardi, Fórum de São Joaquim,SC.
- Arquivo particular de Enedino Baptista Ribeiro e de Ismênia Ribeiro Schneider.

- O arquivo morto da 2ª Vara do Fórum de São Joaquim foi transferido para o Museu do Judiciário de SC, em Florianópolis.