sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Contrato celebrado entre o Juiz da Devoção de São Joaquim da Costa da Serra e o Mestre Pedreiro João Pedro Lucrécio para a construção da Igreja Matriz da Freguesia de São Joaquim da Costa da Serra do termo de Lages

          
          Desde 2006 tenho procurado resgatar a história de São Joaquim na época de sua fundação. A principal fonte de dados é o primeiro caderno de Atas da Fundação, composto das 34 primeiras atas. Quando, em 1926, Enedino Batista Ribeiro foi Diretor-secretário da Prefeitura Municipal de São Joaquim, datilografou todo esse caderno, que originalmente era manuscrito, e o conservou em seu arquivo histórico sobre o município.
           Postaremos neste blog, cópia do interessante Contrato celebrado entre o Juiz da Devoção de São Joaquim da Costa da Serra, Manoel Joaquim Pinto, e o Mestre Pedreiro João Pedro Lucrécio, para a construção da Igreja Matriz da Freguesia São Joaquim da Costa da Serra, termo de Lages.

Cópia do contrato celebrado entre o Juiz da Devoção de São Joaquim da Costa da Serra e o Mestre Pedreiro João Pedro Lucrécio para a construção da Igreja Matriz da Freguesia de São Joaquim da Costa da Serra do termo de Lages:

Declaramos nós, abaixo assinados, Manoel Joaquim Pinto, Diretor e Juiz da Devoção de São Joaquim da Costa da Serra e Jão Pedro Lucrécio Official de pedreiro que nos obrigamos sob contrato previamente aprovado por nós ambos as estipulações seguintes: Eu João Pedro Lucrécio me comprometo a fazer a Igreja de São Joaquim da Costa da Serra, mediante a quantia de hum conto e cincoenta mil réis com as seguintes dimensões: setenta palmos de comprimento sendo: a Capela Mor. com vinte sinco palmos de comprimento e os mesmo de largura e o corpo da Igreja com quarenta e sinco palmos de comprimento com outros tanto de largura, a altura do corpo da Igreja será de vinte dois palmos, da capela Mor. dezoito; os alicerces das obras serão de sinco e meios palmos de largura e as paredes de quatro palmos; Dando eu a obra prompta, constando as paredes da Igreja e em ponto de receber o madeiramento; obrigando-me a mais a principiar esta obra de dacta deste a secenta dias. Eu Manoel Joaquim Pinto me obrigo ao seguinte: dar todo o material nesseçario para a dicta obra; um official de pedreiro e dois serventes para ajudarem ao mestre assima athe o fim da obra bem como o sustento para os trabalhadores a fazer os pagamtes o primeiro quando a obra estiver feita pella metade e o segundo no fim da obra. Pelo que combinamos passar este documento que vai assignado pelo primeiro contratante assignado a rogo do segundo João Pedro Lucrécio por não saber escrever, Marcos Baptista de Sza. em prezencia das testemunhas abaixo assignadas; Freguesia de São Joaquim da Costa da Serra 1º de outubro de 1.873. Manoel Joaquim Pinto. Arrogo de João Pedro Lucrécio, Marcos Bapta. De Sza. Testemunhas presentes, Jm. Cavalheiro do Amaral. Testemunha Joaquim da Silva Mattos. Jose Rodrigues de Souza.

Biografia de João Pedro Lucrécio:
            João Pedro Lucrécio, mais conhecido por João Pedreiro, era natural do litoral de Santa Catarina, e gozou, no seu tempo, da justa fama de melhor pedreiro que aparecera em terras de São Joaquim da Costa da Serra.
            Foi ele o construtor da antiga matriz de São Joaquim, verdadeira obra-de-arte, edificada com pedras toscas, não trabalhadas, e com argamassa de barro comum, sem nenhum traço de cimento. No entanto, era uma obra que resistiu, sem desmentir em nada, o cruzar dos anos: edificada em 1873 e demolida em 1942, para dar lugar à nova matriz, encontrava-se em perfeito estado de conservação suas enormes paredes.
            Foi casado com Antônia Maria de Jesus, e residia no lugar denominado “Brusca” no quarteirão de São Mateus, no município de São Joaquim, em terras adquiridas, por compra, a dona Francisca Carneiro de Araújo.
            O lugar da casa de residência era conhecido pelo nome de “Fundinho” que, após a morte dos pais, passou para o filho Narciso Pedro Lucrécio. Este, dotado já de outro espírito, costumava festejar ali os dias santos de guarda com ágapes, danças, etc.
            O velho e estimado pedreiro, João Pedro Lucrécio, faleceu a 7 de março de 1906, deixando do seu casamento com Antônia Maria de Jesus, nove filhos que viviam próximos à Fazenda São João de Pelotas.
            São os seguintes os filhos do finado João Pedro Lucrécio:
- Izabel Maria de Jesus, casada com Cândido Lamego de Chaves.
- Maria José de Jesus, casada com Inácio Henrique de Oliveira (ou Januário?).
- Narciso Pedro Lucrécio, casado com Maria Máxima de Oliveira.
- Eduarda Maria de Jesus, casada com Máximo de Oliveira.
- Benedito Pedro Lucrécio, casado com _________.
- Antônio Pedro Lucrécio, casado com Paula Francisca de Oliveira.
- Joaquina Maria de Jesus, casada com _________.
- Maximiana Maria de Jesus, casada com _________.
- Claudiana Maria de Jesus, casada com Eufrásio José Garcia.


Biografia de João Pedro Lucrécio retirado do livro:
RIBEIRO, Enedino Batista. Gavião-de-Penacho, memórias de um serrano. Florianópolis: Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina, 1999, pg. 135-138.

Primeira Igreja - óleo sobre tela - 0,38m x 0,32m.
Artista: Susana Scóss Bianchini
Pintura encontrada no livro: Recordando São Joaquim,
de Susana Scóss Bianchini, 1986.


 
            A primeira capela, consagrada ao patriarca São Joaquim, pai de Nossa Senhora, mandada erigir pelos primeiros moradores, construída por seus escravos e empregados, era de pedras naturais, grandes e pequenas, sobrepostas e ligadas com barro. Consta que suas paredes mediam cerca de 1 metro de espessura.
            Mais tarde esta capela serviu de sacristia, quando foi construída à sua frente outra capela maior, de pedras cortadas e unidas com argamassa. Segundo informações, as pedras foram carregadas em zorras* e couros de bois arrastadas por animais e meio pelos escravos, à falta de carros para transporte.
            Situava-se esta capela ao lado direito da atual Matriz. Sua demoliação se deu quando da construção desta última.
            Ao lado esquerdo da capela havia um campanário aberto, de madeira, e que abrigava um pequeno sino. Somnete pelo Natal de 1926 chegou o sino grande, trazido de Lages em carro de bois.
            O primeiro harmônio, vindo da Europa, foi doado pelos irmãos Adolfo e Dorval Matos, mestres de música, ajudados por parentes e amigos. Dona Hilda Mattos, muito jovem ainda, foi a primeira organicista; tocava este instrumento durante as missas, casamentos e festas.
            Um detalhe pitoresco que chegou ao nosso conhecimento: - A capela tinha um só degrau na entrada e se referia ao primeiro mandamento da Lei: “Amar a Deus sobre todas as Coisas”.
            A escrava Brandina, há muitos anos falecida, contava aos antigos que as pedras para a primeira igreja e para as outras construções era carregadas pelos escravos, dentro de couros de bois, bem inteiros, aos quais se conservavam as patas, que serviam de pegadores.
* Aparelho sem rodas, de tração animal para transporte de grandes pedras ou de outros objetos muito pesados.

Texto de Suzana Scóss Bianchini, retirado do livro:
BIANCHINI, S. S. Recordando São Joaquim. Ed. Da Autora: Florianópolis, 1986.