Retomamos os estudos sobre os nomes de ruas e praças de São Joaquim
(SC). Inicialmente, destacamos um personagem importante para o Estado de Santa
Catarina, sendo que seu nome, além de nomear uma rua de São Joaquim, também foi
conferido a uma cidade localizada ao “pé” da serra do Rio do Rastro: Lauro Müller.
Lauro
Severiano Müller (08/11/1863 – 30/07/1926), ou Lauro Müller, como é mais conhecido,
ocupou cargos muito importantes, bem descritos no Dicionário Político Catarinense:
“Lauro
Severiano Müller. Natural de Itajaí, SC, a 08.11.1863, filho de Pedro (Peter)
Müller e de D. Ana Maria Michels Müller. Fez os estudos primários em sua terra
natural. Seguiu para o Rio de Janeiro, onde se empregou no comércio. Assentou
praça na Escola Militar (1882). Alferes (1885). 2º Tenente (1889). Indicado por
Benjamin Constant[i]
e Antônio Justiniano Esteves Júnior[ii]
foi nomeado Governador de Santa Catarina (1889). 1º Tenente (1890). Deputado à
Assembleia Nacional Constituinte (1891) e à 1ª Legislatura (1891 – 1893) por
Santa Catarina. Deputado federal à 2ª Legislatura (1894 – 1896). Deputado Federal
à 3ª Legislatura (1897 – 1899). Major (1900).
Senador,
por santa Catarina, à 4ª Legislatura, por nove anos (1900 – 1908). Licenciado
para assumir o Ministério da Viação e Obras Públicas, no Governado de Francisco
de Paula Rodrigues Alves[iii].
Senador (eleito a 07.02.1907) para completar o mandato de Gustavo Richard[iv],
de seis anos. Tenente-coronel (1906). Senador (eleito a 30.01.1912), por nove
anos, renunciando em maio de 1912, para assumir o cargo de ministro das
Relações Exteriores. Coronel (1912). General de Brigada (1914). Senador, para
completar o mandato, face a renúncia de Abdon Batista[v]
(eleito a 26.08.1917).
Senador,
por nove anos, eleito em 1921. General de Divisão (1921). Pertenceu à Academia
Brasileira de Letras.
Faleceu,
no Rio de Janeiro, a 30.07.1926.
Foi
casado com D. Luísa de Andrade Müller, de quem houve Lauro Müller Filho,
Laurita (c.c. Mazini Bueno) e Antônio Pedro de Andrade Müller” (PIAZZA, 1994,
p. 477[vi]).
Figura 1 - Lauro Severiano Müller. Fonte:
site Agência AL (ALESC).
Sobre o seu
filho Antônio Pedro de Andrade Müller, o Dicionário Político Catarinense
apresenta as seguintes informações:
“Natural do Rio de Janeiro,
filho de Lauro Severiano Müller e de D. Luísa de Andrade Müller.
Bacharel em
Direito. Deputado ao Congresso Representativo à 10ª Legislatura (1919 – 1921),
Deputado estadual à 11ª Legislatura (1922 – 1924). Deputado estadual à 12ª
Legislatura (1927). Deputado estadual à 13ª Legislatura (1928 – 1930)” (PIAZZA,
1994, p. 474).
Um artigo
interessante, da professora Giralda Seyferth, do Programa de Pós-Graduação em
Antropologia Social (Museu Nacional, UFRJ), conta um pouco sobre a história e a trajetória de Lauro Müller:
“A família Müller
fazia parte do primeiro contingente de imigrantes alemães que se fixou na
colônia de São Pedro de Alcântara em 1829. O avô, Johann, de origem camponesa,
recebeu um lote colonial, explorado por ele e seus filhos menores; portanto,
Lauro Müller era filho de um colono. Mas seu pai, Peter, abandonou a atividade
agrícola para trabalhar como embarcadiço nos barcos que faziam a linha Desterro
(Florianópolis) - Itajaí. A mãe, Anna Michells, era filha de outro colono da
primeira leva de imigrantes, que havia se retirado para Itajaí, onde abriu uma
casa comercial. Após seu casamento, Peter Müller mudou-se para Itajaí, onde
também ingressou, com o irmão, na atividade comercial — escolha lógica para
estabelecer uma casa comercial, pois era o lugar para onde convergia a maior
parte da produção agrícola e manufatureira do Vale do Itajaí. Lauro, o quinto
filho, nasceu em 08/11/1863, em Itajaí.
Sua primeira
inserção escolar é significativa: foi educado no idioma alemão, em uma escola
primária particular teuto-brasileira, em Blumenau, onde residia seu tio,
Bernardo Haendschen, casado com uma irmã de seu pai, uma vez que não havia
escola alemã em sua cidade natal. O tio também era pequeno comerciante, uma
estratégia familiar para sair da condição de colono e integrar a classe média
urbana em formação nas áreas coloniais e sua periferia. Lauro Müller
freqüentou, ainda, por algum tempo, uma escola pública brasileira, forma de ser
teuto-brasileiro assimilado em condições de ingressar em uma escola secundária
fora do seu estado de origem. Aos 16 anos foi enviado ao Rio de Janeiro para
aprendizado em uma casa comercial, de onde saiu para concluir os estudos de 2º
grau em Niterói. Aos 19 anos ingressou na Escola Militar do Rio de Janeiro,
onde obteve o grau de engenheiro-militar e se tornou alferes em 1887 [ou 1885,
conforme Piazza, 1994]. Em 1889 era tenente-engenheiro do Exército nacional,
tendo passado pela doutrinação republicana positivista de Benjamim Constant.
Servia como ajudante-de-ordens do marechal Deodoro da Fonseca por ocasião da
proclamação da República — um acaso fundamental no processo de ascensão social
pela via política, pois veio a ser nomeado governador provisório de Santa
Catarina aos 26 anos de idade. A partir daí sua carreira política, vinculada ao
Vale do Itajaí, teve andamento rápido: foi eleito senador Constituinte em 1890,
voltou a ocupar o cargo de governador em 1891 (cargo para o qual seria
novamente eleito em 1902 e 1918); além disso, venceu diversas eleições para
deputado federal e senador, e ocupou o cargo de ministro de Estado por duas
vezes (Ministério da Viação, no governo de Francisco de Paula Rodrigues Alves,
1902-1906; e Ministério do Exterior, em substituição ao Barão do Rio Branco, de
1912 a 1917, nos governos Hermes da Fonseca e Venceslau Braz)” (SEYFERTH, 1999,
p. 75-76[vii]).
Notas e Referências
[i] Benjamin Constant: Benjamin Constant (1833-1891) foi militar e político brasileiro. Teve
um papel importante no movimento político que resultou no processo de
Proclamação da República no Brasil. Foi professor, doutor em matemática e
ciências físicas. Como militar, galgou vários postos, chegando a General de
Brigada. Foi professor e depois diretor do Instituto dos Meninos Cegos, do Rio
de Janeiro. Fontes: http://www.suapesquisa.com/biografias/benjamin_constant.htm e http://acervo.estadao.com.br/noticias/personalidades,benjamin-constant,667,0.htm.
[ii] Antônio Justiniano Esteves Júnior: Eleito senador por Santa
Catarina à Assembleia Nacional Constituinte em setembro de 1890, tomou posse em
15 de novembro e foi presenteado por seus conterrâneos com uma pena de ouro
para assinar a Constituição de 1891, o que o fez. Em seguida, fez uma homenagem
ao professor que lhe ensinou as primeiras letras, José Joaquim Lopes,
presenteando-o com a mesma pena. A partir de maio de 1891 passou a exercer o
mandato ordinário e em 1900 foi reeleito senador. Não completou o segundo
mandato em virtude de seu falecimento, ocorrido no Rio de Janeiro, então
Distrito Federal, em 9 de março de 1900. Fonte e mais informações em: http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/ESTEVES%20J%C3%9ANIOR.pdf.
[iii] Francisco de Paula Rodrigues Alves: Formou-se em direito em São
Paulo antes de ingressar na vida pública, em 1872, como deputado provincial
pelo Partido Conservador. Em 1887 chegou a presidente da província de São Paulo
(o equivalente ao governador), cargo que voltaria a ocupar em 1900 e 1916. Após
a Proclamação da República, foi deputado constituinte, em 1890, e ministro da
Fazenda duas vezes no governo de Floriano Peixoto e no de Prudente de Morais.
Eleito presidente da república em 1902. Fonte e maiores informações: https://educacao.uol.com.br/biografias/francisco-de-paula-rodrigues-alves.jhtm.
[iv] Gustavo Richard (Rio de Janeiro, 29 de agosto de 1847 —
Florianópolis, 18 de outubro de 1929) era filho dos franceses Henrique Ricardo
Richard e Carlota Amélia Anna Coullon Richard. Foi vereador em Desterro de 1887
a 1890; vice-presidente de Santa Catarina, tendo assumido o governo de 8 de
outubro de 1890 a 12 de junho de 1891 (substituindo Lauro Müller, então na
Câmara Federal) e de 21 de novembro de 1906 a 28 de setembro de 1910; senador,
nos períodos sucessivos de 1894 a 1902, e de 1903 a 1906); e, finalmente,
deputado federal de 1912 a 1914. Foi tenente-coronel (18 de setembro de 1890) e
coronel (18 de abril de 1891) da Guarda Nacional. Fonte: https://fortalezas.org/?ct=personagem&id_pessoa=2018.
[v] Abdon Batista: nasceu em Salvador no dia 30 de julho de 1852, filho
de Hermenegildo Batista e de Maria Girard Batista. Formou-se pela Faculdade de
Medicina da Bahia. Mudou-se para Santa Catarina por volta de 1870. Filiado ao
Partido Liberal, foi eleito deputado provincial em Santa Catarina e exerceu o
mandato de 1884 a 1885. Três anos depois reelegeu-se para a legislatura 1888-1889,
tendo exercido a presidência da Assembleia durante todo o período. Foi ainda presidente
da província de Santa Catarina de 26 de junho a 19 de julho de 1889. Após a proclamação da República em 15 de
novembro de 1889 aderiu ao novo regime, mas logo depois desligou-se do Partido
Republicano Catarinense. Foi um dos fundadores da União Federalista,
transformada mais tarde em Partido Federalista de Santa Catarina. Em 1891
elegeu-se deputado à Assembleia Constituinte do estado, cumprindo mandato até
1894. Ao mesmo tempo foi prefeito de Joinville de 1893 a 1894. Nesse último ano,
em razão da repressão à Revolução Federalista, asilou-se na Argentina. De volta
ao Brasil em 1901, foi eleito deputado estadual mas, como não teve sua eleição
validada, não assumiu o mandato. Em 1903 elegeu-se deputado federal por Santa
Catarina para a legislatura 1903- 1905. Eleito vice-governador do estado em
1906, assumiu o governo de 21 de novembro desse ano, substituindo o governador
Gustavo Richard. Em 1910, voltou a ocupar uma cadeira de deputado federal por
Santa Catarina, em função da renúncia de Vidal Ramos, e exerceu o mandato até o
fim da legislatura, em 1911. Reeleito, iniciou novo mandato em 1912, mas
renunciou no mesmo ano para ocupar uma cadeira no Senado, deixada vaga por
Lauro Müller, que havia sido nomeado ministro das Relações Exteriores no
governo do marechal Hermes da Fonseca (1910-1914). Com a volta de Lauro Müller
em 1917, deixou o Senado. No ano seguinte, elegeu-se novamente deputado federal
para a legislatura 1918-1920. Voltou a responder pela prefeitura de Joinville
de 1915 a 1918 e de 1919 a 1921. Faleceu em Joinville no dia 15 de março de
1922. Fonte: DANTAS, Carolina Vianna. BATISTA,
Abdon. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do
Brasil (CPDOC), Fundação Getúlio Vargas. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/BATISTA,%20Abdon.pdf.
[vi]
PIAZZA, Walter Fernando
(org). Dicionário Político Catarinense.
Florianópolis: Edição da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina,
1994.
[vii]
SEYFERTH, Giralda.
Etnicidade, política e ascensão social: um exemplo teuto-brasileiro. Mana, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, p.
61-88, Oct. 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/mana/v5n2/v5n2a03.pdf>.
Acesso em: 25 de Maio de 2017.
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