quinta-feira, 25 de maio de 2017

Rua Lauro Müller


        Retomamos os estudos sobre os nomes de ruas e praças de São Joaquim (SC). Inicialmente, destacamos um personagem importante para o Estado de Santa Catarina, sendo que seu nome, além de nomear uma rua de São Joaquim, também foi conferido a uma cidade localizada ao “pé” da serra  do Rio do Rastro: Lauro Müller.
           Lauro Severiano Müller (08/11/1863 – 30/07/1926), ou Lauro Müller, como é mais conhecido, ocupou cargos muito importantes, bem descritos no Dicionário Político Catarinense:
“Lauro Severiano Müller. Natural de Itajaí, SC, a 08.11.1863, filho de Pedro (Peter) Müller e de D. Ana Maria Michels Müller. Fez os estudos primários em sua terra natural. Seguiu para o Rio de Janeiro, onde se empregou no comércio. Assentou praça na Escola Militar (1882). Alferes (1885). 2º Tenente (1889). Indicado por Benjamin Constant[i] e Antônio Justiniano Esteves Júnior[ii] foi nomeado Governador de Santa Catarina (1889). 1º Tenente (1890). Deputado à Assembleia Nacional Constituinte (1891) e à 1ª Legislatura (1891 – 1893) por Santa Catarina. Deputado federal à 2ª Legislatura (1894 – 1896). Deputado Federal à 3ª Legislatura (1897 – 1899). Major (1900).
Senador, por santa Catarina, à 4ª Legislatura, por nove anos (1900 – 1908). Licenciado para assumir o Ministério da Viação e Obras Públicas, no Governado de Francisco de Paula Rodrigues Alves[iii]. Senador (eleito a 07.02.1907) para completar o mandato de Gustavo Richard[iv], de seis anos. Tenente-coronel (1906). Senador (eleito a 30.01.1912), por nove anos, renunciando em maio de 1912, para assumir o cargo de ministro das Relações Exteriores. Coronel (1912). General de Brigada (1914). Senador, para completar o mandato, face a renúncia de Abdon Batista[v] (eleito a 26.08.1917).
Senador, por nove anos, eleito em 1921. General de Divisão (1921). Pertenceu à Academia Brasileira de Letras.
Faleceu, no Rio de Janeiro, a 30.07.1926.
Foi casado com D. Luísa de Andrade Müller, de quem houve Lauro Müller Filho, Laurita (c.c. Mazini Bueno) e Antônio Pedro de Andrade Müller” (PIAZZA, 1994, p. 477[vi]).


 
Figura 1 - Lauro Severiano Müller. Fonte: site Agência AL (ALESC).

Sobre o seu filho Antônio Pedro de Andrade Müller, o Dicionário Político Catarinense apresenta as seguintes informações:
“Natural do Rio de Janeiro, filho de Lauro Severiano Müller e de D. Luísa de Andrade Müller.
Bacharel em Direito. Deputado ao Congresso Representativo à 10ª Legislatura (1919 – 1921), Deputado estadual à 11ª Legislatura (1922 – 1924). Deputado estadual à 12ª Legislatura (1927). Deputado estadual à 13ª Legislatura (1928 – 1930)” (PIAZZA, 1994, p. 474).

            Um artigo interessante, da professora Giralda Seyferth, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (Museu Nacional, UFRJ), conta um pouco sobre a história e a trajetória de Lauro Müller:
“A família Müller fazia parte do primeiro contingente de imigrantes alemães que se fixou na colônia de São Pedro de Alcântara em 1829. O avô, Johann, de origem camponesa, recebeu um lote colonial, explorado por ele e seus filhos menores; portanto, Lauro Müller era filho de um colono. Mas seu pai, Peter, abandonou a atividade agrícola para trabalhar como embarcadiço nos barcos que faziam a linha Desterro (Florianópolis) - Itajaí. A mãe, Anna Michells, era filha de outro colono da primeira leva de imigrantes, que havia se retirado para Itajaí, onde abriu uma casa comercial. Após seu casamento, Peter Müller mudou-se para Itajaí, onde também ingressou, com o irmão, na atividade comercial — escolha lógica para estabelecer uma casa comercial, pois era o lugar para onde convergia a maior parte da produção agrícola e manufatureira do Vale do Itajaí. Lauro, o quinto filho, nasceu em 08/11/1863, em Itajaí.
Sua primeira inserção escolar é significativa: foi educado no idioma alemão, em uma escola primária particular teuto-brasileira, em Blumenau, onde residia seu tio, Bernardo Haendschen, casado com uma irmã de seu pai, uma vez que não havia escola alemã em sua cidade natal. O tio também era pequeno comerciante, uma estratégia familiar para sair da condição de colono e integrar a classe média urbana em formação nas áreas coloniais e sua periferia. Lauro Müller freqüentou, ainda, por algum tempo, uma escola pública brasileira, forma de ser teuto-brasileiro assimilado em condições de ingressar em uma escola secundária fora do seu estado de origem. Aos 16 anos foi enviado ao Rio de Janeiro para aprendizado em uma casa comercial, de onde saiu para concluir os estudos de 2º grau em Niterói. Aos 19 anos ingressou na Escola Militar do Rio de Janeiro, onde obteve o grau de engenheiro-militar e se tornou alferes em 1887 [ou 1885, conforme Piazza, 1994]. Em 1889 era tenente-engenheiro do Exército nacional, tendo passado pela doutrinação republicana positivista de Benjamim Constant. Servia como ajudante-de-ordens do marechal Deodoro da Fonseca por ocasião da proclamação da República — um acaso fundamental no processo de ascensão social pela via política, pois veio a ser nomeado governador provisório de Santa Catarina aos 26 anos de idade. A partir daí sua carreira política, vinculada ao Vale do Itajaí, teve andamento rápido: foi eleito senador Constituinte em 1890, voltou a ocupar o cargo de governador em 1891 (cargo para o qual seria novamente eleito em 1902 e 1918); além disso, venceu diversas eleições para deputado federal e senador, e ocupou o cargo de ministro de Estado por duas vezes (Ministério da Viação, no governo de Francisco de Paula Rodrigues Alves, 1902-1906; e Ministério do Exterior, em substituição ao Barão do Rio Branco, de 1912 a 1917, nos governos Hermes da Fonseca e Venceslau Braz)” (SEYFERTH, 1999, p. 75-76[vii]).


Notas e Referências






[i] Benjamin Constant: Benjamin Constant (1833-1891) foi militar e político brasileiro. Teve um papel importante no movimento político que resultou no processo de Proclamação da República no Brasil. Foi professor, doutor em matemática e ciências físicas. Como militar, galgou vários postos, chegando a General de Brigada. Foi professor e depois diretor do Instituto dos Meninos Cegos, do Rio de Janeiro. Fontes: http://www.suapesquisa.com/biografias/benjamin_constant.htm e http://acervo.estadao.com.br/noticias/personalidades,benjamin-constant,667,0.htm.

[ii] Antônio Justiniano Esteves Júnior: Eleito senador por Santa Catarina à Assembleia Nacional Constituinte em setembro de 1890, tomou posse em 15 de novembro e foi presenteado por seus conterrâneos com uma pena de ouro para assinar a Constituição de 1891, o que o fez. Em seguida, fez uma homenagem ao professor que lhe ensinou as primeiras letras, José Joaquim Lopes, presenteando-o com a mesma pena. A partir de maio de 1891 passou a exercer o mandato ordinário e em 1900 foi reeleito senador. Não completou o segundo mandato em virtude de seu falecimento, ocorrido no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 9 de março de 1900. Fonte e mais informações em: http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/ESTEVES%20J%C3%9ANIOR.pdf.

[iii] Francisco de Paula Rodrigues Alves: Formou-se em direito em São Paulo antes de ingressar na vida pública, em 1872, como deputado provincial pelo Partido Conservador. Em 1887 chegou a presidente da província de São Paulo (o equivalente ao governador), cargo que voltaria a ocupar em 1900 e 1916. Após a Proclamação da República, foi deputado constituinte, em 1890, e ministro da Fazenda duas vezes no governo de Floriano Peixoto e no de Prudente de Morais. Eleito presidente da república em 1902. Fonte e maiores informações:  https://educacao.uol.com.br/biografias/francisco-de-paula-rodrigues-alves.jhtm.

[iv] Gustavo Richard (Rio de Janeiro, 29 de agosto de 1847 — Florianópolis, 18 de outubro de 1929) era filho dos franceses Henrique Ricardo Richard e Carlota Amélia Anna Coullon Richard. Foi vereador em Desterro de 1887 a 1890; vice-presidente de Santa Catarina, tendo assumido o governo de 8 de outubro de 1890 a 12 de junho de 1891 (substituindo Lauro Müller, então na Câmara Federal) e de 21 de novembro de 1906 a 28 de setembro de 1910; senador, nos períodos sucessivos de 1894 a 1902, e de 1903 a 1906); e, finalmente, deputado federal de 1912 a 1914. Foi tenente-coronel (18 de setembro de 1890) e coronel (18 de abril de 1891) da Guarda Nacional. Fonte: https://fortalezas.org/?ct=personagem&id_pessoa=2018.

[v] Abdon Batista: nasceu em Salvador no dia 30 de julho de 1852, filho de Hermenegildo Batista e de Maria Girard Batista. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia. Mudou-se para Santa Catarina por volta de 1870. Filiado ao Partido Liberal, foi eleito deputado provincial em Santa Catarina e exerceu o mandato de 1884 a 1885. Três anos depois reelegeu-se para a legislatura 1888-1889, tendo exercido a presidência da Assembleia durante todo o período. Foi ainda presidente da província de Santa Catarina de 26 de junho a 19 de julho de 1889.  Após a proclamação da República em 15 de novembro de 1889 aderiu ao novo regime, mas logo depois desligou-se do Partido Republicano Catarinense. Foi um dos fundadores da União Federalista, transformada mais tarde em Partido Federalista de Santa Catarina. Em 1891 elegeu-se deputado à Assembleia Constituinte do estado, cumprindo mandato até 1894. Ao mesmo tempo foi prefeito de Joinville de 1893 a 1894. Nesse último ano, em razão da repressão à Revolução Federalista, asilou-se na Argentina. De volta ao Brasil em 1901, foi eleito deputado estadual mas, como não teve sua eleição validada, não assumiu o mandato. Em 1903 elegeu-se deputado federal por Santa Catarina para a legislatura 1903- 1905. Eleito vice-governador do estado em 1906, assumiu o governo de 21 de novembro desse ano, substituindo o governador Gustavo Richard. Em 1910, voltou a ocupar uma cadeira de deputado federal por Santa Catarina, em função da renúncia de Vidal Ramos, e exerceu o mandato até o fim da legislatura, em 1911. Reeleito, iniciou novo mandato em 1912, mas renunciou no mesmo ano para ocupar uma cadeira no Senado, deixada vaga por Lauro Müller, que havia sido nomeado ministro das Relações Exteriores no governo do marechal Hermes da Fonseca (1910-1914). Com a volta de Lauro Müller em 1917, deixou o Senado. No ano seguinte, elegeu-se novamente deputado federal para a legislatura 1918-1920. Voltou a responder pela prefeitura de Joinville de 1915 a 1918 e de 1919 a 1921. Faleceu em Joinville no dia 15 de março de 1922. Fonte: DANTAS, Carolina Vianna. BATISTA, Abdon. Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), Fundação Getúlio Vargas. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/BATISTA,%20Abdon.pdf.

[vi] PIAZZA, Walter Fernando (org). Dicionário Político Catarinense. Florianópolis: Edição da Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, 1994.

[vii] SEYFERTH, Giralda. Etnicidade, política e ascensão social: um exemplo teuto-brasileiro. Mana, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, p. 61-88,  Oct.  1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/mana/v5n2/v5n2a03.pdf>. Acesso em: 25 de Maio de 2017.

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