segunda-feira, 14 de maio de 2012

HOMENAGEM A ENEDINO BATISTA RIBEIRO NA DATA DO SEU ANIVERSÁRIO: RECORDAÇÕES FAMILIARES

                                                    Por Ismênia Ribeiro Schneider

I.          ENEDINO BATISTA RIBEIRO:
Nascimento: 14/05/1899
Morte: 10/04/1989
Filiação: João Batista Ribeiro de Souza (1860-1944) e
Cândida dos Prazeres Batista de Souza (1871- 1930)
Local de Nascimento: São Joaquim da Costa da Serra - SC
Fazenda São João de Pelotas - divisa com o Rio Grande do Sul
Casamento: Lydia Palma (1902 - 1980) - joaquinense
Data do casamento: 24/04/1926

Descendência:
1- Ernani Palma Ribeiro (falecido em 2004)
2- João Batista Ribeiro Neto (falecido em 1988)
3- Selva Palma Ribeiro
4- Yolita Ribeiro Werner (nascida Yolita Palma Ribeiro)
5- Yara Palma Ribeiro
6- Elba Palma Ribeiro (falecida em 1934)
7- Ismênia Ribeiro Schneider (nascida Ismênia Ribeiro)
8- Iponá Ribeiro Szpoganicz (nascida Iponá Palma Ribeiro)
9- Enedino Ribeiro Filho (falecido em 2003)
10- Gleci Palma Ribeiro Melo (nascida Gleci Palma Ribeiro)

Netos: 32


Formação Acadêmica:
- Formado em Farmácia, em 1924, pela Faculdade de Bioquímica e Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Vida Pública:
-          Diretor-Secretário da Prefeitura municipal de São Joaquim (1926),
-          Tabelião de Notas e Escrivão do Civil e do Comércio de São Joaquim (1928-1947),
-          Deputado suplente à Assembléia Legislativa de Santa Catarina pela União Democrática        
           Nacional (UDN) (1950-54);
-          Presidente da Comissão Estadual de Abastecimento e Preços de SC (1954-56);
-          Diretor Comercial da Empresa Luz e Força de SC S/A (1956-59);
-          Inspetor Geral, Interino, da Inspetoria de Veículos e Trânsito Público de SC (1956),
-          2° Oficial do Registro de Imóveis de Florianópolis (1959-1960- quando se aposentou);
-          Representante do Governo do Estado junto ao Conselho Regional do Serviço Social Rural
            (1959-1961);
-          Professor da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de SC (Disciplina:
           Farmacognosia), onde se aposentou.

II. RECORDAÇÕES FAMILIARES:
Não sei se conseguirei mostrar a simplicidade, a riqueza de ternura, de harmonia e de felicidade com que transcorria a vida da família de Enedino e Lydia – a FAMILIA PALMA RIBEIRO – como ficou conhecida, durante os anos em que viveu em São Joaquim.
A casa de residência da família Palma Ribeiro em São Joaquim, até 1944, ficava na rua Lauro Müller, perto da Prefeitura, exatamente dando frente para a rua onde termina a Praça João Ribeiro. Toda a frente era ocupada pelo cartório de Enedino. Atrás dele é que ficavam os quartos, que abriam para a “sala de visitas”. Entrava-se para a área residencial pelo lado direito, através de um corredor que ia dar no meio da casa, onde havia um passadiço que ligava a parte da frente com a área da cozinha, uma dispensa e um depósito de lenha, onde também funcionava um chuveiro de latão com roldana, para o “banho geral dos sábados, uma verdadeira “operação de guerra”: um fogo fortíssimo era aceso no fogão, onde, numa lata de querosene com alça era aquecida a água para os banhos. Nenhum filho podia ausentar-se nessa hora, aliás nem o desejaria, porque na grande mesa coberta por alvíssima toalha branca, com bancos em vez de cadeiras, um lauto “café com mistura” nos esperava. O cheiro do pão e dos “sequilhos cobertos” recém-assados enchia o ambiente. À medida que tomavam o banho, as crianças iam sentando ao redor do fogão. Todos prontos, conversando e rindo, sentávamo-nos à mesa para desfrutar as delícias que nos esperavam, variando cada sábado: “chimias” de todas as frutas da região (de marmelo, de figo, de pêra, de maçã, etc), guardadas em caixas de madeira com uma tampa de correr, mel (às vezes ainda no favo), manteiga feita em casa, doce-de-leite, arroz doce, bijagica, rosca de coalhada, e nem sei mais quantas guloseimas. Não sei como a dona da casa tinha tempo, mas a verdade é que, todos os sábados, nos aguardava um mimo especial: cada menina recebia uma boneca de pão, de saia comprida, olhos pretos de grão de feijão (deliciosa boneca!) e os três meninos ganhavam cada qual seu jacaré, também de olho de feijão.
Não havia, em nenhuma casa da cidade, fogão a gás, geladeira, água encanada ou luz elétrica, e, portanto, não havia banheiros dentro de casa. Os banhos diários eram tomados em uma grande banheira de latão, esvaziada no quintal por duas pessoas, após cada banho. As residências possuíam, mais no fundo do pátio, uma “privada”, ou “latrina”. A louça, na nossa casa pelo menos, era lavada em duas bacias de latão, uma com água bem quente com espuma de sabão feito em casa, e outra com água onde era retirado o sabão, sendo depois a louça escaldada com água quente. Havia um balcão de madeira, com uma pia igualmente de madeira, onde era feita toda essa operação; a água escorria por uma calha, para o quintal.
A água potável vinha da “carioca” existente na estrada de saída para Florianópolis, em frente ao então hotel do Sr. Arquimedes de Castro Farias; a água para o demais consumo era apanhada em baldes com corda, do “poço” protegido por uma tampa grossa de madeira que, no centro, possuía uma tampa menor, por onde era retirado o líquido, depositado imediatamente dentro de casa em um tonel grande de vinho, adaptado a essa circunstância. Todas as manhãs o tonel era reabastecido. O poço ficava embaixo de um pé de pero-figo, famoso entre as crianças, que o escalavam para comer seus saborosos frutos sentados em seus braços acolhedores; as maiores, que já sabiam “andar em árvore”, treinavam as menores nessa habilidade importante para todos os pequenos joaquinenses. Havia, no quintal, outros pés de frutas, um de ameixa amarela, de galhos baixos, ainda mais próximos de nossas mãos ávidas perto do Natal, quando se dobravam ao peso das ameixas suculentas. Existiam também macieiras, além de verdes e alinhados canteiros de batata inglesa, ervilhas, temperinhos verdes, que ajudávamos a Mãe colher diariamente; brincávamos de esconder no meio dos canteiros. Até hoje uma de minhas melhores recordações é a do cheiro da terra fofa e preta do nosso quintal. Recordo também que ajudávamos (ou atrapalhávamos?) nossa mãe a fazer as velas necessárias ao consumo do ano.
O nosso terreno terminava na rua de trás, se não me engano chamada Vidal Ramos, cheia de pedreiras, para a qual se abria um pequeno estábulo, onde eram guardados os arreios, um carro de boi, lugar também onde era tirado o leite de três a quatro vacas, leite necessário ao consumo da família. Todas as tardes, dois ou três filhos, em geral “os meninos”, iam buscar os terneiros no potreiro da família, saindo pela “Rua Nova” (atual Rua Sebastião Furtado) e que ficava depois do morro que existe  no final dessa rua, no seu lado esquerdo, que, contornando o morro ali existente, vai dar no cemitério.
De manhã muito cedo, não sei quem ia buscar as vacas que, com suas crias, eram levadas de volta, depois da ordenha. Cedo, éramos acordados para tomar na cama o camargo. Antes de irmos para as aulas, na única escola existente na cidade, o Grupo Escolar Manuel Cruz, que ocupava toda a atual Praça Cesário Amarante, ainda tomávamos o “café com mistura” com bolinhos fritos na hora, mais as outras “misturas” normais.
Íamos para o “sítio” (a Fazenda “Bela Vista”), as crianças, em carro-de-boi, e o “Tio Nida” e a “Tia Lydia” a cavalo, cuidando da comitiva. Muitas vezes, corríamos ao lado do carro; a Iponá, que detestava a condução que os outros adorávamos, queria sempre “ir a pá”, de modo que acabava sendo levada na “garupa” do Pai...
Nossa vida social resumia-se às visitas que as irmãs Palma que moravam na cidade, faziam-se mutuamente, carregando junto todos os filhos, para “passar a tarde na casa desta ou daquela irmã”. Não sei como elas agüentavam, pois nos reuníamos a fazer folia sempre mais de doze primos, pois a maioria das famílias eram numerosas. Mas que eram tardes deliciosas, lá isso eram! Essas e outras práticas serviram para aprofundar e consolidar a amizade que, até hoje, une todos os primos Palmas.
Nos dias quentes de verão, transferíamos os banhos de sábado para o rio “São Mateus”, descendo a rua Thomás Costa, antes fazendo uma parada na casa de nossa querida “Tia Selvina”, cuja família sempre morou com a nossa, desde pelo menos 1851, quando a Fazenda “São João de Pelotas” passou para as mãos de nosso bisavô, João Ribeiro (o que deu nome à praça central da cidade). Tia Selvina foi quem cuidou de nosso pai, Enedino, em pequeno, e ele a amava muito, de modo que a considerávamos como nossa avó de verdade. Outras vezes, tomávamos o banho em um “poço” existente atrás do Hospital, que compartilhávamos com outras crianças e uma ninhada de cobras grandes e pretas que, de vez em quando, nadavam ao nosso lado. Não as temíamos, porque nosso pai a isso nos autorizara, afirmando que não eram venenosas. Passados tantos anos, é difícil de acreditar que o riacho caudaloso e límpido que era o São Mateus tenha se transformado no fio de água poluída e fétida de hoje em dia.
Intermináveis são as recordações do tempo bom de nossa meninice, da vilazinha isolada, jóia incrustada no meio de montanhas verdes, que era o nosso São Joaquim de antanho.
Saudades do nosso pai, que hoje, 14 de maio de 2012, estaria completando 113 anos. Ele nos proporcionou uma infância e juventude memoráveis e um sentimento de família que nos fortalece e nos dá o sentido da vida.

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