segunda-feira, 28 de outubro de 2019

A participação de Ernani Palma Ribeiro no Episódio do show dos Doces Bárbaros em Florianópolis (1976)


Ismênia Ribeiro Schneider
Cristiane Budde

            Dedicamos a matéria de hoje para relembrar um episódio ocorrido em 1976, em Florianópolis, mas que repercutiu em todo o Brasil e, inclusive, no exterior. O acontecimento envolveu a vinda do quarteto “Doces Bárbaros”, composto por Gilberto Gil, Caetano Veloso, Maria Bethânia e Gal Costa, para um show no Clube Doze de Agosto, além da participação significativa de um personagem conhecido da família Ribeiro, Ernani Palma Ribeiro, na época, juiz da 1ª Vara Criminal da Capital.
            No referido ano, o grupo de cantores fazia uma turnê pelo Brasil, tendo Florianópolis como uma das cidades destino. No entanto, antes mesmo de o show acontecer, Gilberto Gil acabou sendo preso num quarto de hotel da Avenida Hercílio Luz, por portar cigarro de maconha. O baterista Chiquinho também foi autuado e levado à cadeia pública. Graças à intervenção do juiz Ernani Palma Ribeiro, o caso teve um desfecho díspar, considerado por muitos como uma “saída honrosa” para a situação desencadeada pelo delegado Elói Gonçalves de Azevedo[i]. O juiz, ao receber o pedido de Habeas Corpus, permitiu, além da realização do espetáculo previsto, a substituição da pena de um ano de reclusão pela internação psiquiátrica para tratamento.  

O músico Gilberto Gil ouve sua sentença, em 15/7/1976. Acervo: Estadão. Disponível em: https://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,fotos-historicas-o-julgamento-de-gilberto-gil,11341,0.htm. De costas, à direita, vê-se o juiz Ernani Palma Ribeiro.


            Ernani Palma Ribeiro, portanto, “foi um dos primeiros juízes a diferenciar porte e tráfico, em plena Ditadura Militar”[ii]. Ele “determinou sua soltura e transferência para uma clínica no Rio de Janeiro justificando a sentença em forma de poesia: ‘O homem que faz uma música como Refazenda não pode ser tratado como criminoso’. O magistrado transcreveu a decisão usando a letra da música de Gilberto Gil, que começa assim: "Abacateiro, acataremos teu ato / Nós também somos do mato / Como o pato e o leão. /Aguardaremos / Brincaremos no regato /Até que nos tragam frutos/Teu amor, teu coração."[iii]




Notícia sobre sentença de Gilberto Gil, 1976. Fonte: Acervo O ESTADO DE S. PAULO: páginas da edição de 16 de julho de 1976, pag. 10. Ver página completa em: https://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19760716-31078-spo-0010-999-10-not/busca/ernani%20palma%20ribeiro.

            Segundo a esposa do Juiz, Maria Elena de Freitas Ribeiro, Ernani “‘sempre procurava julgar o que era certo e ele viu que o Gil era uma boa pessoa’. A ligação com a família de Gil durou alguns anos e Maria Elena conta que em datas festivas, como Natal, sempre trocava cartas com os pais do cantor. Em uma entrevista ao jornal Folha de São Paulo, em outubro de 2004, sobre o relançamento do documentário Doces Bárbaros, Gil relembrou de Ernani.
‘- Ele morreu há 15 dias, doutor Ernani de Palma Ribeiro. Na época, ficou amigo de meu pai e ficou meu amigo, trocávamos telefonemas frequentemente. Visitei-o há uns três meses, quando fui fazer um show em Florianópolis’ – afirmou o cantor.”[ii]

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Dados sobre Ernani Palma Ribeiro

Ernani Palma Ribeiro (04.04.1927 – 15.09.2004) era natural de São Joaquim, filho de Enedino Batista Ribeiro (14/05/1899 – 10/04/1989) e de Lydia Palma Ribeiro (01/06/1902 – 14/10/1980).


Ernani Palma Ribeiro. Fonte: TRE-SC.

Enedino e Lydia tiveram nove filhos[iv]. Com o intuito de lhes propiciar continuidade nos estudos, inclusive curso superior, mudaram-se para Florianópolis.

Nota: Mais informação sobre Enedino e seus filhos em:

Assim, aos 12 anos, Ernani foi estudar no Colégio Catarinense, em Florianópolis. Mais tarde, graduou-se em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Era juiz e desembargador. Foi o 28º Presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina (TRE-SC), no período de 12/03/1992 a 02/04/1993[v].


            Ernani casou-se, em 01/09/1954 (Florianópolis), com MARIA ELENA DE FREITAS RIBEIRO (nasc. 1933).

Filhos de Ernani e Maria Elena:
N 1.1 – ERNANI PALMA RIBEIRO FILHO (nasc. 19-05-1955);
N 1.2 – ROSANA RIBEIRO LIMA (nasc. 29-06-1956);
N 1.3 – ELIANA DE FREITAS RIBEIRO (nasc. 05-07-1959);
N 1.4 – SILVANA DE FREITAS RIBEIRO (nasc. 27-05-1961);
N 1.5 – SUZANA DE FREITAS RIBEIRO (nasc. 21-07-1966);
N 1.6 – FÁBIO DE FREITAS RIBEIRO (nasc. 13-10-1968);
N 1.7 – LUCIANA DE FREITAS RIBEIRO (nasc. 03-01-1971).

Maria Elena e Ernani Palma Ribeiro.
  
Filhos de Ernani Palma Ribeiro e de Maria Elena de Freitas Ribeiro. Da esquerda para a direita: Ernani Filho, Rosana, Eliana, Silvana, Suzana e Fábio.

Da esquerda para a direita: Luciana, Suzana, Silvana, Eliana, Rosana e Ernani Palma Ribeiro.


Ernani Palma Ribeiro faleceu em Florianópolis, na UTI do Hospital Caridade, às 9 horas do dia 15.09.2004, devido a uma parada cardíaca, aneurisma rompido.


Referências


[i] Damião, Carlos. A prisão de Gilberto Gil em Florianópolis (1976). Caros ouvintes: Instituto de Estudo de Mídia. Publicado em: 29/06/2015. Disponível em: http://www2.carosouvintes.org.br/a-prisao-de-gilberto-gil-em-florianopolis-1976/. Acesso em: 28/10/2019.

[ii] Viana, Natália. Voto no mensalão relembra desembargador joaquinense. Texto publicado em 24 de outubro de 2012.

[iii] Página de Gilberto Gil. Poesia para libertar Gil. Publicado em 04/08/2011, pg. 139. Disponível em: http://www.gilbertogil.com.br/sec_texto.php?noticia&id=1133&page=139.

[iv] Além dos nove filhos que se mudaram com o casal para Florianópolis, tiveram mais uma filha, falecida com menos de um no de idade, Elba Palma Ribeiro (13-08-1933 – 25-06-1934).

[v] TRE-SC, Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina. Galeria de Presidentes. Disponível em: http://apps.tre-sc.jus.br/site/institucional/centro-de-memoria/galeria-de-presidentes/index.html. Acesso em: 28/10/2019.

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