quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

RUA LINO ALVES DE SOUZA – II parte

 Matéria elaborada por Carlos Solera

e

Eleni Cássia Vieira

 


 

URUPEMA TEMPO E MEMÓRIA

 

Projeto cultural idealizado e desenvolvido, voluntariamente, por Eleni Cássia Vieira e Carlos Solera. Conta com parceria técnica do Blog Genealogia Serrana de Santa Catarina, com as renomadas pesquisadoras, escritoras, professoras Ismênia Ribeiro Schneider, Cristiane Budde, Daniela Ribeiro Schneider e a importantíssima colaboração da comunidade de Urupema. 

Visa resgatar a história de vida de pessoas que nomeiam as ruas de Urupema, e, de alguma forma, contribuíram para o enriquecimento da cultura local.

 A primeira matéria publicada sobre a vida de Lino Alves de Souza, personagem que nomeia uma das ruas de Urupema, foi muito bem aceita e lida pela comunidade. E motivou novas contribuições por muitos de seus descendentes familiares, para prosseguimento de nossas pesquisas.

Para ver a primeira parte, clique no link: http://genealogiaserranasc.blogspot.com/2021/12/rua-lino-alves-de-souza.html

 

Nesta segunda matéria, mostraremos outros aspectos históricos de sua vida, retratando ainda alguns pontos da vida familiar do casal Lino e Petronilha e um pouco das atividades profissionais, sociais e comunitárias, desenvolvidas por ele. Para isso, contamos também com inúmeros documentos que compõem o acervo histórico da Casa da Cultura Ana Paula da Silva Souza, de Urupema, deixados por Dimas Pinto de Arruda, o guardião da memória local.   

  

Atividades familiares   

 Citado na matéria anterior e já em outras mais por nós elaboradas, o início de desenvolvimento comunitário e social da então pequena vila de Sant’Anna (Santana) no início dos anos 1900, se deu por entrelaçamentos familiares, com casamentos e compadrios entre famílias aqui estabelecidas.

 Daí um dito bastante popular e ainda em voga, na atual Urupema: “quem não é parente, é amigo”. E, certamente, compadre e comadre. Era comum a “entrega” de um filho ou filha para o compadre e comadre criarem e darem à criança uma boa educação e alimentação. Ou mesmo, os filhos faziam isso com seus pais, entregando o neto ou neta para os avós criarem.

 Com Lino e Petronilha não foi diferente. Conversamos com dois netos que foram criados por eles dessa forma, como se filhos fossem. Ambos aproveitaram os ensinamentos recebidos deles, e se fizeram vencedores na vida.

 O neto Antônio Edson, filho de Erotides e Wilma, viveu com os avós dos 02 aos 14 anos. Foi sempre estimulado por eles a estudar, segundo nos relatou. Fez colégio industrial, escola técnica agrícola e acabou se casando, constituindo família e se radicando, mais tarde, no município de Campo do Tenente/PR, onde foi vice-prefeito e hoje, é radialista. 

 Outro neto criado por eles, Wilmar de Souza, nasceu em Urupema em 06 de novembro de 1948, filho de Maria do Carmo e Manoel Inácio Borges de Souza. Foi morar com os avós antes de fazer o primeiro ano e viveu com eles até o falecimento de ambos. Wilmar trabalhou 10 anos como Exator Municipal quando o distrito de Urupema ainda pertencia a São Joaquim. Depois, trabalhou por 23 anos na Cooperserra, empresa do setor macieiro, onde se aposentou.  

  

Atividades profissionais, sociais e comunitárias de

Lino Alves de Souza

 

Em 04 de janeiro de 1930, encontramos Lino Alves de Souza no cargo de Juiz Districtal do 4º Districto de Santa Anna, então pertencente a São Joaquim da Costa da Serra, como mostra este comunicado da Intendência Districtal de Santa Anna. 

 

Acervo Casa da Cultura de Urupema

 

Outra lida que Lino gostava muito era a de abertura de estradas. Segundo informações de familiares, foi ele quem iniciou a abertura da estrada de Sant’Ana para Rio Rufino, por volta de 1933/34, utilizando pequenas carroças puxadas por muares, pá, picareta e dinamite. Depois, repassou este serviço para Artur Pagani, que a terminou e ali fez grande trabalho.

 Muitos documentos do acervo da Casa da Cultura de Urupema mostram a atuação de Lino como Sub-Delegado da Vila de Sant’Ana, principalmente, entre os anos 1935 e 1936, que, à época, era o 4º distrito do município de São Joaquim da Costa da Serra.

 Em São Joaquim da Costa da Serra funcionava a sede da Delegacia Especial de Polícia de São Joaquim da Costa da Serra, onde se designavam os Sub-Delegados para seus distritos.

 Entendendo melhor. No ano de 1933, a divisão administrativa do município de São Joaquim da Costa da Serra apresentava 04 (quatro) distritos: São Joaquim da Costa da Serra (atual São Joaquim), Nossa Senhora do Socorro (atual Bom Jardim da Serra), Urubici e Santana do Cedro (também nominada como Nossa Senhora de Santana ou Santana, e atualmente, Urupema).

A nomenclatura local apresentava grafias diferentes, sendo o distrito mencionado ora como Santa Anna ou Santa Ana, ainda, Sant’Ana ou Sant’Anna, e mesmo, Santana.

A responsabilidade assumida para exercício do cargo de Sub-Delegado era grande, desgastante e até mesmo, bastante perigosa. Atuava garantindo a segurança local e em vários outros extratos da comunidade, como veremos a seguir.

Apesar de termos encontrado documentos de sua nomeação, especialmente para os anos 1935 e 1936, acreditamos Lino Alves já exercia a atividade antes desse período, quando a Vila de Sant’Ana não tinha vinte anos de existência oficial, como distrito. 

 

19/06/1935 - Nomeação de Lino Alves de Souza ao cargo de Sub-delegado de Polícia do distrito Santa Ana, município de São Joaquim da Costa da Serra.                                               

                                                    Acervo Casa da Cultura de Urupema



19/06/1935 - Ofício comunicando a nomeação de Lino Alves de Souza ao cargo de Sub-delegado de Polícia do Distrito de Santa Ana.  

                                                     Acervo Casa da Cultura de Urupema



 

 20/06/1935 – Registro na Chefatura de Polícia de São Joaquim da Costa da Serra da nomeação de Lino Alves de Souza ao cargo de Sub-delegado de Polícia do Distrito de Santa Ana.

                                                     Acervo Casa da Cultura de Urupema


 

25/06/1935 – Comunicado de ações e despesas realizadas para diplomação de Lino Alves de Souza e Antônio Rodrigues de Lisboa (Sub-delegado e 1º Suplente) para o distrito de Santana, pelo amigo Waldomiro P. da Cruz.                                         

                                                    Acervo Casa da Cultura de Urupema


  25/06/1935 – Comunicado de assinatura do termo de compromisso do cargo de Sub-delegado de Polícia do Districto de Sant’Anna, pelo Director da Fazenda Municipal de São Joaquim da Costa da Serra.

                                                      Acervo Casa da Cultura de Urupema


30 de junho de 1935 – Comunicado da Delegacia de Polícia da Comarca de São Joaquim da Costa da Serra sobre compromisso já prestado por Lino Alves de Souza para o cargo de Sub-delegado e Antônio Rodrigues de Lisboa, como suplente, para a Sub-Delegacia de Polícia de Sant’ Ana.   

                                                     Acervo Casa da Cultura de Urupema  



 

15/10/1935- Ofício da Delegacia Especial de Polícia de São Joaquim da Costa da Serra ao Sub-Delegado de Polícia de Santana, quanto a editais de “prohibição” do uso de armas e envio das armas apreendidas.           

                                                      Acervo Casa da Cultura de Urupema

 

 

27/11/1935- Ofício da Delegacia Especial de Polícia de São Joaquim da Costa da Serra ao Sub-Delegado de Polícia de Sant’Ana, quanto a compromissos com os Inspectores de Quarteirão do distrito de Sant’Ana.                      

                                                     Acervo Casa da Cultura de Urupema 

                                                    

Os Inspectores de Quarteirão eram pessoas indicadas às Delegacias e Sub-delegacias, para auxiliarem na manutenção da ordem local. E tinham atribuições de ações estabelecidas, conforme o Capitulo VII do documento abaixo.

 

Comunicado da Delegacia Especial de Polícia de São Joaquim da Costa da Serra ao Sub-Delegado de Polícia do Distrito de Sant’Ana, sobre instruções e atribuições dos Inspectores de Quarteirão.   

                                                    Acervo Casa da Cultura de Urupema

 

18/12/1935 – portaria Nº 240 da Chefatura de Polícia do Estado proibindo a venda de armas e munições em Santa Catarina e exigindo apresentação de relatório das casas comerciais do ramo, quanto a estoque disponível.                                       

                                                      Acervo Casa da Cultura de Urupema 




08/01/1936 - Circular da Delegacia Especial de São Joaquim ao Sub-Delegado de Polícia de Sant’Ana, obrigando os donos de hotéis a terem no estabelecimento um livro de registro de entrada e saída de hóspedes, com nomes, nacionalidade, procedência e destino dos mesmos.  Ainda a obrigação de se vistar o livro e aplicação de multa aos proprietários, caso haja alguma infração.                 

                                                      Acervo Casa da Cultura de Urupema 

 

08/01/1936 – Circular nº I da Inspectoria de Vehiculos de São Joaquim da Costa da Serra ao Sub-Delegado de Polícia do distrito de Sant’Ana, Lino Alves de Souza.       

                                                      Acervo Casa da Cultura de Urupema

 

Observar que além de veículos motores, mesmo para as “aranhas” (um tipo de charrete com tração animal), era exigido registro e caderneta de habilitação do condutor.

  

18/01/1936 – Comunicado da Delegacia Especial de São Joaquim da Costa da Serra ao Sub-Delegado do distrito de Sant’Ana quanto a remessa de 6 regulamentos sobre atribuições dos Inspectores de Quarteirão.  

                                                Acervo da Casa da Cultura de Urupema


Fevereiro de 1936 – intimação do Sub-Delegado de Polícia de San’Ana, Lino Alves de Souza, ao senhor Antônio Alves do Prado, para que indique as pessoas envolvidas em uma briga em sua casa e convoque testemunhas deste “facto criminoso”, para comparecerem a Sub-delegacia de Polícia do 4º distrito de Sant’Ana no dia 17 de fevereiro, do ano corrente, sob pena de desobediência, em caso de não irem.

                                                     Acervo Casa da Cultura de Urupema


21/07/1936 – Circular nº 10 da Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública encaminhada ao Sub-Delegado de Polícia de Santana solicitando o envio das armas apreendidas no distrito de Santana, como pistolas, revólveres, facas, etc, conforme Lei e Instruções baixadas para o Serviço de Armas e Munições.

                                                      Acervo Casa da Cultura de Urupema


25/07/1936 – Circular nº 11 da Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública ao Sub-Delegado de Polícia de Santana referente a registro de armas e munições dos Vigias e Corpos de Vigias das propriedades industriais, agrícolas e pecuárias.

                                                    Acervo Casa da Cultura de Urupema

 

Observam-se as muitas exigências feitas ao Sub-delegado do distrito, para o exercício de sua função, conforme comentamos. 

Ao final de agosto de 1936, Lino Alves de Souza solicitou a sua exoneração do cargo de Sub-Delegado do distrito de “Santana do Cedro” (denominação usada também para a vila de Santana). 

Possivelmente, tenha indicado para seu lugar o cunhado José Canuto Pereira, filho de Elesbão Pereira de Medeiros, pai de Petronilha. 

 

28/08/1936 – Nomeação de José Canuto Pereira para o cargo de Sub-Delegado de Polícia do distrito “Santana do Cedro”, município de São Joaquim, pelo Doutor Nereu Ramos, Governador do Estado de Santa Catarina.

                                                     Acervo Casa da Cultura de Urupema

 

28/08/1936 – Registro da nomeação de José Canuto Pereira ao cargo de Sub-Delegado de Polícia do Distrito de Santa Ana (Santa Ana) na Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina.

                                                     Acervo Casa da Cultura de Urupema

 

09/09/1936 – Comunicado de nomeação de José Canuto Pereira ao cargo de Sub-Delegado do distrito de Santana do Cedro, pela Delegacia Especial de Polícia de São Joaquim.

                                                     Acervo Casa da Cultura de Urupema

                                                     

09/09/1936 – Comunicação de exoneração, a pedido de Lino Alves de Souza, do cargo de Sub-Delegado do distrito de Santana do Cedro, pela Delegacia Especial de Polícia de São Joaquim.

                                                      Acervo Casa da Cultura de Urupema

                                                                                                                  

Após deixar o cargo de Sub-Delegado do Distrito de Sant’Ana, Lino Alves de Souza implantou por volta de 1941 uma serraria na região da igreja da Consolação, no vale do rio Gargantilha, próxima ao rio Urubici, junto a atual rodovia que liga os municípios de Rio Rufino a Urubici.

Em visita à Casa da Cultura de Urupema, em setembro de 2021, a tia Joce, única dos filhos do casal Lino e Petronilha ainda viva, contou-nos detalhes da mudança (temporária) deles do distrito de Sant’Ana para o terreno da serraria.

Lembrou que Lino, Petroniilha e mais alguns empregados foram para o local da serraria, montados numa tropa de muares e eqüinos. Ela, com 04 anos e Doilio, seu irmão mais novo, com cerca de apenas 02 anos, foram levados, ora no colo da mãe, ora em dois cestos revestidos de couro, tipo bruacas, colocadas no lombo de uma mula. Foi um relato emocionante, tanto de parte dela quanto nosso, estudiosos que somos das atividades tropeiras.    

Na serraria, ainda existente e empresa privada de outra família, há ruínas da caldeira feita à época, quando ali chegaram a produzir papel, que pendurados em cercas, eram “secados ao sol”. E também, diversos tipos de artefatos de madeira eram feitos ali, como tábuas, forrinhos, postes de cerca, etc. 

Sobre a serraria, contribuiu também o amigo Paulo Nunes, empresário que atua no segmento de Turismo Rural de Rio Rufino, que fortaleceu o relato da tia Joce.  

Lino foi também madeireiro de grande porte, à época da extração das matas de araucárias. Para isso, abria picadas e estradas para transporte das madeiras extraídas, conforme podemos ver no documento abaixo.

 

 

23/01/1946 – Carta do amigo e parceiro comercial Alfredo Martins de Morais para Lino Alves de Souza, sobre serviço realizado e a realizar por ele, em abertura de estrada rural para retirada de madeira cortada nas matas do distrito de Santa Ana (que desde janeiro de 1944 já era denominado distrito de Urupema). 

                                                     Acervo Casa da Cultura de Urupema


 Lino também era requerido para prestação de serviços comunitários, como vemos nesta portaria da Justiça Eleitoral no ano de 1950. 

  

Acervo Casa da Cultura de Urupema

 

Chegamos ao final do ano de 2021. Nossas pesquisas e contribuições de diversos segmentos da comunidade de Urupema e região, a   especial parceria com o blog Genealogia Serrana de Santa Catarina, nos permitem fazer um balanço positivo e dizermos que valeu a pena partilhar a estrada dos valores da cultura local. 

O projeto Urupema Tempo e Memória, em atividade desde março de 2020, completa 19 matérias elaboradas, retratando 10 ruas de Urupema, a garantirem o histórico dos homenageados, abrindo o campo ao conhecimento.

 Agradecemos aos leitores que nos acompanharam durante todo este tempo, nessa “caminhada cultural”. Voltaremos em 2022 e desejamos a todos, paz, saúde e harmonia.

 Urupema aguarda a visita de todos que desejarem conhecer um local onde resplandece o “calor humano e sincera acolhida”. Onde o “sentido de família” faz parte do cotidiano.

 A todos um até breve!

E como curiosidade, postamos aqui um documento de 1956, de autoria do senhor Moysés Ramos de Oliveira, então Sub-Delegado do distrito de Urupema - “Licença para realização de um Baile Público” na residência de um morador local, da noite do dia 22 de dezembro ao amanhecer do dia 23 de dezembro daquele ano, onde a premissa principal, já era, a tranqüilidade de todos.

 

 

Dezembro de 1956 – Licença de ordem do Sub-Delegado de Polícia do Distrito de Urupema, para um morador realizar um baile público, da noite de “22 de dezembro ao manhecer dia 23 de dezembro de 1956. Diversão com “chorascada e Botequim”, sendo expressamente proibido pessoas assistir a mesma sociedade, armados. 

                                                      Acervo Casa da Cultura de Urupema


 

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