quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Chico Palma (Francisco Palma)

Texto de Dante Martorano, A verdade, n. 13 – julho/agosto de 1979.

 
     Ainda que um dos condestáveis da Revolução de 1930, o General Flores da Cunha, em 1936, contra Getúlio Vargas pretendia lançar sua revolta e a do Estado que governava. Contava unificar a ação de muitos que conspiravam, por quase todo o País.
      Num dos seus romanescos gestos e emocionadas atitudes, naquele mesmo ano, entretanto, renunciando ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul dispersou seus comandantes e liberou os compromissos de todos aqueles que aliciara à luta armada.
     A revolução que se pretendia defalgar por poderosas forças, aptas à derrocada do Governo Federal, gorou por inteiro.
     Aqui em Santa Catarina, entretanto, o recuo não abrangia os irmãos Palma, liderados pelo primogênito Antônio, de há muito engajados na pregação revolucionária juntamente com Garibaldino Velho.
     Um dos Palma, em 1930, já empunhara armas. À frente de alguns cavaleiros se dirigira a Bom Retiro e de lá somente retornara quando necessário á guarnição de São Joaquim. Incomparável cavaleiro, exímio mestre no uso das armas de fogo, inabalavelmente solidário a seus amigos, a fama de homem valente devia Francisco à sua personalidade. Não chegando até eles as contra-ordens de Porto Alegre, ousadamente invade São Joaquim. Como operação militar, cumprido foi à risca o ritual de ocupação da Prefeitura Municipal, Correios e Telégrafos, da Cadeia Pública e de tudo que simbolizasse o Governo Federal.
     Até as armas do destacamento local da Polícia Militar caíram em seu poder, com isto aumentando a sofreguidão, por combates verdadeiros, dos bravos que aglutinara num improvisado contingente.
     Entrementes, exilado no Uruguai, Flores siquer imaginava parte do território brasileiro desvencilhado de Vargas e à espera das ordens do inspirador do movimento. Realmente nos 2.000 km2 de superfície do Município de São Joaquim, em todos os altiplanos e canhadas, a revolução vencera. De lá partiriam outros e mais poderosos atos de hostilidade ao Governo sediado no Rio de Janeiro, a serem desfechados em todo o Brasil. Assim prenunciava o turbulento tropel das cavalgadas pelas ruas da bucólica cidade, no festivo tiroteio da vitória.
     Desta vez Santa Catarina deixava de ser mera espectadora dos “bochinchos” gaúchos a cruzarem nossos caminhos. Éramos nós mesmos a Revolução que enfrentava Getúlio. Contra o esmagador poderio da União.
“Chico Palma” se viu sozinho, e nãoaceitou sucumbirem suas poucas armas ao confronto militar. Mesmo porque não foi necessária a marcha contra as forças legalistas, eis que uma Companhia do Exército Nacional se deslocou para São Joaquim, seguida de forças da Polícia Militar de Santa Catarina. Foi o fim. Extinguira-se sem sangue o movimento contra Vargas.
     Mas, por muitos meses, o Exército Nacional e a Polícia Militar mantiveram pelotões acantonados na cidade recém-reconquistada, com a determinação de ser preso o autor dos atos de força. Patrulhas armadas vasculhavam continuamente os campos próximos. Boatos se chocavam. Atônito, o povo presenciava a requisição de seus cavalos pelas forças militares. Nos passos do Rio Pelotas, na fronteira com o Rio Grande do Sul, espreitavam dia e noite os sentinelas. Tudo em vão. Abrigado pelos homens do campo, cavalgando rápido pelos caminhos e pelos pousos – permanecia ele sempre livre.
     Notórios alguns incidentes ainda hoje repetidos pela gente da serra, neles sempre evidente o sangue frio de Francisco Palma. O mais propalado é o do encontro numa “venda” de beira de estrada. Lá, uma patrulha inteira atônita deixava se desarmar por ele. E tudo à frente do aterrorizado bodogueiro, incapaz de apontar para seu procurado freguês pachorramente encostado no balcão.
     Assim quanto mais tempo escorria, mais se disseminava a fama de quem, em sua perseguição, mobilizara centenas de soldados.
     Um dia, entretanto, as forças militares voltaram a seus quartéis e, anistiado, Francisco Palma nunca chegou a ser preso e mesmo com a posterior sentença condenatória da Justiça Militar, jamais chegou ao grande público brasileiro o conhecimento desta rebelião.
    Perder-se-ia sua menção na história, não fora a bravura de Francisco Palma, demonstrando inequivocamente o destemor da gente catarinense.

 
Chico Palma

*Obs.: Na próxima postagem, colocaremos informações genealógicas de Chico Palma.





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