Texto de Dante Martorano, A
verdade, n. 13 – julho/agosto de 1979.
Ainda que um dos condestáveis da Revolução de 1930, o
General Flores da Cunha, em 1936, contra Getúlio Vargas pretendia lançar sua
revolta e a do Estado que governava. Contava unificar a ação de muitos que
conspiravam, por quase todo o País.
Num dos seus romanescos gestos e emocionadas atitudes,
naquele mesmo ano, entretanto, renunciando ao Governo do Estado do Rio Grande
do Sul dispersou seus comandantes e liberou os compromissos de todos aqueles
que aliciara à luta armada.
A revolução que se pretendia defalgar por poderosas forças,
aptas à derrocada do Governo Federal, gorou por inteiro.
Aqui em Santa Catarina, entretanto, o recuo não abrangia os
irmãos Palma, liderados pelo primogênito Antônio, de há muito engajados na
pregação revolucionária juntamente com Garibaldino Velho.
Um dos Palma, em 1930, já empunhara armas. À frente de
alguns cavaleiros se dirigira a Bom Retiro e de lá somente retornara quando
necessário á guarnição de São Joaquim. Incomparável cavaleiro, exímio mestre no
uso das armas de fogo, inabalavelmente solidário a seus amigos, a fama de homem
valente devia Francisco à sua personalidade. Não chegando até eles as
contra-ordens de Porto Alegre, ousadamente invade São Joaquim. Como operação
militar, cumprido foi à risca o ritual de ocupação da Prefeitura Municipal,
Correios e Telégrafos, da Cadeia Pública e de tudo que simbolizasse o Governo
Federal.
Até as armas do destacamento local da Polícia Militar caíram
em seu poder, com isto aumentando a sofreguidão, por combates verdadeiros, dos
bravos que aglutinara num improvisado contingente.
Entrementes, exilado no Uruguai, Flores siquer imaginava
parte do território brasileiro desvencilhado de Vargas e à espera das ordens do
inspirador do movimento. Realmente nos 2.000 km2 de superfície do Município de
São Joaquim, em todos os altiplanos e canhadas, a revolução vencera. De lá
partiriam outros e mais poderosos atos de hostilidade ao Governo sediado no Rio
de Janeiro, a serem desfechados em todo o Brasil. Assim prenunciava o
turbulento tropel das cavalgadas pelas ruas da bucólica cidade, no festivo
tiroteio da vitória.
Desta vez Santa Catarina deixava de ser mera espectadora dos
“bochinchos” gaúchos a cruzarem nossos caminhos. Éramos nós mesmos a Revolução
que enfrentava Getúlio. Contra o esmagador poderio da União.
“Chico Palma” se viu sozinho, e nãoaceitou sucumbirem suas
poucas armas ao confronto militar. Mesmo porque não foi necessária a marcha
contra as forças legalistas, eis que uma Companhia do Exército Nacional se
deslocou para São Joaquim, seguida de forças da Polícia Militar de Santa
Catarina. Foi o fim. Extinguira-se sem sangue o movimento contra Vargas.
Mas, por muitos meses, o Exército Nacional e a Polícia
Militar mantiveram pelotões acantonados na cidade recém-reconquistada, com a
determinação de ser preso o autor dos atos de força. Patrulhas armadas
vasculhavam continuamente os campos próximos. Boatos se chocavam. Atônito, o
povo presenciava a requisição de seus cavalos pelas forças militares. Nos passos
do Rio Pelotas, na fronteira com o Rio Grande do Sul, espreitavam dia e noite
os sentinelas. Tudo em vão. Abrigado pelos homens do campo, cavalgando rápido
pelos caminhos e pelos pousos – permanecia ele sempre livre.
Notórios alguns incidentes ainda hoje repetidos pela gente
da serra, neles sempre evidente o sangue frio de Francisco Palma. O mais
propalado é o do encontro numa “venda” de beira de estrada. Lá, uma patrulha
inteira atônita deixava se desarmar por ele. E tudo à frente do aterrorizado
bodogueiro, incapaz de apontar para seu procurado freguês pachorramente encostado
no balcão.
Assim quanto mais tempo escorria, mais se disseminava a fama
de quem, em sua perseguição, mobilizara centenas de soldados.
Um dia, entretanto, as forças militares voltaram a seus
quartéis e, anistiado, Francisco Palma nunca chegou a ser preso e mesmo com a
posterior sentença condenatória da Justiça Militar, jamais chegou ao grande
público brasileiro o conhecimento desta rebelião.
Perder-se-ia sua menção na história, não fora a bravura de
Francisco Palma, demonstrando inequivocamente o destemor da gente catarinense.
Chico Palma |
*Obs.: Na próxima postagem, colocaremos informações genealógicas de Chico Palma.
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