segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Frei Rogério: O Apóstolo do Planalto



            Na matéria de hoje apresentamos mais informações sobre Frei Rogério, frade missionário que ficou conhecido na Serra Catarinense como o “Apóstolo do Planalto”, onde permaneceu por quase três décadas atuando como sacerdote e cuidando de enfermos.
            Como mencionamos na postagem anterior, Frei Rogério nasceu na Alemanha, em Borken, em 29 de novembro de 1863. Seu nome de batismo era Henrique Neuhaus, terceiro filho do casal João Geraldo Neuhaus e Cristina Haddick[i]. Vindo de um ambiente familiar religioso, aos 17 anos demonstrou sua vontade em se tornar religioso, apresentando-se no Convento de Harreveld, Holanda, onde foi aceitoi


Frei Rogério Neuhaus, OFM: grande missionário do Planalto Catarinense. Pintura de Frei Rogério, sem identificação de autoria, exposta no Convento Franciscano, OFM, em Lages-SC. Captura da imagem: julho de 2019, por Toni Jochem, a quem agradecemos.

Detalhe do quadro anterior. Captura da imagem: julho de 2019, por Toni Jochem.


            Destacamos aqui um trecho da biografia de Frei Rogério, disponibilizada no site da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil (OFM)[ii]:

No dia 03 de maio de 1881 recebeu o burel[iii] e o nome de Frei Rogério, iniciando com fervor a escalada para a santidade.
Na catedral de Pederborn, Alemanha, foi ordenado sacerdote, aos 17 de agosto de 1890, pelo bispo Dom Agostinho Gockel.
Levado pelo ideal missionário, associou-se à segunda leva de restauradores da Província da Imaculada Conceição do Brasil: 4 sacerdotes e 4 irmãos religiosos leigos.
Aportaram a 02 de dezembro de 1891 em Salvador, BA, mas já no dia seguinte prosseguiram viagem para o sul, desembarcando no Desterro (antigo nome da capital do Estado de Santa Catarina: Florianópolis) e chegando dia 12 de dezembro de 1891 em Teresópolis (agora: Vila Teresópolis, SC), a primeira residência dos frades restauradores no sul do Brasil.
Em 13 de fevereiro de 1892, foi enviado a Lages, SC, seguindo com tropeiros para o novo destino, que seria por longos anos seu campo de ação e de santificação, tornando-se verdadeiramente o “Apóstolo do planalto catarinense."

            Antes de vir ao Brasil, Frei Rogério já se mostrava atencioso para com os enfermos, conforme aponta Juliano Florczak Almeida (2019), em tese de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFRGS:

 Quando estudava na Europa, cuidou dos colegas acometidos pelas epidemias de gripe. [...] Essa mesma atenção atravessou o oceano. E quando houve surto de gripe espanhola em Porto União e União da Vitória, cidades da fronteira entre Santa Catarina e Paraná onde frei Rogério atuou como vigário, novamente, o frade auxiliou os doentes. Era 1918 e, conforme escreveu um confrade de Rogério que também atuava na região à época, o número de gripados fora grande: A cidade toda parecia transformada num grande hospital”. De acordo com o mesmo franciscano, frei Rogério visitava todas as casas e tratava do corpo e da alma: “E frei Rogério, o anjo da caridade, ia de casa em casa, quase sem parar nem descansar, levando remédios para corpo e alma, [...] e tudo isso, quando ele mesmo se sentia fraco e meio gripado[iv].


Recortamos também desta tese (ALMEIDA, 2019), alguns trechos interessantes, que contam um pouco da trajetória do Frei no Planalto Serrano:

Não apenas em circunstâncias epidêmicas ou de guerra que se ocupava com os enfermos. O cuidado aos doentes fazia parte das tarefas diárias do período em que atuava no planalto catarinense: “Almoçava em seguida, esquecendo-se sempre a si mesmo, e contentando-se com o que lhe ofereciam, fosse o que fosse. Se já não o fizera de manhã, depois do almoço ia à procura de doentes, tendo que montar a cavalo e andar, às vezes, horas inteiras, fosse qual fosse o tempo” (SINZIG, 1939, p. 100 - grifos meus).
O frade saia à procura dos doentes assim como eles vinham em busca do auxílio do franciscano. [...].
[...] em Lages faltava o tempo, pois eram-lhe reclamados os serviços de sacerdote e de samaritano a cada hora. [...] Semanas depois [de peregrinar pela paróquia], regressava para Lages, onde, Deus sabe como, a notícia da sua volta, num instante, chegava a todos os recantos, fazendo muitas e muitas pessoas seguirem ao convento, para pedir algum remédio, ou procurando-o para visitar este ou aquele enfermo [...] (SINZIG, 1939, p. 97–100).
Não por acaso, frei Rogério também era acudido quando em enfermidade. Dia 23 de janeiro de 1912, ele ficou doente no município de Curitibanos. O médico que lhe atendeu ordenou que o levassem, às pressas, para Lages. Em pouco tempo, um confrade de frei Rogério juntou cerca de 30 homens para carregá-lo a um lugar com mais recursos. Quanto mais nos aproximamos da cidade de Lages, mais crescia a procissão, contou o confrade (SINZIG, 1939, p. 243-245).

[...] logo que chegou ao planalto catarinense, frei Rogério percebeu na população da região certa carência de assistência à saúde. Essa necessidade se ratifica pelo fato de que também os monges João Maria e José Maria distribuíam medicamentos. Diante dessa precisão, recorreu à medicina homeopática, que surgira na sua Alemanha natal no século anterior: “Mandou vir, então, uma farmaciazinha portátil, de homeopatia, começando a dar remédios a quem lhos pedia e a oferecê-los, ao encontrar algum doente” (Idem.). Não abandonou a atividade sequer quando a região já contava com médicos: “Mesmo quando, mais tarde, Lages já tinha um e mais médicos, à portaria do modesto conventozinho franciscano e viam constantemente pessoas da cidade e caboclos vindos de fora, com uma garrafa à mão, à espera de Frei Rogério e de seus remédios” (Idem).”
Na época em que frei Rogério chegou à região de Lages (final do século XIX), os matos nativos predominavam no planalto catarinense e as estradas eram inexistentes e os meios de transporte, precários (SINZIG, 1939, p. 92). Ainda assim, frei Rogério atuava em uma extensa área: Era maior do que muitos bispados, a imensa paróquia, que frei Rogério percorria, ora como coadjutor, ora como vigário [...]. Abrangia não só o extenso município de Lages, mas ainda os de São Joaquim, de Curitibanos e de Campos Novos, isto é, até às fronteiras, ao norte, do Paraná e, no sul, do Rio Grande. (Ibid., p. 92)”.


Em 1922, quando estava em Palmas (PR), Frei Rogério percebeu que estava perdendo a visão. Ao consultar um médico e verificar a gravidade da situação, foi aconselhado a procurar um centro mais equipado. Assim, transferiu-se para São Paulo e, depois, para o Rio de Janeiroi. Foi internado na Casa de Saúde São José, com câncer generalizado nos intestinos, em 01 de março de 1934. Faleceu alguns dias após, em 23 de março de 1934i, com fama de santidadeiv.


Frei Rogério. Fonte: Folha D'Ouro Verde: Informação ao alcance de todos![v]. 



Referências e notas


[i] FRANCISCANOS, Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. Frei Rogério Neuhaus. Disponível em: https://franciscanos.org.br/quemsomos/personagens/frei-rogerio-neuhaus/. Acesso em 09 set. 2019.

[ii] FRANCISCANOS, Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. Frei Rogério Neuhaus. Disponível em: https://franciscanos.org.br/quemsomos/personagens/frei-rogerio-neuhaus/. Acesso em 09 set. 2019.

[iii] Burel: Tecido grosseiro de lã, mais comumente de cor parda, castanha ou preta, para a confecção de vestes de religiosos (Dicionário Michaelis Online, http://michaelis.uol.com.br/).

[iv] ALMEIDA, J. F. Atos dos Bons Samaritanos – Romanização e Medicalização na Vida de Religiosos Católicos. Tese de doutorado, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2019. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/194453/001093312.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 09 de setembro de 2019.

[v] FOLHA D'Ouro Verde: Informação ao alcance de todos! Frei Rogério Neuhaus: O Apóstolo do Planalto.


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