quinta-feira, 30 de março de 2017

Casa de Pedra – 150 anos



        Neste momento, interrompemos a sequência de matérias sobre os nomes de praças e ruas de São Joaquim (SC) para publicar um estudo muito importante para a história serrana, escrito por Manoel Cecílio Ribeiro Martins. Ele descreve os 150 anos da chamada “Casa de Pedra”, construída na Fazenda do Socorro. A Fazenda situa-se, atualmente, no município de Bom Jardim da Serra (SC), mas, antigamente, pertencente ao município de São Joaquim-SC.


Mapa da Fazenda do Socorro, 10/05/1919, Eng. Emilio Gallois.


            Manoel Cecílio Ribeiro Martins (nasc. 08/08/1922), c.c. Maria do Carmo Brognoli (nasc. 18/11/1932), é:
- filho de Dolores de Souza Ribeiro (19/09/1891 – 25/06/1928) e Adolfo José Martins (15/03/1884 - 23/10/1968);
- neto materno de Manoel Cecílio Ribeiro (15/01/1856 – 02/04/1917) e de Rozalina de Souza e Oliveira (23/01/1871 - 05/03/1932);
- bisneto de Matheus Ribeiro de Souza (1829 – 18/11/1900) e de Maria Magdalena Batista de Souza (1833 - 21/11/1867) (filha de João Batista de Souza – “Inholo” [nasc. 1800 – falec. 1850]).
- trineto de João da Silva Ribeiro (Sênior) (23/06/1787 – 12/05/1873) (filho de Pedro da Silva Ribeiro e Anna Maria de Saldanha) e de Maria Benta de Souza (filha de Matheus José de Souza e Clara Maria de Athaide).
           Agradecemos a Henrique Brognoli Martins (nasc. 1952), filho de Manoel Cecílio Ribeiro Martins e de Maria do Carmo Brognoli, por nos enviar o texto e as fotos que seguem abaixo.


Antecedentes
por Manoel Cecilio Ribeiro Martins

Antes de iniciar o relato sobre “Os 150 anos da Casa de Pedra na Fazenda do Socorro” é importante contextualizar a figura de Matheus Ribeiro de Souza (1829-1900), seu idealizador.


Figura 01 – Vista Geral da Casa de Pedra.


Matheus exerceu, juntamente com seu irmão, o Coronel João da Silva Ribeiro, uma ativa participação nos primórdios da vida política da então Vila de São Joaquim da Costa da Serra, como primeiro vereador da instalação da Câmara Municipal representando o Distrito do Socorro, atual Bom Jardim. Com uma personalidade marcante, já naquela época, fazia questão da grafia do seu nome de Matheus com “u” ao invés do comum Matheos, do português antigo.
Em razão de minha mãe Dolores Ribeiro Martins, ter sido filha única de Manoel Cecilio Ribeiro, e este também o único filho homem de Matheus Ribeiro de Souza, eu Manoel Cecilio Ribeiro Martins, sou atualmente o último dos Ribeiro da descendência de Matheus Ribeiro de Souza, diferentemente de seus irmãos João da Silva Ribeiro Jr, Pedro José Ribeiro e Manoel Bento Ribeiro cujas descendências se multiplicaram levando o nome “Ribeiro” para muitas gerações.


Figura 02 – Matheus Ribeiro de Souza.

Embora no ramo de Matheus Ribeiro de Souza, o nome Ribeiro só tenha se transmitido até a 3ª geração, os “Ribeiro Martins”, a descendência dos Ribeiro continuou através da linha feminina, como já foi elencada pela pesquisadora Ismênia Ribeiro, em 2007, na denominada “Descendência de Matheus Ribeiro de Souza”. Mas é bom lembrar, que não só se multiplicou pelos descendentes do filho Manoel Cecilio Ribeiro, como também pelas filhas do 1º casamento: Maria da Conceição casada com Antônio Pereira de Medeiros, Virginia casada com Pedro Florêncio Pereira, ambas radicadas onde hoje é Urupema, Maria Magdalena casada com Manoel Pinto de Souza e Carlota Baptista Ribeiro casada com Joaquim Furtado de Souza e posteriormente com Augustinho Pereira da Silva, estas duas últimas em São Joaquim. Já as filhas do 2º casamento, ficaram, em sua maioria, radicadas em Bom Jardim da Serra, Adelaide casada com Antão de Paula Velho, Zulmira casada inicialmente com Cyrillo Caetano de Souza, e posteriormente com Bruno Francisco Macedo, Adelia com José Caetano do Amaral e Maria Trindade casada com Ambrozio Baptista de Souza, esta última em São Joaquim.

Os 150 anos da Casa de Pedra na Fazenda do Socorro

Ao iniciar a história da restauração da denominada Casa de Pedra, é fundamental resgatar que ela é parte dos elementos importantes no povoamento desta Costa de Serra e principalmente de Bom Jardim da Serra, na fixação do homem na terra, a partir da Fazenda Nossa Senhora do Socorro, e de suas manifestações culturais na área rural.


Figura 03 – Óleo Sobre Tela de Willy Zumblick (1950).

Essa antiga sede de fazenda é um testemunho histórico de fatos que aqui aconteceram e estão associados aos esforços de meus antepassados para o desenvolvimento da região. Em 2017 estarão concluídas as necessárias obras emergenciais com reforço na estrutura básica nas paredes de taipa da casa, assoalhos e, principalmente, resgatando seu telhado na forma original, ano em que a Casa de Pedra completa 150 anos de sua edificação.


Figura 04 – Casa de Pedra – Fachada Principal.



Figura 05 – Casa de Pedra – Fachadas Laterais.


Foi para sua esposa Maria Magdalena Baptista de Souza (1833-1867) filha de João Baptista de Souza, Inholo (1800-1850), que meu bisavô, Matheus Ribeiro Souza (1829-1900) construiu essa casa. A primeira vez que se mencionou a sua existência, foi no ano de 1867, por ocasião da morte de Maria Magdalena Baptista de Souza, quando se arrolou dentre os bens: “...uma casa coberta com telhas de barro na Fazenda do Socorro”, que era um diferencial para época na região.

 
Figura 06 – Maria Magdalena Baptista de Souza.


Outro fato, também relacionado à Casa de Pedra foi a instalação de janelas com vidros em 1868, uma “exigência” de Maria do Nascimento Amaral, também conhecida como “Dona Senharinha” (1846-1931), para torna-se a 2ª esposa de Matheus Ribeiro de Souza, vidraças que, na época em São Joaquim, eram ainda, um artigo de luxo, segundo relatos de sua neta Dulce do Amaral Velho. Conheci Dona Senharinha, minha “bisavó emprestada”, já como uma importante referência familiar, na época estava acamada e com idade avançada, lembro que fomos a Bom Jardim na casa dela, juntamente com meu irmão Hélio para “tomar louvado” (benção). São estes episódios da crônica familiar que alimentam nossas histórias, quando ainda hoje, por exemplo, Rose Buendgens relembra fatos mencionados por sua avó Dulce que nasceu na Casa Pedra.


Figura 07 – Janelas Típicas do Século XIX em Madeira e Vidro colocado posteriormente.

Após a morte de Matheus Ribeiro de Souza, em 1900, concluídos os acertos do inventário, seu filho Manoel Cecilio Ribeiro adquiriu de sua madrasta, Dona Senharinha, a sede da Fazenda do Socorro. Incentivado por sua esposa Rozalina de Souza e Oliveira (1870-1938), neta de Antônio Saturnino de Souza e Oliveira, descendente de tradicional família fluminense, é que foram realizadas em 1908 as melhorias e as pinturas florais no interior da Casa de Pedra, por um pintor (segundo informações do jornalista Rogério Martorano chamado Antônio Cesar Burlamaqui) que atuou em São Joaquim e Lages no inicio do século XX.



Figura 08 – Detalhes das pinturas no Interior da Casa.
Fotos de Dionata Costa (São Joaquim - On Line).

O ano de 2017 é também marcado pelo centenário da morte de meu avô Manoel Cecilio Ribeiro (1857-1917), ocorrida em São Paulo, ao submeter-se a uma cirurgia no Instituto Paulista de Medicina. Foi Manoel Cecilio Ribeiro, bisneto do precursor Matheus José de Souza, quem requereu, judicialmente, em 1910, por meio de seu advogado Nereu Ramos, a divisão da Fazenda do Socorro, que objetivou pôr termo ao condomínio existente, cuja comunhão permaneceu por cerca de 140 anos, ou seja, desde 1775.


Figura 09 – Manoel Cecilio Ribeiro - crayon atribuído a Eduardo Dias em 1906.


Matheus José de Souza, participante na fundação de Lages, adquiriu de Manoel Marques Arzão que já vivia na região a Fazenda do Socorro no ano de 1775. A partir do casamento de sua filha Maria Benta de Souza (1790-1857) em 20/02/1812, com João da Silva Ribeiro (1787-1868) iniciou-se o elo de ligação com a família Ribeiro.
Em relação a essa antiga sede de fazenda coube a Matheus Ribeiro de Souza na partilha de bens de sua mãe Maria Benta, mas se mencionou a existência de 03 mangueiras de taipas, ainda existentes e demais benfeitorias. Não há nenhuma referência a Casa de Pedra e nem mesmo, à antiga casa, que pertenceu a Manuel Marques Arzão. Consta que a referida 1ª casa incendiou-se, e ainda hoje existem os alicerces, sendo referida como “a antiga tapera do Arzão”. O celebre escritor e acadêmico catarinense Tito Carvalho (1896-1965), foi quem melhor explorou nosso regionalismo literário, em relatar no Jornal “República”, de Florianópolis, em 18/01/1928, um artigo denominado “Lendas das Minas do Arzão”, quando descrevia o ponto de partida do lendário mapa: “dever-se-ia sair da antiga Casa do Socorro, já desaparecida, não da nova”.

Figura 10 – Antigas Mangueiras de Taipas.


Foi minha mãe Dolores Ribeiro (1891-1928), filha única e herdeira de Manoel Cecilio Ribeiro que nos deixou essa “Tradicional e Amparadora Fazenda do Socorro” como dizia meu pai Adolfo José Martins (1885-1968) professor e editor da Gazeta Joaquinense em 1906, deputado estadual (1935-1936) e vereador por São Joaquim: “e foi essa Casa de Pedra que nos abrigou após sua morte prematura”.


Figura 11 - Dolores Ribeiro e o marido Adolfo José Martins em Florianópolis em 1928.

Um outro fato marcante na Casa de Pedra foi a chegada em 1936, do primeiro automóvel: era um Dodge ano 1928 não sei se de Lages ou de São Joaquim, que trazia meu irmão mais velho José Moacyr Ribeiro Martins (1912-1954), que tinha se formado em medicina em Porto Alegre, e era acompanhado pelo Dr. Joaquim Pinto de Arruda (1905 - 1997) e sua esposa Juraci (Ceci) Pereira.


Figura 12 - 1º automóvel na Casa de Pedra, da esquerda para direita: meus irmãos Ceniro em pé mais atrás o Helio, Dr Joaquim de terno branco, sentado dentro do carro meu irmão Dr. José Moacyr, no estribo do carro minhas irmãs Dolores e Doracy, ao lado de Ceci Pereira, sentados na frente eu Manoel Cecilio e meu irmão Celso. Na porta da casa meu pai Adolfo e Dona Belinha (Isabel Teixeira Nunes) sua 2ª esposa, com a filha Isabel no colo.

Em 26 de junho de 1964, meu pai alertou-me para a necessidade urgente de reparos no “prédio residencial”, que considerava “obra de frisante valor”, os quais foram realizados em 1965 de forma limitada em razão das dificuldades da época.
Decorridos todos estes anos, acredito que meu pai me deu tal missão, não por eu ser engenheiro civil, mas por imaginar que eu continuaria as atividades agropastoris da família e principalmente por levar nome de meu avô Manoel Cecilio Ribeiro, a quem certamente ele sempre prestou homenagens.
Embora eu não tenha permanecido com a sede da minha fazenda na Casa de Pedra, ainda assim agradeço em especial aos meus sobrinhos, herdeiros de meus irmãos, pela realização em 2013, do acordo divisório da propriedade, que interrompeu um lento processo de destruição da casa pela ação do tempo e que me possibilitou, ainda, aos 94 anos realizar a minha missão, de poder preservar a Casa de Pedra para mantê-la como um prédio com significativo valor histórico para as famílias Souza, Ribeiro, Amaral e Martins e para nosso Bom Jardim da Serra.

Manoel Cecilio Ribeiro Martins



Figura 13 - Manoel Cecilio Ribeiro Martins com a mulher Maria do Carmo Brognoli ao iniciar as obras de restauração.




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