quarta-feira, 15 de março de 2017

Praça Cezário Amarante



Ismênia Ribeiro Schneider
Cristiane Budde


            Entre as ruas Manoel Joaquim Pinto e Paulo Bathke (paralelas), em São Joaquim (SC), localiza-se uma praça que homenageia o quarto prefeito do município: Cezário Joaquim do Amarante. Ele governou a cidade durante 28 anos, de 1898 a 1926.


Figura 1 - Legenda do Busto que homenageia Cezário Joaquim do Amarante, na praça que recebeu seu nome.


Cezário Joaquim do Amarante (25/02/1852 – 10/08/1929) é filho de Felisberto Joaquim do Amarante (1796 - 03/02/1861[i]) e de Carlota Joaquina do Amarante (de Liz) (1807 - 08/10/1884[i]). Esta é filha de Nicolau de Liz e Abreu e Umbelina Maria Pereira (falec. 1878).
Felisberto, por sua vez, é filho de Miguel Bicudo de Amarante e Anna Joaquina de Boenavides (25/12/1773 - 05/08/1847[i]). Um fato intrigante na história local é o assassinato de Felisberto, pai de Cezário, que ocorreu em 03/02/1861. Veja abaixo mais informações sobre o assassinato.

Conforme destaca a Agência de Notícias São Joaquim Online, Cezário Amarante
“governou São Joaquim no período de 1898-1926, pelo Partido Republicano, reeleito em vários pleitos, onde demonstrou capacidade de conciliação e liderança em torno dos interesses da incipiente sociedade joaquinense.
Talvez pelo fato de ser um rico fazendeiro da época, fundador da Fazenda Barreiro, hoje importante destino para o Turismo Rural no município de Urupema, Cezário Amarante nunca aceitou receber salários pela superintendência que exercia no município. Conforme noticiou o Jornal “Região Serrana”, de Lages, em janeiro de 1899 (exemplar constante do acervo do Museu Histórico Thiago de Castro – Lages), o superintendente Cesário Amarante devolvia os seus honorários à municipalidade porque “tinha muito amor a sua terra”. (Fonte Revista Blumenau em Cadernos, Ed. 371, Nov/Dez de 1987- Historiadora Maria Batista Nercolini)”[ii].


Figura 2 - Praça Cezário Amarante, em São Joaquim, SC. (Fonte: Site Meus Roteiros de Viagem)


Figura 3 - Praça e busto em homenagem a Cezário Amarante. (Fonte: www.paranomio.com)


            Cezário Joaquim do Amarante casou-se, em 6 de setembro de 1885 (Lages-SC), com Belizária Ribeiro do Espírito Santo (nome de solteira) (nasc. 07/03/1866[iii]), filha de João da Silva Ribeiro Júnior (1819-1894), “Coronel João Ribeiro” e de Ismênia Baptista de Souza (1831- 1912).


Figura 4 – Belizária Ribeiro do Espírito Santo e Cezário Joaquim do Amarante. (Fonte: Foto disponibilizada por Rogério Palma de Lima, no site Genoom)


            O casal não teve filhos e, por isso, quando faleceu a irmã de Belizária, Ignês Batista Ribeiro (18/12/1853 – 09/04/1895), deixando cinco filhos pequenos, Cezário e Belizária adotaram com alegria a sobrinha PÁSCHOA BATISTA DE OLIVEIRA (falec. 03/02/1979[iii]), de três anos, que lhes confiou Ignácio Sutil de Oliveira, pai da menina, ao retirar-se para o Mato Grosso.
“Pascoinha”, como era chamada, casou-se no dia 21/12/1912 com OSCAR ALVES FERREIRA, passando a se chamar PÁSCHOA DO AMARANTE FERREIRA, mãe da conhecida família joaquinense “Amarante Ferreira”, herdeira da Fazenda “do Barreiro”, no Painel, e guardiã das ricas tradições da importante estirpe fundada por Cesário e Belizária.
Filhos de OSCAR e PÁSCHOA:

F1 – FULVIO AMARANTE FERREIRA (nasc. 1912), c.c. Nadir Borges, filha de Outobrino Vieira Borges e Maria Benta Macedo Borges.
Fazendas: “Butiá” e “Três Pedrinhas”.

F2 – DALMO AMARANTE FERREIRA (1915 – 10/05/1977), c.c. Ruth Ribeiro Ferreira (nasc. 1919, residente em Lages), filha de Affonso Ribeiro Sobrinho e Alzira Vieira Ribeiro.
Fazenda “do Barreiro”.

F3 – BELISÁRIA AMARANTE FERREIRA (nasc. 1916), c.c. Cícero Witzel (viviam em Campinas, SP), filho de José Witzel e Benedita Astrogilda Witzel.

F4 – CESÁRIO AMARANTE FERREIRA (1917 – 1967), c.c. Zenaide Córdova, filha de Antônio Córdova, “Tonico”, e Lídia Rodrigues Córdova.

F5 – DILMA AMARANTE FERREIRA (1919 – 2003), c.c. Joel Guimarães Batista, filha de Leonel Batista e Honorata Guimarães Batista.

F6 – JOSÉ AMARANTE FERREIRA (1920 – 1994 ), “Zelo”, c.c.
1ª esposa: Zilda Melo, filha de Felício Melo e ?
2ª esposa: Leila Antunes, filha de Júlio Antunes de Amorim e Rute Furtado Antunes.

F7 – ALDO AMARANTE FERREIRA (1922 – 1979 ), c.c. Laura Cândido Ferreira, filha de Vidal Cândido da Silva e Teodolina Cândido da Silva.
Fazenda: “Morro do Vento”.

F8 – DALILA AMARANTE FERREIRA (1923 – 1993), c.c. Arnaldo Salles de Abreu, filho de João Salles e Joana Cheromim Salles.

F9 – JARBAS AMARANTE FERREIRA (1924 – 1991), “Bio”, c.c. Norma Fontanella Cruz Ferreira, filha de Gregório Pereira da Cruz e de ?

F10 – OSCAR FERREIRA FILHO (1925 – 1995 ), “Oscarzinho”, c.c. Vírginia Damásio Ferreira, filha de João Damásio e ?

F11 – CLÊNIO AMARANTE FERREIRA (nasc. 1927, residente em Florianópolis), c.c. Iolanda Bleyer, filha de Thássilo Neves Bleyer e Filomena Mattos Bleyer.

F12 – JAILO AMARANTE FERREIRA (1929 – 1980), c.c.
1ª esposa: Lourdes Pires de Haro, filha de Horácio Pires de Haro e ?
2ª esposa: Leoni, filha de Francisco Abílio e ?

F13 – MARIA INÊS AMARANTE FERREIRA, “Cotinha” (nasc. 1930 – residente em São Joaquim), c.c. Saulo Andrade Vieira, filho de Belisário Araújo Vieira e ?


Figura 5 - Páschoa do Amarante Ferreira e Oscar Alves Ferreira. (Fonte: Foto disponibilizada por Rogério Palma de Lima, no site Genoom)

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            Mais informações sobre o assassinato de Felisberto Joaquim do Amarante, pai de Cezário Amarante:

O Assassinato de Felisberto Joaquim do Amarante (1797 – 1861)[iv]

FELISBERTO JOAQUIM DO AMARANTE era filho de Miguel Bicudo do Amarante e de Anna Joaquina Benevides, esta por sua vez, filha de Manuel da Silva Ribeiro e Maria Bernardes do Espírito Santo, patriarcas da Família Ribeiro na Serra Catarinense.           Foi casado com CARLOTA JOAQUINA DE LIZ, filha de Nicolau de Liz e Abreu e de Umbelina Maria Pereira, descendentes da importante família Pereira que primeiro povoou a região do Painel.
O casal tornou-se dono de fazendas contíguas em terras do hoje município de Painel, que originaram a famosa Fazenda do Barreiro. Tiveram seis filhos, entre eles Cesário Joaquim do Amarante, que foi o quarto prefeito de São Joaquim, com mandato de 1898 a 1926.
Pois bem, FELISBERTO foi assassinado a tiros, no dia 03 de fevereiro de 1861, em sua casa, na Fazenda do Barreiro. A sua esposa, presente no momento do crime, acusou como responsável pelo assassinato ao seu cunhado, irmão do morto, VASCO JOAQUIM DO AMARANTE.
Esses dados foram acessados através do documento “Translado dos Autos do Crime de apelação ex-ofício interposta pelo Dr. Juiz de Direito da Comarca (Lages) da decisão do júri que absolveu o réu Vasco Bicudo do Amarante”, de 1861[v]. Aparece ali a inquirição do testemunho de Carlota, que assim narra, sob seu ponto de vista, a ocorrência do crime:
... todos escravos haviam corrido para o mato logo que ouviram o primeiro tiro: o que sendo ouvido por ela, não esperou mais e correu com seu filho pela porta de trás; ao chegarem à cozinha ouviram um tiro e ao passarem a taipa junto ao Rio, ainda ouviram outro tiro; depois que passaram o rio do outro lado encontrou-se com o restante de seus filhos, e todos os escravos, exceto o Luiz e a Delfina. Daí seguiram todos juntos, e ainda ouviram no caminho, um tiro, o qual foi dado em um cachorro, que depois foi achado morto, cujo tiro ela informante julga ter sido dado pelo seu cunhado Vasco, porque ouviu ele dizer estas palavras: “Arre diabo, passa”; cujas vozes não só foram conhecidas por ela informante, como por todos os seus filhos e escravos. Depois que o cachorro deixou de gritar, ela informante, seus filhos e escravos, ouviram de Vasco Bicudo do Amarante chamar, bem destintamente seu filho, Nhôzinho, e os escravos Luiz e José, dizendo estas palavras: “Venham que isso não é nada”, ao que ela informante disse para os seus filhos teu pai ficou morto como nós vimos, e ele diz que não é nada, corramos meus filhos, que ele nos está chamando para matar (pg 18).
Vasco ficou preso por 16 meses, respondendo pelo crime, sendo, ao final, absolvido da acusação, conforme se pode ver no mesmo processo:
... da innocencia do appellado, a qual na verdade, além de se achar na competencia do Tribunal de Justiça tão evidenciada se acha tão bem no Tribunal da opinião pública desta comarca igualmente reconhecida. Em vista pois disto, Senhor (referindo-se ao Imperador) é líquido que o apellado está muito no cazo de ser absolvido, mesmo do crime pelo qual acabou de ser condenado pela sentença da folha sessenta e três verso.

Vasco foi, pois, inocentado, partindo, logo a seguir, para a acusação de sua cunhada, Carlota, como sendo a verdadeira mandante do crime. Estes dados aparecem em outro processo: “Sumário de culpa ex-officio contra Carlota Joaquina de Liz e todos os seus escravos”, de 1862[vi]. Vejamos, então, a exposição apresentada por Vasco contra a cunhada:
Vasco Bicudo do Amarante, morador na cidade de Lages infamemente caluniado como assacino de seo irmão Felisberto Joaquim do Amarante, e que por tal crime o conservarão prezo dezaseis mezes, respondendo durante esse tempo duas vezes perante ao jury, sendo plenamente absolvido e querendo que a justiça discubra os verdadeiros criminozos, para assim serem punidos, e ficar o Suppe.(suplicante) izento d’essa nodôa, vem perante Vª Excª pedir que ordene às authoridades da Cidade de Lages, para novamente sindicarem, afim de se descobrir os authores de tão orrendo crime, pois é publico naquela Cidade, que a viuva do finado Felisberto Bicudo do Amarate e escravos da cazada são cumplices nesse horrorozo crime, imputar donde com mais affinco ao escravo Jozé. Procedendo Vª Excª com a devida cautela, certo estou, de que descobrirão os authores, tanto mais sendo voz publica de que a própria viuva, quando cazada com João Francisco Cidade Junior, igualmente assacinára, ministrando-lhe venêno. Actualmente, acha-se essa viuva cazada com o filho do Suppe. com quem já tinha relações illicitas antes da morte de seo irmão. Vª Excª poderá cordenar a verificação desse crime pelos cidadãos honestos do Termo de Lages, bem como pelos do Lavatudo e milhor será informado das circonstancias que existem. Tendo sido feita essa morte no dia três de fevereiro de mil oito centos e cessenta e hum, foi chamado o Inspector do quarteirão respectivo José N. Francisco, pelo Capitão José Marcellino, para fazer acto de Corpo de Delicto, dando-lhe verbalmente minucioza parte do ocorrido, o que cumprio, dezejando escrevel-a, e não an mirado a isso o mesmo Capitão Marcellino, incontenente demittio ao mesmo Inspector, tornando-se assim suspeito, na referida morte. A vista d’estes pontos que apresente o Suppe alem de sua defeza, e nos geraes se indica de alguma forma os crimonozos de tão horrendo crime; pede o Suppe a Vª Escª que obrando com justiça e imparcialidade que o caracterizão, ordene a prizão dos criminozos, punindo-os como merecem.

        Não tivemos acesso ao processo de julgamento de Carlota Joaquina de Liz, somente a este sumário de culpa ex-ofício. Mas sabe-se, pela história oral, que ela também foi absolvida, ficando o crime sem solução.
        Este, portanto, é mais um mistério que ronda a história de nossos ancestrais.


Referências
Inventário Judicial com Testamento de Cezário Joaquim do Amarante, 1929. Comarca de São Joaquim da Costa da Serra – SC, Inventário nº 733 – Reg. no livro nº3, Fls. 44.
Documento disponibilizado por Rogério Palma de Lima no site Genoom: Registro de óbito de Felisberto Joaquim do Amarante, 1861. Disponível em: https://familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X959-WGQ?i=19&wc=MFKV-K36%3A1030404201%2C1030404202%2C1030457301%3Fcc%3D2177296&cc=2177296.




[i] PALMA DE LIMA, Rogério. Dado disponibilizado no site Genoom.
[iii] PALMA DE LIMA, Rogério. Dado disponibilizado no site Genoom.
[iv] Originalmente publicado no livro: SCHNEIDER, Ismênia Ribeiro. O voo das curucacas: estudo genealógico de famílias serranas de Santa Catarina. Florianópolis: Letra Editorial, 2013. Coleção Memória Familiar, INGESC, v. 1, 292p.
[v] MUSEU do Judiciário Catarinense.  “Translado dos Autos do Crime de apelação ex-ofício interposta pelo Dr. Juiz de Direito da Comarca (Lages) da decisão do júri que absolveu o réu Vasco Bicudo do Amarante”, de 1861. Cx 22 (Lages), Cx 77 Museu, nº 513.
[vi] MUSEU do Judiciário Catarinense.  “Sumário de culpa ex-officio contra Carlota Joaquina de Liz e todos os seus escravos”, de 1862. Cx 85 Museu, Cx 30 Lages.



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