Entre as ruas Manoel Joaquim Pinto e
Paulo Bathke (paralelas), em São Joaquim (SC), localiza-se uma praça que
homenageia o quarto prefeito do município: Cezário Joaquim do Amarante. Ele
governou a cidade durante 28 anos, de 1898 a 1926.
Figura 1 - Legenda do Busto
que homenageia Cezário Joaquim do Amarante, na praça que recebeu seu nome.
Cezário
Joaquim do Amarante (25/02/1852 – 10/08/1929) é filho de Felisberto Joaquim do
Amarante (1796 - 03/02/1861[i]) e
de Carlota Joaquina do Amarante (de Liz) (1807 - 08/10/1884[i]).
Esta é filha de Nicolau de Liz e Abreu e Umbelina Maria Pereira (falec. 1878).
Felisberto,
por sua vez, é filho de Miguel Bicudo de Amarante e Anna Joaquina de Boenavides
(25/12/1773 - 05/08/1847[i]). Um fato intrigante na história local é
o assassinato de Felisberto, pai de Cezário, que ocorreu em 03/02/1861. Veja
abaixo mais informações sobre o assassinato.
Conforme
destaca a Agência de Notícias São Joaquim
Online, Cezário Amarante
“governou São
Joaquim no período de 1898-1926, pelo Partido Republicano, reeleito em vários
pleitos, onde demonstrou capacidade de conciliação e liderança em torno dos
interesses da incipiente sociedade joaquinense.
Talvez pelo fato de
ser um rico fazendeiro da época, fundador da Fazenda Barreiro, hoje importante
destino para o Turismo Rural no município de Urupema, Cezário Amarante nunca
aceitou receber salários pela superintendência que exercia no município.
Conforme noticiou o Jornal “Região Serrana”, de Lages, em janeiro de 1899
(exemplar constante do acervo do Museu Histórico Thiago de Castro – Lages), o
superintendente Cesário Amarante devolvia os seus honorários à municipalidade
porque “tinha muito amor a sua terra”. (Fonte Revista Blumenau em Cadernos, Ed.
371, Nov/Dez de 1987- Historiadora Maria Batista Nercolini)”[ii].
Figura 2 - Praça Cezário
Amarante, em São Joaquim, SC. (Fonte: Site Meus Roteiros de Viagem)
Figura 3 - Praça e busto em
homenagem a Cezário Amarante. (Fonte: www.paranomio.com)
Cezário Joaquim do Amarante casou-se, em 6 de setembro de
1885 (Lages-SC), com Belizária Ribeiro do Espírito Santo (nome de solteira)
(nasc. 07/03/1866[iii]),
filha de João da Silva Ribeiro Júnior (1819-1894), “Coronel João Ribeiro” e de
Ismênia Baptista de Souza (1831- 1912).
Figura 4 – Belizária Ribeiro
do Espírito Santo e Cezário Joaquim do Amarante. (Fonte: Foto disponibilizada
por Rogério Palma de Lima, no site Genoom)
O casal
não teve filhos e, por isso, quando faleceu a irmã de Belizária, Ignês Batista
Ribeiro (18/12/1853 – 09/04/1895), deixando cinco filhos pequenos, Cezário e
Belizária adotaram com alegria a sobrinha PÁSCHOA BATISTA DE OLIVEIRA (falec.
03/02/1979[iii]), de três anos, que lhes confiou Ignácio Sutil de
Oliveira, pai da menina, ao retirar-se para o Mato Grosso.
“Pascoinha”, como era chamada, casou-se no dia 21/12/1912
com OSCAR ALVES FERREIRA, passando a se chamar PÁSCHOA DO AMARANTE FERREIRA,
mãe da conhecida família joaquinense “Amarante Ferreira”, herdeira da Fazenda
“do Barreiro”, no Painel, e guardiã das ricas tradições da importante estirpe
fundada por Cesário e Belizária.
Filhos de OSCAR e PÁSCHOA:
F1 – FULVIO
AMARANTE FERREIRA (nasc. 1912), c.c. Nadir Borges, filha de Outobrino Vieira
Borges e Maria Benta Macedo Borges.
Fazendas:
“Butiá” e “Três Pedrinhas”.
F2 – DALMO
AMARANTE FERREIRA (1915 – 10/05/1977), c.c. Ruth Ribeiro Ferreira (nasc. 1919,
residente em Lages), filha de Affonso Ribeiro Sobrinho e Alzira Vieira Ribeiro.
Fazenda “do
Barreiro”.
F3 –
BELISÁRIA AMARANTE FERREIRA (nasc. 1916), c.c. Cícero Witzel (viviam em
Campinas, SP), filho de José Witzel e Benedita Astrogilda Witzel.
F4 –
CESÁRIO AMARANTE FERREIRA (1917 – 1967), c.c. Zenaide Córdova, filha de Antônio
Córdova, “Tonico”, e Lídia Rodrigues Córdova.
F5 – DILMA
AMARANTE FERREIRA (1919 – 2003), c.c. Joel Guimarães Batista, filha de Leonel
Batista e Honorata Guimarães Batista.
F6 – JOSÉ
AMARANTE FERREIRA (1920 – 1994 ), “Zelo”, c.c.
1ª esposa: Zilda
Melo, filha de Felício Melo e ?
2ª esposa:
Leila Antunes, filha de Júlio Antunes de Amorim e Rute Furtado Antunes.
F7 – ALDO
AMARANTE FERREIRA (1922 – 1979 ), c.c. Laura Cândido Ferreira, filha de Vidal
Cândido da Silva e Teodolina Cândido da Silva.
Fazenda:
“Morro do Vento”.
F8 – DALILA
AMARANTE FERREIRA (1923 – 1993), c.c. Arnaldo Salles de Abreu, filho de João
Salles e Joana Cheromim Salles.
F9 – JARBAS
AMARANTE FERREIRA (1924 – 1991), “Bio”, c.c. Norma Fontanella Cruz Ferreira, filha
de Gregório Pereira da Cruz e de ?
F10 – OSCAR
FERREIRA FILHO (1925 – 1995 ), “Oscarzinho”, c.c. Vírginia Damásio Ferreira, filha
de João Damásio e ?
F11 –
CLÊNIO AMARANTE FERREIRA (nasc. 1927, residente em Florianópolis), c.c. Iolanda
Bleyer, filha de Thássilo Neves Bleyer e Filomena Mattos Bleyer.
F12 – JAILO
AMARANTE FERREIRA (1929 – 1980), c.c.
1ª esposa:
Lourdes Pires de Haro, filha de Horácio Pires de Haro e ?
2ª esposa: Leoni,
filha de Francisco Abílio e ?
F13 – MARIA
INÊS AMARANTE FERREIRA, “Cotinha” (nasc. 1930 – residente em São Joaquim), c.c.
Saulo Andrade Vieira, filho de Belisário Araújo Vieira e ?
Figura 5 - Páschoa do Amarante
Ferreira e Oscar Alves Ferreira. (Fonte: Foto disponibilizada por Rogério Palma
de Lima, no site Genoom)
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Mais
informações sobre o assassinato de Felisberto Joaquim do Amarante, pai de
Cezário Amarante:
O Assassinato de Felisberto Joaquim do Amarante
(1797 – 1861)[iv]
FELISBERTO JOAQUIM DO AMARANTE era filho de Miguel Bicudo do
Amarante e de Anna Joaquina Benevides, esta por sua vez, filha de Manuel da
Silva Ribeiro e Maria Bernardes do Espírito Santo, patriarcas da Família
Ribeiro na Serra Catarinense. Foi
casado com CARLOTA JOAQUINA DE LIZ, filha de Nicolau de Liz e Abreu e de
Umbelina Maria Pereira, descendentes da importante família Pereira que primeiro
povoou a região do Painel.
O casal tornou-se dono de fazendas contíguas em terras do hoje
município de Painel, que originaram a famosa Fazenda do Barreiro. Tiveram seis
filhos, entre eles Cesário Joaquim do Amarante, que foi o quarto prefeito de
São Joaquim, com mandato de 1898 a 1926.
Pois bem, FELISBERTO foi assassinado a tiros, no dia 03 de
fevereiro de 1861, em sua casa, na Fazenda do Barreiro. A sua esposa, presente
no momento do crime, acusou como responsável pelo assassinato ao seu cunhado,
irmão do morto, VASCO JOAQUIM DO AMARANTE.
Esses dados foram acessados através do documento “Translado dos
Autos do Crime de apelação ex-ofício interposta pelo Dr. Juiz de Direito da
Comarca (Lages) da decisão do júri que absolveu o réu Vasco Bicudo do
Amarante”, de 1861[v].
Aparece ali a inquirição do testemunho de Carlota, que assim narra, sob seu ponto
de vista, a ocorrência do crime:
... todos escravos haviam corrido para o mato logo que ouviram o
primeiro tiro: o que sendo ouvido por ela, não esperou mais e correu com seu
filho pela porta de trás; ao chegarem à cozinha ouviram um tiro e ao passarem a
taipa junto ao Rio, ainda ouviram outro tiro; depois que passaram o rio do
outro lado encontrou-se com o restante de seus filhos, e todos os escravos,
exceto o Luiz e a Delfina. Daí seguiram todos juntos, e ainda ouviram no
caminho, um tiro, o qual foi dado em um cachorro, que depois foi achado morto,
cujo tiro ela informante julga ter sido dado pelo seu cunhado Vasco, porque
ouviu ele dizer estas palavras: “Arre diabo, passa”; cujas vozes não só foram
conhecidas por ela informante, como por todos os seus filhos e escravos. Depois
que o cachorro deixou de gritar, ela informante, seus filhos e escravos,
ouviram de Vasco Bicudo do Amarante chamar, bem destintamente seu filho,
Nhôzinho, e os escravos Luiz e José, dizendo estas palavras: “Venham que isso
não é nada”, ao que ela informante disse para os seus filhos teu pai ficou
morto como nós vimos, e ele diz que não é nada, corramos meus filhos, que ele
nos está chamando para matar (pg 18).
Vasco ficou preso por 16 meses, respondendo pelo crime, sendo,
ao final, absolvido da acusação, conforme se pode ver no mesmo processo:
... da innocencia do appellado, a qual na verdade, além de se achar na
competencia do Tribunal de Justiça tão evidenciada se acha tão bem no Tribunal
da opinião pública desta comarca igualmente reconhecida. Em vista pois disto,
Senhor (referindo-se ao Imperador) é
líquido que o apellado está muito no cazo de ser absolvido, mesmo do crime pelo
qual acabou de ser condenado pela sentença da folha sessenta e três verso.
Vasco foi, pois, inocentado, partindo, logo a seguir, para a
acusação de sua cunhada, Carlota, como sendo a verdadeira mandante do crime.
Estes dados aparecem em outro processo: “Sumário de culpa ex-officio contra
Carlota Joaquina de Liz e todos os seus escravos”, de 1862[vi]. Vejamos,
então, a exposição apresentada por Vasco contra a cunhada:
Vasco Bicudo do Amarante, morador na cidade de Lages infamemente
caluniado como assacino de seo irmão Felisberto Joaquim do Amarante, e que por
tal crime o conservarão prezo dezaseis mezes, respondendo durante esse tempo
duas vezes perante ao jury, sendo plenamente absolvido e querendo que a justiça
discubra os verdadeiros criminozos, para assim serem punidos, e ficar o Suppe.(suplicante) izento d’essa nodôa, vem perante Vª Excª
pedir que ordene às authoridades da Cidade de Lages, para novamente sindicarem,
afim de se descobrir os authores de tão orrendo crime, pois é publico naquela
Cidade, que a viuva do finado Felisberto Bicudo do Amarate e escravos da cazada
são cumplices nesse horrorozo crime, imputar donde com mais affinco ao escravo
Jozé. Procedendo Vª Excª com a devida cautela, certo estou, de que descobrirão
os authores, tanto mais sendo voz publica de que a própria viuva, quando cazada
com João Francisco Cidade Junior, igualmente assacinára, ministrando-lhe
venêno. Actualmente, acha-se essa viuva cazada com o filho do Suppe. com quem
já tinha relações illicitas antes da morte de seo irmão. Vª Excª poderá
cordenar a verificação desse crime pelos cidadãos honestos do Termo de Lages,
bem como pelos do Lavatudo e milhor será informado das circonstancias que
existem. Tendo sido feita essa morte no dia três de fevereiro de mil oito
centos e cessenta e hum, foi chamado o Inspector do quarteirão respectivo José
N. Francisco, pelo Capitão José Marcellino, para fazer acto de Corpo de
Delicto, dando-lhe verbalmente minucioza parte do ocorrido, o que cumprio,
dezejando escrevel-a, e não an mirado a isso o mesmo Capitão Marcellino,
incontenente demittio ao mesmo Inspector, tornando-se assim suspeito, na
referida morte. A vista d’estes pontos que apresente o Suppe alem de sua
defeza, e nos geraes se indica de alguma forma os crimonozos de tão horrendo
crime; pede o Suppe a Vª Escª que obrando com justiça e imparcialidade que o
caracterizão, ordene a prizão dos criminozos, punindo-os como merecem.
Não tivemos acesso ao processo de julgamento de Carlota Joaquina
de Liz, somente a este sumário de culpa ex-ofício. Mas sabe-se, pela história
oral, que ela também foi absolvida, ficando o crime sem solução.
Este, portanto, é mais um mistério que ronda a história de
nossos ancestrais.
Referências
Inventário Judicial com
Testamento de Cezário Joaquim do Amarante, 1929. Comarca de São Joaquim da
Costa da Serra – SC, Inventário nº 733 – Reg. no livro nº3, Fls. 44.
Documento disponibilizado por
Rogério Palma de Lima no site Genoom: Registro de óbito de Felisberto Joaquim
do Amarante, 1861. Disponível em: https://familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-X959-WGQ?i=19&wc=MFKV-K36%3A1030404201%2C1030404202%2C1030457301%3Fcc%3D2177296&cc=2177296.
[i]
PALMA DE LIMA, Rogério. Dado disponibilizado no site Genoom.
[ii]
São Joaquim Online. 2013. Disponível em: http://saojoaquimonline.net/2013/12/26/busto-de-cezario-amarante-aparece-enforcado-no-centro-de-sao-joaquim/.
[iii]
PALMA DE LIMA, Rogério. Dado disponibilizado no site Genoom.
[iv]
Originalmente publicado no livro: SCHNEIDER, Ismênia Ribeiro. O voo das curucacas: estudo genealógico de
famílias serranas de Santa Catarina. Florianópolis: Letra Editorial, 2013.
Coleção Memória Familiar, INGESC, v. 1, 292p.
[v]
MUSEU do Judiciário Catarinense. “Translado
dos Autos do Crime de apelação ex-ofício interposta pelo Dr. Juiz de Direito da
Comarca (Lages) da decisão do júri que absolveu o réu Vasco Bicudo do Amarante”,
de 1861. Cx 22 (Lages), Cx 77 Museu, nº 513.
[vi]
MUSEU do Judiciário Catarinense.
“Sumário de culpa ex-officio contra Carlota Joaquina de Liz e todos os
seus escravos”, de 1862. Cx 85 Museu, Cx 30 Lages.
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