quarta-feira, 18 de julho de 2018

Histórico da cidade de São Joaquim e os costumes de seu povo


            Na postagem de hoje apresentamos uma matéria de 1987, escrita por Maria Batista Nercolini, e publicada na Revista Blumenau em Cadernos, TOMO XXVIII/6 – Junho de 1987, edição 366[i].
            O texto é muito interessante, pois cita diversos personagens importantes para a história de São Joaquim (SC), sendo que alguns já foram, inclusive, foco de matérias anteriores no Blog, como Bento Cavalheiro do Amaral[ii], Agripa de Castro Faria[iii], Egídio Martorano[iv], Enedino Batista Ribeiro [v] e Jorge Bleyer[vi].
            Confiram a matéria na íntegra:


Histórico da cidade de São Joaquim
e os costumes de seu povo
Maria Batista Nercolini

5º Capítulo

No 3º capítulo, falamos de Correio, prometendo voltar após recebermos documentos.
Apresentamos: Departamento Correios e Telégrafos.
O Correio era uma Repartição que funcionava à parte do Telégrafo e que só mais tarde houve fusão.
Seu competente funcionário era João Araujo Lima. Essa Repartição funcionava na casa de sua propriedade, mais ou menos onde está hoje o Hotel Nevada.
Vamos lembrara que a correspondência, que vinha e ia para Lages, Urubici, bom Jardim, daí par baixo da Serra, era em lombo de animais. Lembremos nossos estafetas[1], Francisco Santos, Guedes, Farias e Juventino, para B. Jardim esse último, até mais ou menos 1945. Estes estafetas usavam roupas de cáqui amarelo, e as pessoas da época sabem da pontualidade e presteza do Correio. Viagens fatigantes, num itinerário semanal.
Como já noticiamos, o telégrafo, no final do século, funcionava. Dos funcionários, conseguimos a documentação da Divisão de Administração do pessoal do Ex-DCT-Brasília, DF, em 20-05-1967, por nossa solicitação.
Janjão (pai de Renato Góss), conforme noticia também a “Gazeta Joaquinense” em 1909, ainda trabalhava em nossa Comuna, cuja biografia daremos oportunamente, sem contudo afirmarmos que seria o 1º telegrafista.
Aristides Félix Cassão, sendo deste a Portaria conseguida:
“Matrícula nº 365.434. nasceu em 15-1-1891 e foi admitido em 06-1-1909 como Trabalhador Diarista. Em 24-08-1911, foi elevado ao cargo de Telegrafista Regional. Passando por várias promoções, atingiu a carreira de telegrafista “M”, conforme Decreto de 23-04-54, do Diário Oficial da União, em 30 do mesmo mês.
Foi também funcionário do Correio, conforme portaria, e em virtude da fusão descrita acima. Faleceu em Florianópolis, em 26-09-1954, aos 63 anos de idade, dos quais 45 anos dedicados aos serviços públicos.
A linha telefônica foi criada mais ou menos em 1928 no então Distrito de Bom Jardim da Serra. O encarregado foi Gil Mattos, filho de um dos homens mais inteligentes e probos, Sebastião Mattos.
Aristides transferiu-se para Tijucas, ficando sua irmã Juliete Martins Cassão, também telegrafista, e o nosso amigo Benigno Dutra, neto pelo lado paterno de Horácio Dutra, um dos homens que muito serviu nossa Comuna. Foi Secretário da Prefeitura, ocupou outros cargos de confiança e possuía uma invejável caligrafia. Horácio, pai de Gasparino, foi outro são-joaquinense amigo e amante de sua terra. Destacou-se como funcionário, Coletor estadual, Diretor do Tesouro do Estado e Prefeito na cidade de Urubici. muito sabia de nossa gente. lamentamos que não haja nada registrado de sua autoria, como o lado materno, os Cavalheiros e outros pioneiros.
Era casado com Alice Costa, também de família de destaque na Comunidade. E hoje aí está a Repartição “Empresa Brasileira Correios e Telégrafos”, desde 1964, com boa instalação, ótimos funcionários, alguns nosso conterrâneos, trabalhando, servindo e impulsionando o nosso progresso.

Saúde
Hospital Sagrado Coração de Jesus
(Respeitando grafia original)

Conforme cópia do testamento em nosso poder, transcrevemos fielmente a parte que interessa ao Hospital (Expedido pelo Cartório da 2ª Vara Civil, Comarca de São Joaquim). No livro de Registro dos Testamentos, à fls. 14v a 16, consta da averbação do seguinte testamento: “Averbação e Registro do Testamento do teor seguinte J. M. J. Em nome da Santíssima Trindade, Padre Filho Espírito Santo, Três pessoas distintas e um só Deus verdadeiro, em quem piamente creio e em cuja fé pretendo viver e morrer, é este o meu testamento contendo as minhas disposições de última vontade:
“Declaro chamar-me Bento Cavalheiro do Amaral, natural deste Estado, domiciliado nesta Comarca, filho de Manoel Cavalheiro Leitão e Marianna Cândida d’Almeida, já falecidos, (Obs.: continua o testamento com doação à família). Em um dos itens, encontramos: “Dentro das forças de minha terça, faço doação de uma área de terras que possuo próxima desta Villa, e que confronta com Enéas da Silva Mattos, e Tenete Egídio Martorano, e o arroio (Obs.: Este é o arroio da Chapado do Cruzeiro), que passa próximo desta Villa, a um estabelecimento de caridade, cujo terreno destino à edificação de um asylo para indigentes. Era o dia 28-06-1903”. A Obs. é nossa.
Diante desta doação, fui fundada a Associação Beneficente “Bento Cavalheiro” em 1925.
Em 1932 foi dado início a construção do Hospital de Caridade Coração de Jesus. Para esta obra, manifestou-se a Diretoria: Domingos Martorano, Thiago Fioravante de Mattos, Aristides Batcke, Manoel Teixeira e o professor José Jaime Vieira Rodrigues, o batalhador incansável, que percorreu o Município a cavalo, visitando nossos fazendeiros para trazer recursos para essa obra prioritária e desejada para a nossa coletividade.
Só foi inaugurado no dia 30 de abril de 1944 com a Banda Musical Mozart Joaquinense, a população presente, discursos e a porta aberta pelo neto de Bento Cavalheiro do Amaral, Gervásio Pereira do Amaral. Estas reminiscências devem estar registadas na memória de muitos que assistiram.
As outras edificações, em 1963 e 1970, abrangendo, emergência, novo centro cirúrgico, pediatria, cozinha, lavanderia, etc., foram tarefas árduas dos médicos e comunidade.
Estão em andamento [em 1987] os 4 blocos que fazem parte do Hospital, no comando de seu idealizador Dr. Jani Rogério Vieira Wolff, que será assim apoteose desta batalha nascida em 1903.
São Joaquim esteve sempre amparado por bons médicos. Daremos a nominata (Se a memória nos trais, corrigiremos em nossa futura monografia, observação válida também no setor odontológico e farmácia).
O. Dr. José Nabuco D’Avila, de Pernambuco, mais ou menos 1917-1919, teve a infelicidade de perder sua esposa e filhinho, vítimas da epidemia espanhola, após a 1ª Guerra Mundial.
Dr. Vicente Modena, 1920.
Dr. Newton Vieira Ramos, do Estado do Espírito Santo, 1920, casou-se com Herondina de Macedo, de importante família de Bom Jardim da Serra.
Dr. Müller, mais ou menos 1925.
Dr. Vicente Cantisani, italiano, jovem, solteiro, competentíssimo, conviveu entre nós por muitos anos. Com a 2ª Guerra Mundial e os seus efeitos, partiu em circunstâncias desagradáveis, falecendo no Amazonas, onde foi reunir-se a um irmão.
Dr. Jorge Clarke Bleyer, médico, cientista natural de Hannover (Alemanha), radicou-se em nosso Estado e viveu também em outras cidades. Casou-se com jovem da conhecida família Neves, de Lages. Tem vários trabalhos científicos, como: Conferência na Academia Nacional de Medicina do Rio de Janeiro “Contribuição para estudos do troglodyta das cavernas no planalto do Brasil” (Publicado em 19-8-1919 – Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina).
Ueber dir antropophagie praehistorischer ureinvvohner des Hochplathou’s von Santa Catarina in Brasilien”, apresentado ao XVIII Congresso Internacional de Americanistas, e impressa nos seus Anais, Londres 1913. Apresentou no XX Congresso Internacional de Americanistas, no Rio de Janeiro, em 1922, “Investigações sobre o homem pré-histórico no Brasil Meridional”. Sobre o canibalismo aborígene pré-histórico habitante de grutas e abrigos sob rocha, 1928. (Do livro As Grutas de São Joaquim e Urubici, de Walter Piazza).
Dr. Armando Ramos de Carvalho, natural de Lages, formado pela Faculdade de Medicina de Porto Alegre, 1924, esteve entre nós mais ou menos de 1925 a 1930.
Dr. Agripa de Castro Farias – Campos, Rio de Janeiro (Biografia capítulo política).
Chegamos em 1930 e com ele a satisfação e até mesmo orgulho de termos o nosso primeiro médico, formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, Dr. Joaquim Pinto de Arruda, bisneto de nosso fundador (Dados biográficos, no capítulo Política).
Dr. José Martins, filho do emérito professor Adolfo Martins e Dolores Ribeiro Martins. Infelizmente a morte o arrebatou muito jovem (Não clinicou em nossa cidade).
Dr. Aristarides Stadler, médico paranaense, que pelo devotamento à sua profissão, deixou profundas marcas no seio do povo e principalmente dos mais humildes. Casou-se com a belíssima Gema, representante da fina Sociedade Bonjardinense, falecendo muito cedo.
Dr. João Batista Verás – 1944.
Dr. Arnaldo Bittencourt.
Dr. Bica – 1950.
Dr. Artur Lopes da Silveira Pinto.
Dr. Abrahão Kochmann.
Dr. Samuel Meyer.
Dr. Egídio Martorano, foi presidente do Hospital (Como político, Cap. Política).
Em 1956, o Dr. Olavo Francisco Vieira chegou para exercer sua profissão, abraçando-a com muito fervor, sempre solícito aos que o procuram, especialmente os pobres. Por esse trabalho, tão humano, justifica o respeito, o carinho do povo para com ele. Foi Diretor do Hospital, no período de 5 a 6 anos.
Médicos da atualidade [1987], alguns dos quais são-joaquinenses:
Dr. Jani Rodrigues ieira Wolff
Dr. José Luiz Bergomache
Dr. Leonardo José Batcke
Dr. Lizandro Chiodelli
Dr. Newton Estélio Fontanelle
Dr. Olavo Francisco Vieira
Dr. Romario Zabot
Dr. Sergio Luiz Ribeiro
Dr. Telmo Francisco de Souza Palma
Dr. Walter Gonçalves de Azevedo

Dentistas:

Oscar Alves Ferreira – Gaúcho de Porto Alegre
José Silveira Batalha – São Joaquim
Aristides Soares – Lages
Henrique (Alemão) – Blumenau
Hugo Bortoluzi – Nova Veneza
Laerte Rodrigues Lima – Lages
Dr. Guaracy Santos – Florianópolis
Para chegarmos em 1987, com muitos são-joaquinenses e de outras localidades:
Dr. Alcides Celestino dos Santos
Dr. Alcir Rogério Rodrigues
Dr. Anacreonte Martins Antunes
Dr. Doroteu Campos
Dr. Fulvio Ferreira Filho (Blumenau atualmente [1987])
Dr. João Pagani
Dr. Joaquim Anacleto Rodrigues Neto
Dr. Renaldo Albino de Bem
Dr. Zilson Marivaldo Gonçalves de Azevedo

Farmácias

Partimos de 1935, pelos documentos existentes:
“Santa Maria”, de Enedino Batista Ribeiro, Farmacêutico formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

De: Silvio Souza
      Hilário Bleyer
João Jorge da Silva e Barnabé Dutra, passando por compra a Altamiro Bianchini, farmacêutico formado, “Farmácia N. S. das Graças” que hoje [1987] pertence ao seu filho Dr. Luiz Carlos Bianchini, também farmacêutico e bioquímico, respectivamente esposo e filho da escritora Suzana Scóss Bianchini, autora do livro “Recordando São Joaquim”.

De: Rui Vieira
Rede Farmácias Pinheiro Ltda.
        Farmácia Popular Ltda. – Clovis Debetio.
        Farmácia São João Ltda. – João de Oliveira Neto.

Figura 1 - Dr. Newton Vieira Ramos. Fonte: Blumenau em Cadernos, 1987, p. 228.


Referência



[1] Estafeta: portador de despachos, encomendas, cartas, que faz a entrega a cavalo. Funcionário de empresa postal, encarregado de distribuir a correspondência; carteiro.




[i] Agradecemos a Luís Fernando Marques Dorvillé, que nos enviou por e-mail (junho de 2018) o arquivo digitalizado.
NERCOLINI, Maria Batista. Histórico da cidade de São Joaquim e os costumes de seu povo. In: Blumenau em Cadernos, TOMO XXVIII/6 – Junho de 1987, edição 366, pp. 226-229. Digitalizado pelo Arquivo Histórico José Ferreira da Silva, Blumenau, SC. Disponível em: http://hemeroteca.ciasc.sc.gov.br/blumenau%20em%20cadernos/1987/BLU1987006.pdf. 


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